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Corliss decifra transformação de obra literária em filme
CÁSSIO STARLING CARLOS
Editor-adjunto de Especiais
Com tantas Lolitas circulando
por aí, disputando qual reúne mais
originalidade, quem prestaria
atenção num "Lolita" de um quase
anônimo Richard Corliss?
Apesar de pouco conhecido por
aqui, ele é um ótimo crítico de cinema americano, colaborador da
"Film Comment". Seu "Lolita" foi
feito para a coleção de ensaios do
British Film Institute (ed. Rocco).
Livre dos limites do texto analítico, Corliss cria um esquema divertido e inteligente para decifrar a
história da transformação da Lolita literária de Nabokov na Lolita de
Kubrick. Como foi escrito em 1995,
antes da adaptação mais recente de
"Lolita", Corliss foi poupado, ao
menos no livro, de ter que avaliar o
filme de Adrian Lyne.
A estrutura do ensaio é um pastiche de outro romance de Nabokov
- o menos célebre, mas não menos memorável, "Fogo Pálido".
Um poema, "Filme Pálido", abre
o ensaio, com uma trama na qual
os personagens de Nabokov são
obrigados a migrar do seu universo poético para o pálido mundo de
luz e sombras do cinema.
"Eu era as palavras de que as
imagens pouco falam/ Em filmes
tirados de romances de Nabokov/
Eu era a biblioteca imóvel de Vladimir, parada/ Por ter trombado
com um muro de Kubrick."
Em seguida, o autor usa o artifício do comentário aos 99 versos do
poema para interpretar com liberdade "as metamorfoses da borboleta", ou seja, as várias transformações que sofreu a Lolita original.
A avaliação que faz da versão de
Kubrick não é nem um pouco benevolente. Corliss chega a propor
uma "versão imaginária oficial,
realizada em 1959, por uma "troika'
de que faziam parte Kubrick, Vincente Minnelli e Douglas Sirk".
A "versão oficial" realizada não
por essa trinca de gênios do cinema, mas por Adrian Lyne, é prova
cabal da nossa indigência.
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