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CRÍTICA DRAMA
Peça perde sutileza do texto de Bosco Brasil
Montagem de "Blitz" se torna óbvia ao explicitar gestos de personagens e aspectos já consagrados do dramaturgo
LUIZ FERNANDO RAMOS
CRÍTICO DA FOLHA
Uma dramaturgia que radiografa o cotidiano. "Blitz",
de Bosco Brasil, parte de fato
corriqueiro para explorar o
que é obscuro na ação humana. Expõe o inferno íntimo de
um soldado da Polícia Militar
acusado de matar um menino de 12 anos.
Escrita em 2002, especialmente para uma mostra de
novos textos de autores brasileiros, a peça é encenada
agora por Ivan Sugahara de
forma reverencial, buscando
valorizar as características
marcantes do autor.
Bosco Brasil é um dos dramaturgos mais coerentes de
sua geração. Desde sua estreia em 1994, com "Budo",
sua obra tem se mantido focada em temas da realidade
que possam permitir, de forma concisa e contundente,
desvelar sob a pele da banalidade uma dimensão poética.
É um projeto humanista
que dialoga com a tradição
do drama moderno. Mesmo
sem pretender invenções formais, a arquitetura de sua
curva dramática é sempre sutil, repleta de espaços vazios
e breques nos diálogos.
EXCESSO DE LUZ
Em "Blitz", não é diferente. Há uma unidade clara na
ação localizada na casa do
cabo Rosinha, o PM que a imprensa culpou pela morte do
aluno de uma escola periférica durante uma batida policial. Sua mulher o espera para o jantar e é do encontro
dos dois que emerge o desenvolvimento dramático.
A direção de Sugahara
preocupou-se mais em evidenciar os aspectos já consagrados dos textos de Brasil
do que em deixar que falassem por si.
Assim, utilizando-se da
luz, que pontua excessivamente todo espetáculo, e de
gestos e movimentos dos atores, também hipermarcados,
o diretor quase realiza para o
público a leitura que o dramaturgo esperaria que este
fizesse sem mediação. O que
era sutileza torna-se obviedade e a força de poema dramático do texto se perde.
Essa opção repercute também no trabalho dos atores,
que, oscilando entre interpretar de forma naturalista
ou estilizada, deixam claro
em atos e omissões sua preocupação em indicar riquezas
submersas, como se elas não
pudessem emergir na simples enunciação.
Esse excesso que compromete a encenação aparece
com mais nitidez no trabalho
artificialmente contido de Janaína Ávila. Ela, que é também a produtora, faz a mulher do cabo Rosinha.
"Blitz" é um espetáculo esforçado, que merece alguma
atenção por colocar de pé a
bem escrita peça de um autor
nacional importante. Mas
não vai muito além disso.
BLITZ
QUANDO sex. e sáb., às 21h; dom.,
às 20h; até 15/8
ONDE Centro Cultural São Paulo
(r. Vergueiro, 1.000, Paraíso, tel.
0/xx/11/3397-4002)
QUANTO R$ 20
CLASSIFICAÇÃO 12 anos
AVALIAÇÃO regular
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