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FOTOGRAFIA
Duas mostras na cidade trazem o trabalho da fotografa de 83 anos, considerada a Cartier-Bresson local
Fotos captaram ruas da N.York antiga
ADRIANE GRAU
em Nova York
Aos 23 anos Helen Levitt teve um
breve encontro com Henri Cartier-Bresson, o mestre da fotografia francesa que estava de passagem por Nova York em 1937.
Impressionada tanto pelo homem quanto por sua obra, decidiu
começar a fotografar.
"Pensei que se ele podia ser tão
bom no que fazia, eu também seria
capaz", diz ela.
Suas imagens singelas de cenas
do cotidiano em vizinhanças pobres de Manhattan logo chamaram
a atenção dos curadores de museus na cidade. Já em 1943, expôs
pela primeira vez no MOMA (Museu de Arte Moderna).
Munida de uma discreta e silenciosa câmera Leica com visor de
ângulo alterado, ela conseguiu
captar a maior parte de suas imagens espontâneas sem atrair a
atenção do objeto de sua lente. Afinal, parecia que ela estava apontando a câmera para outra direção.
Nascida no Brooklyn e atualmente morando no East Village,
ela é alvo de duas retrospectivas
em cartaz na cidade.
"Helen Levitt: Crosstown" mostra seu trabalho realizado entre os
anos 30 e 70 no International Center of Photography Midtown (ICP)
até 7 de setembro.
E, na galeria Laurence Miller, no
SoHo, a mostra "Vintage New
York 1939 - 1945" fica em cartaz até
dia 27 de agosto.
Em suas imagens fica clara a evolução das comunidades de Manhattan, que vão se degradando
aos poucos.
O preto e branco cede lugar à cor
dos anos 70, quando as imagens
poéticas parecem ser mais raras.
A voz firme da senhora de 83
anos, que nunca se casou e não
tem filhos, atende o telefone e avisa à reportagem da Folha que não
dá entrevistas.
"Mas podemos conversar um
pouco, queridinha", diz ela. "Ligue novamente daqui a 15 minutos, quando eu tiver terminado de
jantar".
Na segunda vez em que diz alô,
avisa que está ficando surda e pede
que as próximas perguntas sejam
feitas em voz alta.
Folha - Alguma vez as pessoas
reagiram mal ao ver a câmera
apontada para elas?
Helen Levitt - Naquela época as
pessoas nem sabiam o que era uma
câmera. Nunca tive problemas. No
máximo, me pediam uma cópia da
foto e, quando era possível, eu
atendia ao pedido.
Folha - Sua câmera é bastante
pequena e isso deve ter facilitado
o trabalho de captar espontaneidade.
Levitt - Com certeza. Hoje em
dia uso também uma Contax supercompacta. Mas os tempos mudaram e as pessoas pensam que
sou uma espiã ou algo assim.
Folha - Ainda é possível captar
cenas tão singelas na frenética Nova York de final de século?
Levitt - Na verdade, as pessoas
não ficam nas ruas como naquela
época. Não havia ar condicionado,
então todos ficavam sentados nas
portas dos prédios e nas calçadas.
As crianças brincavam nas ruas
porque não tinham televisão. Não
vejo mais nada disso por aí.
Folha - Um de seus livros mostra
apenas desenhos feitos pelas
crianças com giz no asfalto. Por
que tanto interesse nisso?
Levitt - Porque eu sabia que a
chuva ia destruir tais trabalhos em
breve e eu queria impedir que desaparecessem. Naquela época, as
crianças levavam giz da sala de aula para casa, daí os desenhos.
Folha - A senhora gosta das câmeras eletrônicas feitas atualmente?
Levitt - Não me interesso por
esses utensílios eletrônicos. Nada
substitui uma câmera simples com
lente única.
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