São Paulo, quarta-feira, 04 de setembro de 2002

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OUTRA FREQUÊNCIA

O rádio faz oito ou 80 anos no sábado?

LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

É no próximo sábado o aniversário de 80 anos da primeira transmissão de rádio no Brasil. E a festa estará dividida. De um lado, os que vão cantar parabéns para relembrar as palavras chiadas do então presidente Epitácio Pessoa, levadas ao ar no Dia da Independência. De outro, os que acham que não há muito o que comemorar.
De que lado ficar? O jeito é perguntar a quem entende do assunto. Para isso, esta coluna fez a três nomes importantes do setor a mesma pergunta: A rádio no Brasil está mais para oito ou 80 anos?
A visão mais otimista, para começar, é a de Antonio Rosa Neto, presidente do Grupo dos Profissionais de Rádio. Para ele, a rádio está mais para "80 anos, por tudo o que já conquistou, mas com corpinho de oito, pelas perspectivas de crescimento do mercado".
"A sociedade moderna demonstra que estamos vivendo muito tempo fora de casa. Neste contexto, o rádio é resgatado como a única mídia que acompanha as pessoas nas diversas atividades. A audiência cresce e, hoje, 30% dela é fora do domicílio, o que caracteriza a mobilidade do meio. Assim, houve uma retomada no investimento publicitário."
Essa euforia do mercado é a base da crítica de Chico Lobo, militante do movimento de rádios comunitárias. "O rádio -alavancado por uma economia de mercado que sucumbe a qualquer iniciativa do uso dessa mídia como veículo de preservação da identidade cultural- sobrevive por ser o meio mais eficaz de comunicação na sociedade moderna."
Como pontos negativos, Lobo cita ainda os "sucessos criados por rádios que aceitam jabaculês de gravadoras" e critica até mesmo as comunitárias. "Elas estão indo para o mesmo caminho. A maioria está nas mãos de empresas religiosas, quitandeiros radiofônicos e políticos demagogos."
Nem lá nem cá está Nélia Del Bianco, professora de rádio na Universidade de Brasília. Ela acredita que o rádio tenha a maturidade dos 80 anos, "pela credibilidade e popularidade conquistadas", e a imaturidade dos oito, "por não ter repensado seu papel social ao longo de todos esses anos".
"O rádio se firmou como prestador de serviço e é uma referência em lazer. No entanto, está estagnado em fórmulas de sucesso de audiência e não consegue renovar seu papel. Isso congelou as programações, que não deixam espaço para a cidadania."
Pelo visto, no aniversário dos 80 anos da rádio no Brasil, dá para escolher qualquer um dos lados. Ou nenhum dos dois. Foi uma tentativa. Pelo menos os ouvintes não ficam fora da festa.

laura@folhasp.com.br



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