São Paulo, quarta-feira, 04 de outubro de 2006

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Videoartista uruguaio faz latinos dominarem o mundo

"Periferia são os outros", diz Martín Sastre, que apresenta os vídeos de sua "Trilogia Iberoamericana" e conversa com o público no Sesc Avenida Paulista

DENISE MOTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Martín Sastre encontrou o sucesso e não tem dúvidas sobre a existência. Ele está à frente de seu tempo, instalado mais precisamente a partir de 2492, e, caso você queira saber onde fica o centro do Universo, ele lhe indicará -com a segurança dos heróis e dos visionários e uma linguagem recheada dos mais repisados clichês do cinema- que o topo do mundo está, literalmente, em um lugar bem perto de você.
Assim, o personagem de Martín Sastre -que destruiu Hollywood e, entre outros feitos, garantiu o controle do planeta à América Latina- dá voz ao artista Martín Sastre, uruguaio de 30 anos que chega a São Paulo para apresentar essas e outras visões de um futuro glamouroso, paródico e pop em encontro com o público, acompanhado por exibições de sua "Trilogia Iberoamericana".
"Penso que nós, artistas de lugares mal chamados de periféricos, somos os que atualmente oferecemos um novo discurso", disse à Folha.
Radicado na Espanha há quatro anos, Sastre, que trabalha com vídeo, fotografia, desenho, escultura e que teve seus trabalhos presentes nas bienais de São Paulo, Havana e Veneza, iniciou a trilogia -composta por "Videoart: The Iberoamerican Legend", "Montevideo: The Dark Side of the Pop" e "Bolivia 3: Confederation Next"- após receber uma bolsa do governo espanhol.
"A periferia está na moda, mas não devemos esquecer que a moda é outro invento ocidental para controlar o mundo, como a Arte (com maiúscula), a tendência, a modernidade etc. A padronização do pensamento é o que leva ao esgotamento de idéias. Não somos periferia, periferia são os outros."
Ao defender a união e o poder latino-americanos, o uruguaio faz uma espécie de releitura debochada de pressupostos defendidos por seu conterrâneo Joaquín Torres García (1874-1949) e expostos no clássico "América", quando García representou o continente de cabeça para baixo. "Cresci com essa imagem", afirma Sastre.

Chamado aos leitores
"A América leva um nome errado, o de um colonizador e geógrafo europeu. Aproveito esta entrevista para fazer uma proposta aos leitores da Folha: que façamos algo para mudar o nome do continente e que ele passe a se chamar Bolívia. Já se vê, Bolívia é o futuro."
Sastre também tem uma fundação dedicada a patrocinar a arte "muito pobre". No próximo ano, iniciará o programa "Adote um artista latino", que coletará colaborações para projetos independentes.
O uruguaio agora trabalha em um novo vídeo, "Freaky Birthday", baseado no fato de haver nascido no mesmo dia em que Robbie Williams. De volta à ativa, portanto, o personagem da trilogia, mesmo prestes a se transformar em cantor pop, não perde de vista seu objetivo principal: "Para dominar o mundo, ainda me faltam alguns anos".


ENCONTROS SESC VIDEOBRASIL COM MARTÍN SASTRE
Quando:
sexta, às 20h
Onde: Sesc Avenida Paulista (av. Paulista, 119, São Paulo, tel. 0/xx/11/3179-3700)
Quanto: entrada franca (retirada de ingressos a partir das 19h)


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