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CINEMA
Em "Histórias Proibidas", diretor de "Felicidade" mira formas de exploração; longa também participa da Mostra de SP
Todd Solondz esmiúça relações de poder
FRANCESCA ANGIOLILLO
ENVIADA ESPECIAL AO RIO
Um professor negro, ganhador
do Prêmio Pulitzer de literatura,
que seduz suas alunas brancas.
Um ex-ator/ex-estudante de direito/ex-escritor que busca a fama
como documentarista, falando de
adolescentes de classe média.
As duas partes, batizadas de
"Ficção" e "Não-Ficção", compõem "Storytelling" (algo como
"contando histórias"), novo filme
do norte-americano Todd Solondz, 41 ("Felicidade", 98). Após
temas como abuso de menores,
esmiúça relações de poder: professor-aluna, aluna-namorado,
documentarista-tema, pai-filho.
"Histórias Proibidas", como foi
batizado aqui, é exibido hoje e sábado no Festival do Rio BR e deve
chegar ao circuito em novembro,
após a Mostra Internacional de
Cinema de São Paulo, da qual
também participa. Leia trechos da
entrevista com o diretor.
Folha - O sr. buscou em "Histórias
Proibidas" ser mais contido do que
em "Felicidade", cuja trama era
mais complexa?
Todd Solondz - Eu queria fazer
algo em duas partes, um prólogo e
então uma sequência. Mas, quando escrevi a primeira parte, não
quis mais uma sequência, quis
que fossem histórias conectadas.
Para mim, é um só filme; para
quem não vê a relação, são dois.
Folha - É o tema do poder que articula as partes?
Solondz - Não é uma análise errada, mas, para mim, as histórias
falam de redenção por um viés
alegre e, por outro lado, de exploração. Na primeira, a questão é
quem explora quem. A segunda é
sobre um cineasta falido que encontra redenção explorando seu
tema. Essa talvez fale sobre como
boas intenções não bastam.
Folha - Nos EUA, o sr. teve de cobrir as cenas de sexo, não?
Solondz - Para ter o dinheiro para o filme, precisava trabalhar
com um estúdio. Desde o script,
sabia que haveria material que dificultaria conseguir uma classificação R [pela qual menores de 17
requerem acompanhamento
adulto" e o estúdio não lançaria
um filme com classificação acima
dessa. Então previ no contrato a
possibilidade de inserir barras e
bips sobre imagens e sons que pudessem ser "não apropriados".
Quando "De Olhos Bem Fechados", de Kubrick, foi lançado nos
EUA, cenas foram modificadas
digitalmente. Não queria que isso
acontecesse. Se o público não vê,
não sabe, e eu não queria que eles
pensassem que minhas intenções
eram diferentes. Quando a platéia
vê um quadrado vermelho sobre
uma imagem, sabe que algo não
lhe foi permitido. Por outro lado,
se ela é retirada, o público nunca
fica sabendo do corte. No resto do
mundo não existirá essa questão.
Folha - Gostam de identificar o sr.
com seus personagens. Seus filmes
são auto-referentes?
Solondz - Claro que estou presente, mas é perigoso ver qualquer personagem como a minha
voz. Eu diria que esse filme é auto-reflexivo. Na primeira parte, os
alunos criticam uns aos outros; na
outra, o cineasta e sua editora discutem o filme. São também uma
espécie de resposta às respostas
que meus filmes suscitam.
Folha - Seu filme faz uma paródia
ao saquinho de "Beleza Americana". Você gostou desse filme?
Solondz - Uns anos atrás, dei
uma entrevista a alguém que encontrara Sam Mendes, e ele dissera que "Felicidade" era condescendente com relação aos personagens. Quando ouvi isso, senti
como se tivesse carta branca para
fazer minha "homenagem".
Folha - O cinema, ou a ficção, é
uma forma de inspirar reflexões sobre a não-ficção?
Solondz - Muita gente vê filmes
para fugir da realidade. Se você
busca só divertimento, não sirvo.
Mas espero também entreter.
A jornalista Francesca Angiolillo viaja a
convite da organização do festival
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