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VÍDEO LANÇAMENTOS
Guerra na Irlanda
gera épico e thriller
Liam Neeson interpreta o personagem-título em "Michael Collins", que está sendo lançado em vídeo
JOSÉ GERALDO COUTO
especial para a Folha
A questão irlandesa -especialmente a luta armada contra a dominação britânica- virou quase
um gênero à parte no cinema recente.
Dois filmes que chegam agora ao
vídeo -"Inimigo Íntimo", de
Alan J. Pakula, e "Michael Collins", de Neil Jordan- não instruem muito o espectador sobre o
assunto, mas ilustram os diversos
usos que o cinema pode fazer de
um tema histórico.
As diferenças entre os dois começam no recorte cronológico.
"Michael Collins" situa-se nas décadas de 10 e 20; "Inimigo Íntimo"
é ambientado nos dias de hoje, em
que, já conquistada a independência da República da Irlanda, luta-se para libertar a Irlanda do
Norte do domínio inglês.
Mais significativas são as diferenças de abordagem. "Michael
Collins" é um melodrama épico
sobre a fundação do Exército Republicano Irlandês (IRA) e os sangrentos primórdios da autonomia
do país.
Concentra-se, obviamente, no
personagem-título, criador do
IRA e comandante das primeiras
ações armadas do movimento.
Graças à direção consistente de
Neil Jordan e à atuação vigorosa de
Liam Neeson, o filme consegue dar
relevo humano ao personagem e
ao mesmo tempo traçar um painel
convincente -ainda que superficial- das lutas fratricidas no seio
do movimento republicano.
O principal problema, aqui, é a
descabida importância dada ao
triângulo amoroso entre Collins,
seu parceiro de armas Harry Boland (Aidan Quinn) e a bela Kitty
Kiernan (Julia Roberts) como fator de cisão do movimento.
Jordan, que já abordara a questão irlandesa em "Traídos pelo
Desejo", sucumbiu aqui à visão
hollywoodiana da história, segundo a qual são as paixões de alguns
indivíduos excepcionais que movem o mundo.
Em "Inimigo Íntimo" essa tendência se acentua ainda mais. A rigor, o filme de Alan Pakula usa a
Irlanda como mero pretexto para
um thriller sentimental.
O que interessa a essa superprodução americana é colocar frente a
frente dois astros de gerações distintas: Brad Pitt e Harrison Ford. O
primeiro interpreta um jovem terrorista do IRA que vai aos EUA
buscar armas e acaba se envolvendo com um policial veterano
(Ford), imigrante irlandês e pacifista de carteirinha.
O que o filme encena é mais uma
conflituosa relação pai-filho entre
os dois, entremeada com os costumeiros tiros e perseguições, do que
um enfrentamento de posições sobre a guerra civil irlandesa.
O tema é esvaziado de qualquer
dimensão política: o rapaz só virou
terrorista porque viu seu pai ser
assassinado. O ideal hollywoodiano está aí: o coletivo sumiu, resta
apenas o herói solitário.
Filme: Michael Collins - O Preço da
Liberdade
Produção: Irlanda, 1996, 133 min.
Direção: Neil Jordan
Com: Liam Neeson, Julia Roberts, Stephen
Rea, Alan Rickman, Aidan Quinn
Lançamento: Warner (tel. 011/820-6777)
Filme: Inimigo Íntimo
Produção: EUA, 1997, 107 min.
Direção: Alan J. Pakula
Com: Brad Pitt, Harrison Ford, Margaret
Colin, Ruben Blades, Treat Williams
Lançamento: Columbia (tel.
011/5585-3836)
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