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Ruy Castro e Heloisa Seixas narram vida 'globetrotter'
'Terramarear' traz textos sobre viagens a lugares por onde passaram ícones do século 20,
como Humphrey Bogart e Marilyn Monroe
PAULO WERNECK
EDITOR DA ILUSTRÍSSIMA
Entre as muitas estantes de livros que forram as paredes do apartamento de Ruy Castro, na
esquina da avenida Delfim Moreira com a rua General Artigas, no Leblon, há uma que vem sendo
cultivada com entusiasmo de guri.
Não é a imponente biblioteca "cariocana" de não ficção, que ocupa a sala da entrada, no
primeiro andar do apartamento; nem a "cariocana" de ficção, mais perto do quarto de dormir,
que abriga raridades de João do Rio, Lima Barreto, Olavo Bilac, Nelson Rodrigues e outros
tantos cronistas de truz.
Numa estante de vidro, Castro, 63, está reconstituindo a sua coleção Terramarear, da Cia.
Editora Nacional, que fez a cabeça dos garotos brasileiros a partir dos anos 1930 com
narrativas de aventura como "O Último dos Moicanos", de Fenimore Cooper, a série de Tarzan
de Edgar Rice Burroughs e um "Robin Hood" por Monteiro Lobato.
E é com o nome da lendária coleção que ele e Heloisa Seixas, com quem divide vida e projetos
desde a véspera da noite de autógrafos de "Chega de Saudade" (1990), batizaram o livro que
estão lançando na Bienal do Rio.
Juntos ou a sós, o casal correu mundo e juntou as narrativas que publicou em jornais e
revistas (como a "Lugar", da Folha) em "Terramarear - Peripécias de Dois Turistas
Culturais". Todos foram reescritos para o livro; há ainda sete textos inéditos.
São viagens também no tempo, já que a especialidade dos dois é esquadrinhar o destino
turístico em "filmes que as locadoras chamam de 'clássicos'", como escreve Castro, para
revisitar locações e lugares por onde passaram ou viveram figuras da cultura do século 20.
Estão lá a grade do metrô que levantou a saia de Marilyn Monroe, o hotel italiano que
recebeu o poeta Ezra Pound e a porta giratória em Nova York onde Clark Kent se transformava
em Superman.
O leitor também pode visitar os bares cubanos onde Ernest Hemingway enchia o caneco e as
praças parisienses onde Robespierre e sua turma perderam a cabeça.
A série feita para o jornal "O Estado de S. Paulo" sobre o bicentenário da Revolução
Francesa é especialmente saborosa, assim como o relato de uma orwelliana viagem de Heloisa a
Moscou nos anos 80, a única do livro em que as coisas não saem tão bem como nos filmes de
Hollywood.
"O Ruy é obsessivo, e ele usa a obsessão dele para o bem", contou Heloisa em entrevista à
Folha, na última segunda-feira.
VIDA URBANA
Castro arrisca uma interpretação sobre o livro -que, ele sublinha, é cultural, e não de
"dicas" de turismo: "No livro é muito natural esse tipo de apreço pela vida urbana. A urbe,
a metrópole, é o lugar da variedade de pessoas, onde todos os encontros são possíveis, onde
todas as possibilidades acontecem".
"Você sai daqui e pode cruzar tanto com o Eike Batista quanto com o mata-mosquitos", diz
ele, referindo-se à zona sul do Rio, paixão que não não poderia ficar de fora. "Se 90% das
pessoas vivem em cidades, a gente precisa estabelecer novos códigos de convivência."
Quanto de nostalgia há em "Terramarear"? Ele se crispa com a pergunta.
"Não gosto de nostalgia, sou antinostálgico profissional. Sou da cultura. Por que a cultura
do século 20 tem de se chamar nostalgia?"
TERRAMAREAR - PERIPÉCIAS DE DOIS TURISTAS CULTURAIS AUTORES
Heloisa Seixas e Ruy Castro
EDITORA Companhia das Letras
QUANTO R$ 42 (232 págs.)
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