São Paulo, quinta-feira, 04 de setembro de 2008

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NINA HORTA

A minha mestra indiana


Tinha uma frigideirinha onde colocava a massa aberta, e o pão chato ia crescendo como um sapo, criando manchas

JURO QUE é a última vez que falo sobre os jantares étnicos da Carla Pernambuco no Studio 768. Estou parecendo assessora de imprensa deles. É que me atropelei, foi um jantar depois do outro e deixei de lado a comida indiana, da minha mestra Meeta Ravindra.
Lembro-me que, quando soube das aulas dela, há uns 25 anos, fiquei curiosa, tanta novidade para alguém que começava a se interessar profissionalmente por cozinha. Conhecer uma indiana de verdade, de pinta na testa e sari, que tentação. Era em São Bernardo, mas lá fui eu e...
Nunca mais a deixei.
Dava as aulas em casa, no meio dos filhos muito comportados, fazia os chapatis todos os dias para a família e para o marido Ravindra, que só comia a comida dela. Tinha uma frigideirinha preta onde colocava a massa aberta com um rolo fino, e o pão chato ia crescendo como um sapo, criando manchas pretas, ficava redondo e depois com um suave pluft baixava, mas tinha desenvolvido duas camadas que se podiam rechear, como um pão sírio mais fino.
Tão fácil que era inacreditável.
Chegada a nossa vez de trabalhar, era um desastre, a começar pela massa que não arredondava, mas tomava forma de um continente qualquer, como a América do Sul, ou a Austrália, jamais redondo. E depois inchava, mas estourava antes de estar pronto, uma verdadeira luta.
Só que aquilo durou meses, os cheiros foram entrando pelo nosso nariz e colando no cérebro, era uma comida simples, como numa casa mineira. Um arroz muito gostoso, uma lentilha que substituiria o feijão, bolinho frito, legume e, geralmente, frango. As variações infinitas vinham da caixa de temperos que ela trazia da Índia ou mandava buscar.
E, como crianças, ouvíamos a história romântica de seu casamento.
Mocinha, e os pais procurando um par para que ela se casasse. Emoção, risadas com as amigas, olhadas furtivas pela cortina entreaberta quando chegavam candidatos e nenhuma estranheza. Era assim que se fazia e pronto. Um dia, Ravindra foi o escolhido (aquele que comeria milhares de chapatis pela vida afora), e a descrição do casamento caberia em qualquer filme de Bollywood. As roupas brilhantes, a pintura do rosto e daí viveram felizes para sempre.
Outra coisa que aprendemos foi a colher mangas verdes que ainda não tivessem o caroço formado para fazer um chutney estranho, com gosto de éter, mas delicioso. E jaca verde, que era um substituto de carne, e você nunca reconheceria a fruta feita num curry grossinho.
Depois a dificuldade de achar o neem, a folha do curry, que é uma folhinha posta na mistura de condimentos que fazem o curry. Só havia uma árvore em São Paulo, na casa de mrs. Pillay, que dera uma mudinha raquítica para Meeta. Hoje, filhos daquela árvore já existem muito em São Paulo, mas a comida indiana, para falar a verdade, só da Meeta...
Façam o facílimo e cheiroso arroz.

Pullao
Arroz com cravo, louro e manteiga
Rendimento: 8 a 10 pessoas
Ingredientes: 400 g (ou 2 xícaras de chá) de arroz agulhinha; 1 e 1/2 xícara de chá de água; 100 g de manteiga sem sal ou ghee; 1 pau de canela; 1 folha de louro; 4 cravos da Índia; 6 pimentas-do-reino em grãos.
Preparo: 1. Lave o arroz e deixe escorrer a água por completo; 2. Esquente na panela de pressão a manteiga ou ghee, junte canela, louro, cravos e pimenta-do-reino; 3. Frite por alguns segundos. 4. Acrescente o arroz, o sal e a água fervente, até mais ou menos 1 cm acima do arroz. Mexa com a colher de pau e tampe. Quando der pressão, tire o pino da tampa e espere sair o vapor. 6. Coloque o pino e marque o tempo de sete minutos. 7. Desligue o fogo e deixe a pressão sair sozinha. Querem aulas ou jantares? Tel. 0/xx/11/4339-2134 ou e-mail: meetaravindra@meetaravindra.com.

ninahorta@uol.com.br



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