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CINEMA/ESTREIAS
Crítica/ "Up - Altas Aventuras"
Lágrimas norteiam ótima animação
"Up - Altas Aventuras" segue a viagem do velhinho Carl Fredricksen e seu fiel escudeiro, o atrapalhado garoto Russell
SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA
"Agora me deixa chorar", disse um menino ao seu pai, na
plateia repleta de crianças da
pré-estreia em que a Folha assistiu a "Up - Altas Aventuras".
Era um singelo pedido de autorização, combinado ao reconhecimento instintivo de que o
filme, já em seus primeiros minutos, informa que lágrimas fazem parte do pacote, sem prejuízo da diversão.
Elas estão presentes porque,
de forma incomum no cinema
infantil, o envelhecimento, a
morte e a saudade de quem se
foi estruturam a história de um
menino encantado com as
proezas de um explorador.
Quando se torna adulto, no entanto, o sonho de levar uma vida aventureira como a de seu
ídolo dá lugar a compromissos
e obrigações da sobrevivência.
Por mais convencional que
seja a rotina de alguém, sempre
há tempo para acertar dívidas
com os desejos do passado, sugere o filme. Assim, o menino
terá a oportunidade, já na velhice, de se aproximar -bem
mais do que imagina, por sinal- dos planos mirabolantes
que traçou quando jovem, sob a
inspiração do tal explorador.
Há algo do intrépido Phileas
Fogg (David Niven) de "A Volta
ao Mundo em 80 Dias" (1956)
em Carl Fredricksen, o velhinho de "Up". Por sua vez, o espírito de Passepartout (Cantinflas), assistente de Fogg, é revivido em parte pelo menino
Russell, atrapalhado escudeiro
de Fredricksen em sua jornada.
Mas, como nem mesmo os
personagens de Jules Verne
(autor do romance que inspirou "Volta ao Mundo") poderiam imaginar, Fredricksen leva a própria casa na bagagem. A
materialização dessa fantasia
lembra "O Castelo Animado"
(2004), de Miyazaki, também
baseado no princípio da mobilidade surreal de um imóvel.
Outra coluna vertebral da
história, relacionada à figura
do explorador, vem do romance "O Mundo Perdido" (1912),
de Arthur Conan Doyle, sobre
um professor desafiado por um
colega a provar sua tese de que
uma região da Amazônia ainda
abrigaria seres pré-históricos.
Primeiro filme de animação
a abrir (em versão 3D) o Festival de Cannes, "Up" não é propriamente infantil. O conceito
que o orienta é o de "filme para
a família", muito bem trabalhado pela produtora Pixar antes
mesmo de sua incorporação
pelo grupo Disney, sempre empenhado na formatação de produtos para consumo simultâneo de crianças e adultos.
Aqui, a habitual excelência
da Pixar em animação digital é
coordenada pelos diretores e
roteiristas Pete Docter (diretor
de "Monstros S.A." e argumentista de "WALL-E") e Bob Peterson (roteirista de "Procurando Nemo"), com a colaboração no argumento de Thomas
McCarthy, diretor de "O Agente da Estação" (2003).
As lágrimas que o menino da
pré-estreia avisou que derramaria, sem culpa, a partir de
hoje talvez venham com mais
intensidade dos adultos da sala.
UP - ALTAS AVENTURAS
Direção: Pete Docter e Bob Peterson
Produção: EUA, 2009
Onde: Bristol (em 3D), Eldorado
(em 3D), Marabá, Penha e circuito
Classificação: livre
Avaliação: ótimo
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