São Paulo, quinta-feira, 04 de setembro de 2008

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Idosos garantem ingressos de filhos, netos e "família"

DA REPORTAGEM LOCAL

"Meus netos estavam me enchendo o saco com isso!", reclama Antônio Salerno, após comprar três ingressos no Credicard Hall. "Sou aposentado, mas ainda trabalho. É o Brasil", afirma.
Aos 84 anos, com direito a escapar da fila, Salerno calcula ter gasto "uma meia hora, entre estacionar o carro, chegar à bilheteria e pagar".
Cícero Augusto de Oliveira, 66, aponta não a idade, mas sim as pernas deficientes como a razão para o atendimento preferencial. Roupas simples, diz que é "vendedor" e que adquiriu seis ingressos (a R$ 250 cada um) para ele "e a família". A reportagem pede seu telefone, para ouvi-lo depois do show, e ele nega. "Está quebrado." Os números dos filhos que irão acompanhá-lo diz não saber "nenhum, acredita?".
"Se não fossem os pais para ajudar os filhos...", disse o advogado aposentado Emerson Vieira, 68, à filha Heloísa Di Giorgi, 32, por quem ele ficou cinco horas na fila.
Heloísa é publicitária e tem "paixão por Madonna desde pequena". À 0h de quarta, conectou-se à internet. Sem conseguir realizar a compra, decidiu ir pessoalmente ao Ibirapuera, à tarde.
Lá, havia dez guichês disponíveis e numerosa presença de idosos, que concentravam a maioria dos atendimentos. Compradores jovens que estavam havia horas na fila, sob o sol, passaram a gritar insultos aos idosos na bilheteria -"Vergonha!", "Inescrupuloso!"- e às mulheres com crianças de colo -"Vagabunda!".
Indiferente aos protestos, Heloísa chamou seu pai para a fila e permaneceu ao lado dele. "Foi uma saga. Tô quebrada. Não almocei, não tomei café, nada. Mas tô muito feliz", disse, ao voltar para casa -com o pai e o ingresso.


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