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CRÍTICA CONTOS
Histórias de Rubén Darío atacam a estupidez burguesa
Pouco lido no Brasil, autor nicaraguense revela refinamento em "Azul..."
NELSON DE OLIVEIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA
Na história da literatura latino-americana, a palavra
"modernismo" nomeia movimentos diferentes, provocando certa confusão.
Uma coisa foi o modernismo hispano-americano; outra, o brasileiro, 30 e tantos
anos depois.
Ambos afirmavam que as
formas tradicionais precisavam ser substituídas.
Porém, enquanto para os
autores do primeiro grupo o
tradicional era a escola romântica, para os do segundo
eram as tendências simbolistas e as parnasianas.
No Brasil, com a Semana
de 22, o coloquialismo de Manuel Bandeira e o futurismo
de Oswald e Mário de Andrade deram o tom.
Na América espanhola,
com a publicação de
"Azul..." (1888), do nicaraguense Rubén Darío (1867-1916), a nova diretriz foi o esteticismo simbolista e parnasiano.
Isso criou um ruído anacrônico: para nosso ouvido
modernista, o modernismo
de Darío soava um tanto
quanto passadista.
Essa confusão terminológica talvez explique o desinteresse brasileiro pela obra
do maior nome do modernismo hispano-americano.
Além de alguns poemas publicados em revistas especializadas, difíceis de encontrar,
aqui não há nada de Rubén
Darío ao alcance da mão e
dos olhos.
Melhor dizendo, quase nada. Agora há uma excelente
coletânea de contos.
SENSIBILIDADE
A edição brasileira de
"Azul..." traz 13 contos breves -diferente das edições
em espanhol, que reúnem essas narrativas e poemas.
São fábulas, mitos, "aquarelas" e "águas-fortes" divertidos e envolventes, povoados de referências greco-latinas e orientais.
Parece pouco, mas é preciso dizer que, ao longo das décadas, evaporou-se a transgressão guerreira que havia
nesses contos. As ousadias
estilísticas foram suavizadas.
No prefácio, o crítico André Fiorussi alerta: "Muito do
que provocou escândalo na
época tornou-se depois procedimento comum na língua
e na literatura".
Essa suavização aconteceu também com Victor Hugo e Gustave Flaubert, autores prediletos de Darío.
A sensibilidade refinada é
a protagonista dos contos.
Ela aparece sempre corporificada, na pele de um poeta, um artista plástico ou um
filósofo. E sempre sucumbe
diante da grosseria geral.
Em "O Rei Burguês", um
pobre poeta morre ignorado
e congelado, vítima de uma
paradoxal instituição: uma
burguesia aristocrática afetada e estúpida.
Em "O Sátiro Surdo", um
asno filósofo é obrigado a
servir um sátiro surdo e, de
novo, afetado e estúpido.
Em toda parte a cultura refinada é sacrificada no altar
da burguesia ascendente.
NELSON DE OLIVEIRA é autor de "Poeira:
Demônios e Maldições" (Língua Geral)
AZUL...
AUTOR Rubén Darío
EDITORA Demônio Negro/
Annablume
TRADUÇÃO Marcelo Barbão
QUANTO R$ 48 (140 págs.)
AVALIAÇÃO ótimo
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