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crítica
Romance está longe da melhor fase do autor
ADRIANO SCHWARTZ
ESPECIAL PARA A FOLHA
"Nós estamos
prontos para
afundar nossas vidinhas", diz alguém a
certa altura de "Homem
em Queda". E é de "vidinhas" mesmo que trata
Don DeLillo neste romance tão distante de suas melhores obras. Há pouco
aqui do mestre da paranóia, um dos "profetas"
mais certeiros desse mundo de "homens partidos"
em que viemos parar, ou
do criador de inícios magistrais como os de "Mao
2º" ou de "Submundo".
A imagem central do
texto deveria ser a do artista que dá o título ao livro e suas performances
que buscam repetir em diferentes lugares de Nova
York a queda dos corpos
em desespero das torres
gêmeas no 11/9. Mas talvez a imagem de fato se
encontre em outro lugar,
no personagem obcecado
em contar os dedos dos
pés das mulheres que encontra. Ele sabe que sempre a soma chegará a dez
-e não se importa, insistindo sempre no ritual.
É essa sensação de banalidade que contamina
todo o volume, a começar
por seus dois protagonistas, Keith, um sobrevivente do desabamento, e
Lianne, a sua ex-mulher,
para casa de quem ele retorna após a tragédia. Os
acontecimentos que se seguem (a relação dele com
uma amante, também
uma sobrevivente, e os
torneios de pôquer; as
conversas dela com a mãe
e seu namorado) são
enunciados com tédio e
distanciamento.
Seria possível pensar
que por fim, a despeito de
qualquer horror, a vida
continua ("Eu estava andando na rua, indo para o
barbeiro. Veio uma pessoa
correndo. Eu estava na
privada. Depois fiquei com
o maior ódio. As pessoas
diziam onde estavam
quando a coisa aconteceu.
Eu não dizia onde estava"). No entanto, isso parece tão irrelevante. Talvez o problema esteja na
ânsia com que a ficção
norte-americana vem tentando reconstituir esse capítulo tão difícil de sua história recente em incontáveis livros. Não há nada
aqui, para citar uma situação extrema, da urgência
de rememoração que
ocorreu no pós-guerra. As
razões são bem diferentes
e, ao que tudo indica, menos relevantes.
ADRIANO SCHWARTZ é professor de literatura da Escola de Artes, Ciências e
Humanidades da USP.
HOMEM EM QUEDA
Autor: Don DeLillo
Tradução: Paulo Henriques
Britto
Editora: Companhia das Letras
Quanto: R$ 47 (264 págs.)
Avaliação: regular
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