São Paulo, quinta-feira, 04 de outubro de 2001

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TEATRO

Revista "Sala Preta" une teoria e prática

SÉRGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA

Para quem, como eu, estudou no departamento de artes cênicas da Escola de Comunicação e Artes da USP entre as décadas de 80 e 90, "sala preta" é um "signe de ralliement", um símbolo de uma geração que quis fazer valer, em meio ao precário, a utopia daquilo que Jacó Guinsburg conceitua como "uma instituição de ensino teatral altamente integrada" que formasse "um homem de teatro que reunisse no seu saber e fazer a teoria e a prática".
Uma sala de aula cujas janelas pintadas de preto garantiam um mínimo de obscuridade para cerca de dez refletores; uma arquibancada de madeira onde cabiam 30 colegas de aula e os professores que davam a nota para nossas apresentações; espaço esse que devia além do mais ser dividido com a Escola de Arte Dramática -dois perus em cima de um pires, segundo a fórmula consagrada na época.
Pois bem, nesse espaço improvisado, deram os primeiros passos encenadores como Antônio Araújo, William Pereira, Sérgio de Carvalho, Márcio Marciano, atores-diretores como Cibele Forjaz, Marcelo Lazzarato e Leonardo Medeiros, que aplicavam ali o que aprendiam nas aulas de Jacó Guinsburg, José Eduardo Vendamini, Márcio Aurélio, Maria Lúcia Puppo e Ana Maria Amaral, pegando a seguir, na pós-graduação, Silvia Fernandes e Luis Fernando Ramos.
Hoje a ECA já conta com mais de um teatro, embora continuem a ser conhecidos como teatros da EAD. Muitos professores da época continuam ali, enfrentando a falta crônica de verbas em meio a greves e simpósios, e alguns ex-alunos, como Antônio Araújo, voltaram enquanto professores, sem desistir da carreira que conquistaram. Faltava apenas uma revista que desse vazão a toda essa produção.
"Sala Preta", daqui para a frente a revista do departamento, cumpre plenamente esse papel. Não é por acaso, por isso, que dedica a maior parte de suas páginas à inter-relação entre teoria e prática, aprofundando por exemplo a questão da rubrica no teatro, eixo da pesquisa de Luiz Fernando Ramos, e da performance, descrevendo também outras experiências contemporâneas, em análises que se valem em geral dos conceitos de intertextualidade de Patrice Pavis e Anne Ubersfeld, como no painel sobre "dramaturgia pós-dramática" traçado por Sílvia Fernandes.
Como não poderia deixar de ser, para este número inaugural, a experiência símbolo é a montagem de "Apocalipse 1,11", de Antônio Araújo, a fulgurante prata da casa, que merece dossiê de fotos e várias análises.
Outras faculdades, por certo, cumprem funções semelhantes, de contribuição à reflexão sobre o teatro, com a mesma relevância. Mas tenho que dizer: modéstia à parte, meus senhores, eu sou da


Sala Preta     
Editora: ECA-USP
Lançamento: hoje, às 19h30, na livraria Cultura do shopping Villa-Lobos (av. Nações Unidas, 4.777, tel. 0/xx/11/3024-3599)
Quanto: R$ 15 (265 págs.)




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