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FERNANDO BONASSI
A mediocridade da eficiência
Considerando que a mediocridade da eficiência é
uma tendência que tem norteado
as decisões desnorteadas de administradores, capatazes e patrões,
convém que se esclareça para sua
cabeça: a mediocridade da eficiência se justifica pela necessidade de lucratividade avantajada,
rentabilidade ilimitada e incompetência generalizada. Não importa se os acionistas interesseiros
permanecerão vivos entre os pobres traiçoeiros que lhes espreitam
à saída das festas, premiações e
casamentos. A mediocridade da
eficiência é mais importante do
que a vida de meia dúzia de burgueses ignorantes, por mais inocentes ou tratantes que sejam em
seus desejos ou dejetos. Trata-se
de uma teoria econômica radical:
"Se é economia essa porcaria, é
para economizar na limpeza,
oras!".
Claro que os filósofos materialistas não se cansam de espalhar
no ventilador da História para
onde se dirigem esses recursos
que, no curso da memória dos
acontecimentos, financiam campanhas de desesperança e a desmoralização dos sonhos de mudança, que esses socialistas concursados teimam em plagiar dos
anarquistas marginalizados.
A mediocridade da eficiência é
uma religião que abençoou a preguiça da razão! Não transforma,
transtorna; não goza, "tira um
sarro"; não cria, esgota. É enxuta
como a cintura de uma prostituta
de dieta; direta como um atropelamento e objetiva em suas assertivas para não dar tempo ao tempo dos pensamentos subjetivos
que insistem em atrapalhar os resultados almejados.
A mediocridade da eficiência é
mesmo uma ciência exata como
um tapa: dá, por exemplo, com a
mão dos salários aquilo que só os
otários podem suportar e tira com
a dos impostos, descontos e taxas
o que termina por bancar a impostura dos assessores professores,
seguranças contratados, motoristas turbinados e demais dependentes do seio esplêndido em que
mamam por gerações, sem desocupar nossas preocupações quanto à saúde dessa mãe sugada, abatida e condenada à dupla jornada.
Já que nem todos têm a possibilidade de se tornarem cidadãos de
verdade, que permaneçam arrochados, esquecidos ou simplesmente excluídos, varridos das
grandes centros para o limbo das
periferias, onde podem se atirar
uns contra os outros, numa brincadeira suicida que só a juventude tem o saco roxo para participar. Claro que numas horas dessas também podem fumar ou
cheirar qualquer coisa de arrepiar
a espinha para se esquecerem da
sina de nem enxergar o que pode
lhes acontecer. Mas a mediocridade da eficiência está presente em
todas as classes de pessoas, amigos
e parentes. Está na elite de velhacos que acumula e nas mulas que
se açoitam como escravos. A mediocridade da eficiência está nos
modelos de gerência onde é preciso poupar inteligência para dar
um mínimo de indecência à
maioria das aposentadorias duplicadas, viagens e vantagens oferecidas em surdina, além dos cargos amealhados de sacanagem na
comissão por porcentagem.
A mediocridade da eficiência é
uma saliência que administra por
impulso do pulso de regredir, de
guardar dinheiro, seja nacional,
seja estrangeiro, que aliás é mais
forte e, já que não tem pátria, costuma-se preferir.
A mediocridade da eficiência
considera o planejamento uma
perda de tempo ou que tempo é
uma velocidade de cruzeiros, e isso não tem nada a ver com previsão, mas com revisão, divisão e
subtração.
A mediocridade da eficiência
empata o débito com o crédito numa contabilidade de analfabetos,
uma vez que a educação parece
ser um prejuízo lamentável à nação, conforme atestam as dotações de um orçamento que até parecem doações, ou excremento,
com o que destinam ao desatino
do futuro.
A mediocridade da eficiência
advoga a repetição, a continuidade, a concentração. Não pode
imaginar a imaginação no poder!
A mediocridade da eficiência é
que garante a inocência dos culpados, que podem ser alocados
em serviços terceirizados, constrói
conjuntos habitacionais comunistas para deleite da mais-valia dos
empreendedores vigaristas, ergue
as pontes que desabam e os prédios que despencam e forja as sentenças com que se penam ou se
apiedam...
A mediocridade da eficiência
facilita as coisas, dá um jeito no
jeitinho e se contenta com o pouquinho que a sustenta, embalando as sobras para os sacoleiros que
obram por malas recheadas de sujeiras afanadas e criando paraísos fiscais de facilidades gerais para ilhas de miséria infernais. A
mediocridade da eficiência se alimenta de orçamentos retalhados,
juros elevados e diplomas saturados de méritos e inutilidade. A
mediocridade da eficiência torna
todos meio especializados nos ínfimos inexplicáveis de todos incompreensíveis! É a mediocridade da eficiência que põe armas inteligentes nas mãos de soldados
destemperados, destreinados ou
burros mesmo. Fecha salas de aulas com poucos alunos, desconsidera a experiência da velhice e a
inocência das crianças, cujas naturezas improdutivas incomodam os ativistas credenciados por
mercados em expansão ou explosão terrorista...
A mediocridade da eficiência é,
assim, democrática à sua maneira: oferece igualdade aos desiguais, fraternidade aos estranhos
demais e liberdade para escolher
quais os locais onde os indigentes
vão querer cair para morrer. Envolve a todos os reprodutivos
num conluio ativo para paralisar
ou privatizar o que está em movimento, o que há de novo ou o que
é criativo.
Tudo é feito para ficar bem fundo. Afundar a ousadia do mundo.
@ - fbonassi@uol.com.br
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