São Paulo, sexta-feira, 04 de setembro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Crítica/"O Sequestro do Metrô 1 2 3"

Longa tem cacoetes de Tony Scott e caricatura de vilão de John Travolta

RICARDO CALIL
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

"O Sequestro do Metrô 1 2 3" é um filme com tiques nervosos. Na direção do inglês Tony Scott, eles se traduzem em uma câmera que tremelica logo antes e depois dos cortes. Na atuação de John Travolta, um dos protagonistas, eles assumem a forma de uma caricatura de vilão, com rompantes histéricos. Não são movimentos involuntários, como os tiques nervosos comuns, mas quase: é como se Scott e Travolta já não soubessem fazer cinema sem seus cacoetes.
Refilmagem de uma produção de mesmo nome dirigida em 1974 por Joseph Sargent e baseada num livro de John Godey, "O Sequestro do Metrô 1 2 3" é um thriller urbano em que o cenário é um dos protagonistas. Na Nova York de hoje, um criminoso que se identifica como Ryder (Travolta) lidera uma gangue que sequestra um vagão de metrô, exige um resgate de US$ 10 milhões no prazo de uma hora e ameaça matar um passageiro por minuto de atraso. Ryder elege como seu interlocutor o controlador de tráfego Walter (Denzel Washington, no piloto automático, mas longe do "overacting" de Travolta), e o duelo verbal entre os dois é a base do filme.
Se a produção original era um exercício de ação pura, que inspirou "Cães de Aluguel" (1992), de Tarantino, a refilmagem de Scott quer ser um entretenimento com algo a dizer sobre seu tempo. Por isso, os protagonistas ganharam novas características: Walter não é um funcionário exemplar, mas um homem abalado pela acusação de receber suborno; Ryder não é um mercenário comum, mas um criminoso que checa pela internet as cotações de seus investimentos em meio ao sequestro. É como se os verdadeiros bandidos de nossa época pós-crash fossem os terroristas de mercado, e não os criminosos patológicos do passado.
Mas fazer um thriller urbano com uma reflexão desse calibre exige um cineasta com mais estofo, como Spike Lee em "O Plano Perfeito" (2006). Scott parece um cineasta parado nos excessos publicitários e videoclipeiros dos anos 80, em algum ponto entre "Top Gun" (1986) e "Dias de Trovão" (1990).


O SEQUESTRO DO METRÔ 1 2 3

Direção: Tony Scott
Produção: EUA/Reino Unido, 2009
Com: John Travolta
Onde: ABC Plaza Shopping, Cidade Jardim, Bristol e circuito
Classificação: 14 anos
Avaliação: ruim




Texto Anterior: Cinema/Estreias/Crítica/ "Up - Altas Aventuras": Lágrimas norteiam ótima animação
Próximo Texto: 66º Festival de Veneza: Viggo Mortensen encara apocalipse
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.