São Paulo, sexta, 4 de setembro de 1998

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Judeu faz piada com o Holocausto

LEON CAKOFF
em Veneza

Haverá um consenso, ao menos, este ano em Veneza, no saco de gato que é a seleção de filmes a se garimpar nas sessões paralelas. E será a tragicomédia "O Trem da Vida", de Radu Mihaileanu.
E está lançada a polêmica. Afinal, quem copiou a idéia de quem? O italiano Roberto Benigni, que saiu com o hilariante "A Vida É Bela", ou "O Trem da Vida", cujo roteiro a produtora AB International diz ter enviado a Benigni, convidando-o para o papel principal, dois anos antes do italiano ter se lançado à produção de "A Vida É Bela"?
O fato é que, como lembra o diretor franco-romeno de "O Trem da Vida", chegou a vez de uma nova geração de herdeiros judeus das trágicas lembranças do Holocausto meditar sobre o assunto: resgatando o humor (judaico) para as dolorosas lembranças do genocídio sofrido ao longo da 2ª Guerra.
É o tabu que quebram, mais de 50 anos depois, tanto a produção italiana de Benigni como a francesa de Mihaileanu. Benigni regionaliza o seu filme também com o fenômeno do surgimento do fascismo, cujos radicais haviam começado a agir antes mesmo do bode expiatório nas figuras caricaturais dos judeus de aldeia lançado pelo nazismo. É justamente a composição que faz a diferença de "O Trem".
Desde o início a perplexidade que o filme lança é estonteante. Chega o louco da aldeia, Schlomo, que traz as últimas do outro lado das montanhas. Há notícias de que os alemães estão enchendo os trens de judeus e os enviando para onde ninguém sabe. O conselho da aldeia se reúne para discutir a novidade. E, de novo, o louco da aldeia provoca uma atitude ao propor que os próprios judeus entrem no trem para uma viagem para Palestina antes da chegada dos alemães.
A viagem fantástica do trem fantasma esbarra com um grupo de ciganos que também está em fuga aplicando o mesmo golpe no destino. É esse ponto o mais emocionante do filme, com a confraternização musical de judeus e ciganos.
"O Trem da Vida" é um amontoado de piadas de judeus reunidas num filme com requintes de superprodução. Surge um novo filão cinematográfico de humor negro.



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