São Paulo, terça-feira, 04 de outubro de 2005

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FESTIVAL DO RIO

Ator americano aceitou convite para ser dirigido em 2006 por Joel Zito Araújo em drama sobre turismo sexual

Danny Glover planeja participar de filme no Brasil

Peter Ilicciev/Freecom Comunicação
O ator norte-americano Danny Glover samba na quadra da Mangueira, no Rio, ao lado do coreógrafo Carlinhos de Jesus


EDUARDO SIMÕES
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

No Rio para promover "Manderlay", continuação da trilogia do diretor s Lars von Trier, iniciada com "Dogville", o ator Danny Glover aceitou o convite do diretor Joel Zito Araújo ["Filhas do Vento"] para viver um veterano astro do basquete americano, que todo ano vem ao Brasil para fazer turismo sexual e acaba se apaixonando pela mulher com quem se relaciona. "Será um filme na linha "Retratos da Vida", com várias histórias relacionadas", adianta Araújo, que está finalizando o roteiro e pretende começar a filmar no segundo semestre de 2006, em Salvador.
O "sim" ao convite de Araújo, feito em 2004 em Nova York, durante uma exibição de "Filhas do Vento", foi oficialmente confirmado no sábado, durante uma conversa entre ator e diretor na feijoada do festival, realizada na quadra da Mangueira, e antes da sessão de gala de "Manderlay" no Odeon. Glover elogiou o cinema brasileiro, que acompanha há 30 anos, e disse que gostaria de atuar num filme no país. Em seguida, chamou ao palco os atores Milton Gonçalves e Maria Ceiça, e Araújo, que confirmou a participação de Glover no seu próximo filme.
"Boa parte da população do Brasil é afro-descendente, mas isso não se vê na televisão ou no cinema. Fora filmes como "Xica da Silva" ou "Quilombo", ou ainda "Cidade de Deus", feito cerca de 25 anos depois, onde se vê atores negros nas telas? Eu me pergunto como estão se desenvolvendo estes artistas e qual papel eu posso ter para ajudar cineastas da diáspora africana, como Joel. É isso que torna a idéia de fazer um filme no Brasil interessante para mim", disse Glover.
Em "Manderlay", Danny Glover faz o papel de Wilhelm, espécie de capataz de uma propriedade na cidade fictícia de Manderlay, no estado do Alabama, que, em 1933, mantém mão-de-obra escrava, 70 anos após a abolição da escravatura nos Estados Unidos. É para lá que vai a personagem Grace -vivida em "Dogville" por Nicole Kidman, e agora por Bryce Howard Dallas-, nesta segunda parte da trilogia de Von Trier sobre os Estados Unidos que, de novo, debate a hipocrisia da sociedade americana.
Com parte do elenco do primeiro filme novamente em cena, em papéis diferentes, o longa agradou ao público da sessão de gala. O impacto da estética de teatro filmado de Von Trier pode ter diminuído. A discussão sobre racismo, porém, pareceu mais do que oportuna, pouco tempo depois do furacão Katrina ter feito um maior número de vítimas entre a população afro-americana.
Para Glover, no entanto, "Manderlay" usa a questão do negro como emblema para uma discussão mais ampla sobre exclusão social em todo o mundo.
"O filme usa a metáfora da escravidão para discutir questões como identidade, democracia, liberdade, que parece um debate bem oportuno por conta do Katrina. Mas o problema do racismo afeta afro-descendentes também aqui no Brasil, por exemplo", diz Glover.
"A diferença é que lá existe toda essa propaganda de ideais de democracia, mercado livre etc., enquanto há milhões de pessoas que vivem abaixo da linha de pobreza. E não são apenas os negros."
Sobre o fato de Von Trier estar tocando uma trilogia sobre os Estados Unidos, sem nunca ter pisado os pés em solo americano, Glover disse que o diretor, como cidadão dinamarquês, também é vítima do enorme poder de seu país.
"Todos os países são afetados. O fato de não ter estado lá não significa que ele não tenha noção de sua história, porque a história dele, de alguma forma, também é afetada pela americana."

O repórter Eduardo Simões viajou a convite do festival

Manderlay
Quando:
hoje, às 18h, no Estação Ipanema 2


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