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"La Sierra" estuda guerrilha paramilitar
LÚCIA VALENTIM RODRIGUES
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma faceta diferente da Colômbia se revela com "La Sierra", de
Margarita Martínez e Scott Dalton. Ainda permanece sendo a
Colômbia da violência, mas neste
documentário sobre um povoado
em Medellín não há narcotráfico
nem Farc (as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).
Aqui, não existe ideologia, e as
drogas são um detalhe na vida de
jovens para quem uma arma é
símbolo de poder e de atração sexual. "Estamos nas mãos de garotos armados", sentencia um senhor no filme. Esses garotos fazem parte de grupos paramilitares ligados à extrema direita.
O filme começa numa corrida
de táxi. Os dois cineastas pedem
para serem levados à La Sierra, na
periferia de Medellín. "Tudo bem,
mas, quando chegarem lá, é melhor desligar a câmera. Não se pode filmar", aconselha o motorista.
Mas, com permissão do chefe
nacional dos paramilitares, se pode tudo. Usando o mesmo subterfúgio que Fernando Meirelles
quando rodou "Cidade de Deus",
a jornalista Margarita Martínez ligou para seu contato no alto comando e subiu o morro. "O modo
de vida desses combatentes é
muito primitivo. Apenas pensam
na sobrevivência, sem nenhum
vestígio de ideologia política."
Em 2003, Martínez e Dalton
acompanharam a rotina do povoado durante seis meses, enfocando três personagens principais: Edison, 22 anos, sete deles
lutando para os paramilitares, é o
comandante local. Moleque ainda, tenta resolver os problemas da
comunidade, enquanto vê os seus
aumentarem com o nascimento
de um filho após o outro (são oito), todos de mulheres diferentes.
Alguém, afinal, tem de repovoar
La Sierra, com tantos homens
morrendo tão cedo. Um amanhã
nas armas ou cuidando das crianças são as únicas opções locais.
Jesús, 19, viciado em cocaína,
perdeu a mão com uma granada e
vive "acelerado". "Não sei quando fiquei tão louco. Mas, desde
que tenho uma arma, já posso
morrer, porque conheci tudo."
Cielo, 17, se descobriu namorada de um paramilitar quando ele
foi preso. Aos 15, já tinha ficado
viúva pela primeira vez.
"Nossa idéia foi sensibilizar a juventude para que eles não entrem
nessa vida", acrescenta Martínez.
O documentário estréia na
quinta na TV colombiana, mas a
cúpula dos paramilitares já viu.
"Ficamos sabendo que eles assistiram e gostaram. Não sei se o governo vai apreciar, porque, quando exibimos o filme num festival
americano, o prefeito de Medellín
nos aconselhou que, nas apresentações, ressaltássemos que isso tinha acontecido há muito tempo."
"La Sierra" já está comprado
por uma TV espanhola e pela
BBC. Mas, no Brasil, por enquanto só será possível encomendá-lo
pelo site www.lasierrafilm.com.
La Sierra
Quando: hoje, às 16h, e quinta, às 14h,
no Conselho Britânico (mais em www.festivaldorio.com.br)
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