São Paulo, sexta, 4 de setembro de 1998

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Corliss decifra transformação de obra literária em filme

CÁSSIO STARLING CARLOS
Editor-adjunto de Especiais

Com tantas Lolitas circulando por aí, disputando qual reúne mais originalidade, quem prestaria atenção num "Lolita" de um quase anônimo Richard Corliss?
Apesar de pouco conhecido por aqui, ele é um ótimo crítico de cinema americano, colaborador da "Film Comment". Seu "Lolita" foi feito para a coleção de ensaios do British Film Institute (ed. Rocco).
Livre dos limites do texto analítico, Corliss cria um esquema divertido e inteligente para decifrar a história da transformação da Lolita literária de Nabokov na Lolita de Kubrick. Como foi escrito em 1995, antes da adaptação mais recente de "Lolita", Corliss foi poupado, ao menos no livro, de ter que avaliar o filme de Adrian Lyne.
A estrutura do ensaio é um pastiche de outro romance de Nabokov - o menos célebre, mas não menos memorável, "Fogo Pálido".
Um poema, "Filme Pálido", abre o ensaio, com uma trama na qual os personagens de Nabokov são obrigados a migrar do seu universo poético para o pálido mundo de luz e sombras do cinema.
"Eu era as palavras de que as imagens pouco falam/ Em filmes tirados de romances de Nabokov/ Eu era a biblioteca imóvel de Vladimir, parada/ Por ter trombado com um muro de Kubrick."
Em seguida, o autor usa o artifício do comentário aos 99 versos do poema para interpretar com liberdade "as metamorfoses da borboleta", ou seja, as várias transformações que sofreu a Lolita original.
A avaliação que faz da versão de Kubrick não é nem um pouco benevolente. Corliss chega a propor uma "versão imaginária oficial, realizada em 1959, por uma "troika' de que faziam parte Kubrick, Vincente Minnelli e Douglas Sirk".
A "versão oficial" realizada não por essa trinca de gênios do cinema, mas por Adrian Lyne, é prova cabal da nossa indigência.



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