São Paulo, quinta-feira, 04 de setembro de 2008

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COMIDA

Crítica

Infiltrado entre as cantinas do Bexiga, Amazônia traz de volta sabores do Norte

JOSIMAR MELO
CRÍTICO DA FOLHA

Há quatro anos, São Paulo não tinha nenhum restaurante com a cozinha da Amazônia -justamente a desta região que alguns dos maiores chefs do mundo apontam como o berço da culinária do futuro, mas que ainda é menosprezada no Brasil, por variados motivos. Pois agora o paraense Paulo Leite, que já teve duas casas dessa especialidade aqui, volta à carga. Ex-proprietário dos finados Tucupi e Carimbó, ele inaugurou há um mês o Amazônia, no Bexiga, infiltrado entre as tradicionais cantinas do bairro, com a missão de mostrar aos paulistanos que, apesar da vizinhança, molho ao sugo não é caldo de tucupi. Leite, 53, é ator e está em São Paulo desde 1978, onde vem misturando sua profissão com a de restaurateur. Abriu o Tucupi em 1995, fechou-o em 2002, quando abriu o Carimbó, na mesma rua Bela Cintra, e vendeu a casa (que depois fechou) em 2004. Agora no Amazônia ele volta com a mesma proposta singela: apenas mostrar a cozinha da sua região. Não há invenções ou reinterpretações, não há cardápio imenso (o que cria algumas lacunas): mas o que há vale a visita. São sucos e batidas de frutas como cajá e cupuaçu; um reconfortante caldinho de caranguejo (pode ser também de piranha); o intenso e revigorante tacacá (com tudo a que tem direito: caldo de tucupi, goma de mandioca, folhas e folhas de jambu, camarão seco); peixes como pirarucu e tambaqui (deste, embora seja oferecida a costelinha, o que vem é um filé), preparados na chapa; a maniçoba (carnes de porco e bovina na pasta de folhas de mandioca); e, claro, pato no tucupi. O lugar é simples, despojado, com salão dividido por meio-piso, um balcão na entrada, o chão pintado de verde como as matas de lá. A comida recende autenticidade, embora nas mãos de um chef habilidoso talvez sofresse uns retoques -por exemplo, tanto no tacacá quanto no pato ao tucupi, a presença do jambu, com seu característico sabor e efeito "anestésico", é tão intensa que mascara outros sabores. Entre as sobremesas, toda a atenção aos sorvetes é pouca. De milho, de tapioca, de açaí, de taperebá, entre outros, são uma explosão de gosto brasileiro na boca. Sabores bem-vindos de volta.

josimar@basilico.com.br

AMAZÔNIA
Avaliação:  
Endereço: r. Rui Barbosa, 206, Bela Vista, tel. 0/xx/ 11/ 2142-9264
Funcionamento: ter. a sex., das 19h às 23h30; sáb., das 12h às 16h e das 19h às 23h30; dom., das 12h às 16h
Ambiente: simples e decente. Um salão com dois pisos, bar na entrada, muito verde... na pintura
Serviço: é bem disposto e esforça-se por explicar os pratos
Vinhos: dizem estar ainda fazendo a carta. Por enquanto são apenas dois...
Cartões: todos
Estacionamento: não
Preços: entradas, R$ 9 a R$ 17; pratos principais, R$ 24 a R$ 46 (para duas pessoas);
sobremesas, R$ 6,50 a R$ 15


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