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TEATRO
Revista "Sala Preta" une teoria e prática
SÉRGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA
Para quem, como eu, estudou no departamento de artes cênicas da Escola de Comunicação e Artes da USP entre as décadas de 80 e 90, "sala preta" é um
"signe de ralliement", um símbolo de uma geração que quis fazer
valer, em meio ao precário, a utopia daquilo que Jacó Guinsburg
conceitua como "uma instituição
de ensino teatral altamente integrada" que formasse "um homem
de teatro que reunisse no seu saber e fazer a teoria e a prática".
Uma sala de aula cujas janelas
pintadas de preto garantiam um
mínimo de obscuridade para cerca de dez refletores; uma arquibancada de madeira onde cabiam
30 colegas de aula e os professores
que davam a nota para nossas
apresentações; espaço esse que
devia além do mais ser dividido
com a Escola de Arte Dramática
-dois perus em cima de um pires, segundo a fórmula consagrada na época.
Pois bem, nesse espaço improvisado, deram os primeiros passos encenadores como Antônio
Araújo, William Pereira, Sérgio
de Carvalho, Márcio Marciano,
atores-diretores como Cibele Forjaz, Marcelo Lazzarato e Leonardo Medeiros, que aplicavam ali o
que aprendiam nas aulas de Jacó
Guinsburg, José Eduardo Vendamini, Márcio Aurélio, Maria Lúcia Puppo e Ana Maria Amaral,
pegando a seguir, na pós-graduação, Silvia Fernandes e Luis Fernando Ramos.
Hoje a ECA já conta com mais
de um teatro, embora continuem
a ser conhecidos como teatros da
EAD. Muitos professores da época continuam ali, enfrentando a
falta crônica de verbas em meio a
greves e simpósios, e alguns ex-alunos, como Antônio Araújo,
voltaram enquanto professores,
sem desistir da carreira que conquistaram. Faltava apenas uma
revista que desse vazão a toda essa
produção.
"Sala Preta", daqui para a frente
a revista do departamento, cumpre plenamente esse papel. Não é
por acaso, por isso, que dedica a
maior parte de suas páginas à inter-relação entre teoria e prática,
aprofundando por exemplo a
questão da rubrica no teatro, eixo
da pesquisa de Luiz Fernando Ramos, e da performance, descrevendo também outras experiências contemporâneas, em análises
que se valem em geral dos conceitos de intertextualidade de Patrice
Pavis e Anne Ubersfeld, como no
painel sobre "dramaturgia pós-dramática" traçado por Sílvia Fernandes.
Como não poderia deixar de
ser, para este número inaugural, a
experiência símbolo é a montagem de "Apocalipse 1,11", de Antônio Araújo, a fulgurante prata
da casa, que merece dossiê de fotos e várias análises.
Outras faculdades, por certo,
cumprem funções semelhantes,
de contribuição à reflexão sobre o
teatro, com a mesma relevância.
Mas tenho que dizer: modéstia à
parte, meus senhores, eu sou da
Sala Preta
Editora: ECA-USP
Lançamento: hoje, às 19h30, na livraria
Cultura do shopping Villa-Lobos (av.
Nações Unidas, 4.777, tel. 0/xx/11/3024-3599)
Quanto: R$ 15 (265 págs.)
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