São Paulo, quarta-feira, 04 de agosto de 2010

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CRÍTICA DRAMA

Peça perde sutileza do texto de Bosco Brasil

Montagem de "Blitz" se torna óbvia ao explicitar gestos de personagens e aspectos já consagrados do dramaturgo

LUIZ FERNANDO RAMOS
CRÍTICO DA FOLHA

Uma dramaturgia que radiografa o cotidiano. "Blitz", de Bosco Brasil, parte de fato corriqueiro para explorar o que é obscuro na ação humana. Expõe o inferno íntimo de um soldado da Polícia Militar acusado de matar um menino de 12 anos.
Escrita em 2002, especialmente para uma mostra de novos textos de autores brasileiros, a peça é encenada agora por Ivan Sugahara de forma reverencial, buscando valorizar as características marcantes do autor.
Bosco Brasil é um dos dramaturgos mais coerentes de sua geração. Desde sua estreia em 1994, com "Budo", sua obra tem se mantido focada em temas da realidade que possam permitir, de forma concisa e contundente, desvelar sob a pele da banalidade uma dimensão poética.
É um projeto humanista que dialoga com a tradição do drama moderno. Mesmo sem pretender invenções formais, a arquitetura de sua curva dramática é sempre sutil, repleta de espaços vazios e breques nos diálogos.

EXCESSO DE LUZ
Em "Blitz", não é diferente. Há uma unidade clara na ação localizada na casa do cabo Rosinha, o PM que a imprensa culpou pela morte do aluno de uma escola periférica durante uma batida policial. Sua mulher o espera para o jantar e é do encontro dos dois que emerge o desenvolvimento dramático. A direção de Sugahara preocupou-se mais em evidenciar os aspectos já consagrados dos textos de Brasil do que em deixar que falassem por si.
Assim, utilizando-se da luz, que pontua excessivamente todo espetáculo, e de gestos e movimentos dos atores, também hipermarcados, o diretor quase realiza para o público a leitura que o dramaturgo esperaria que este fizesse sem mediação. O que era sutileza torna-se obviedade e a força de poema dramático do texto se perde.
Essa opção repercute também no trabalho dos atores, que, oscilando entre interpretar de forma naturalista ou estilizada, deixam claro em atos e omissões sua preocupação em indicar riquezas submersas, como se elas não pudessem emergir na simples enunciação.
Esse excesso que compromete a encenação aparece com mais nitidez no trabalho artificialmente contido de Janaína Ávila. Ela, que é também a produtora, faz a mulher do cabo Rosinha. "Blitz" é um espetáculo esforçado, que merece alguma atenção por colocar de pé a bem escrita peça de um autor nacional importante. Mas não vai muito além disso.


BLITZ

QUANDO sex. e sáb., às 21h; dom., às 20h; até 15/8
ONDE Centro Cultural São Paulo (r. Vergueiro, 1.000, Paraíso, tel. 0/xx/11/3397-4002)
QUANTO R$ 20
CLASSIFICAÇÃO 12 anos
AVALIAÇÃO regular




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