São Paulo, segunda, 4 de agosto de 1997.



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FOTOGRAFIA
Duas mostras na cidade trazem o trabalho da fotografa de 83 anos, considerada a Cartier-Bresson local
Fotos captaram ruas da N.York antiga

ADRIANE GRAU
em Nova York

Aos 23 anos Helen Levitt teve um breve encontro com Henri Cartier-Bresson, o mestre da fotografia francesa que estava de passagem por Nova York em 1937.
Impressionada tanto pelo homem quanto por sua obra, decidiu começar a fotografar.
"Pensei que se ele podia ser tão bom no que fazia, eu também seria capaz", diz ela.
Suas imagens singelas de cenas do cotidiano em vizinhanças pobres de Manhattan logo chamaram a atenção dos curadores de museus na cidade. Já em 1943, expôs pela primeira vez no MOMA (Museu de Arte Moderna).
Munida de uma discreta e silenciosa câmera Leica com visor de ângulo alterado, ela conseguiu captar a maior parte de suas imagens espontâneas sem atrair a atenção do objeto de sua lente. Afinal, parecia que ela estava apontando a câmera para outra direção.
Nascida no Brooklyn e atualmente morando no East Village, ela é alvo de duas retrospectivas em cartaz na cidade.
"Helen Levitt: Crosstown" mostra seu trabalho realizado entre os anos 30 e 70 no International Center of Photography Midtown (ICP) até 7 de setembro.
E, na galeria Laurence Miller, no SoHo, a mostra "Vintage New York 1939 - 1945" fica em cartaz até dia 27 de agosto.
Em suas imagens fica clara a evolução das comunidades de Manhattan, que vão se degradando aos poucos.
O preto e branco cede lugar à cor dos anos 70, quando as imagens poéticas parecem ser mais raras.
A voz firme da senhora de 83 anos, que nunca se casou e não tem filhos, atende o telefone e avisa à reportagem da Folha que não dá entrevistas.
"Mas podemos conversar um pouco, queridinha", diz ela. "Ligue novamente daqui a 15 minutos, quando eu tiver terminado de jantar".
Na segunda vez em que diz alô, avisa que está ficando surda e pede que as próximas perguntas sejam feitas em voz alta.
Folha - Alguma vez as pessoas reagiram mal ao ver a câmera apontada para elas?
Helen Levitt -
Naquela época as pessoas nem sabiam o que era uma câmera. Nunca tive problemas. No máximo, me pediam uma cópia da foto e, quando era possível, eu atendia ao pedido.
Folha - Sua câmera é bastante pequena e isso deve ter facilitado o trabalho de captar espontaneidade.
Levitt -
Com certeza. Hoje em dia uso também uma Contax supercompacta. Mas os tempos mudaram e as pessoas pensam que sou uma espiã ou algo assim.
Folha - Ainda é possível captar cenas tão singelas na frenética Nova York de final de século?
Levitt -
Na verdade, as pessoas não ficam nas ruas como naquela época. Não havia ar condicionado, então todos ficavam sentados nas portas dos prédios e nas calçadas. As crianças brincavam nas ruas porque não tinham televisão. Não vejo mais nada disso por aí.
Folha - Um de seus livros mostra apenas desenhos feitos pelas crianças com giz no asfalto. Por que tanto interesse nisso?
Levitt -
Porque eu sabia que a chuva ia destruir tais trabalhos em breve e eu queria impedir que desaparecessem. Naquela época, as crianças levavam giz da sala de aula para casa, daí os desenhos.
Folha - A senhora gosta das câmeras eletrônicas feitas atualmente?
Levitt -
Não me interesso por esses utensílios eletrônicos. Nada substitui uma câmera simples com lente única.



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