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CINEMA
Mostra "Arte da África" traz 58 filmes, com destaque para os documentários e para o senegalês Djibril Diop Mambety
Continente africano se espalha pelas telas cariocas
PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA
Enquanto o presidente Lula vai
à África, parte da África está no
Brasil, espalhada pelo CCBB do
Rio em um grande evento que inclui exposição, shows, peças de
teatro e, a partir de hoje, também
uma ampla mostra de cinema,
possivelmente a maior já feita no
país com os filmes do continente.
Em cartaz até 16 de novembro,
"Arte da África - Um Cinema para
o Século 21" exibirá 58 títulos de
17 países diferentes, com destaque
para a retrospectiva completa do
cineasta senegalês Djibril Diop
Mambety, morto em 1998, e uma
impressionante demonstração de
força do documentário africano
com 23 longas e curtas.
Dois desses documentários vêm
do Cabo Verde, um dos países-irmãos do Brasil pelo passado da
colonização portuguesa: "Amilcar Cabral", de Ana Ramos Lisboa
(que tem sua primeira exibição
amanhã), um retrato simples e
eficiente do líder do processo de
independência do país, e o ótimo
"Rabelados - Os Rebeldes Não-Violentos da Ilha de Cabo Verde",
de Torsten Truscheit e Ana Rocha
Fernandes (na terça), que foca em
um grupo que resistiu à colonização portuguesa recusando-se a
abrir mão da sua cultura.
Essa resistência resultou em prisão, tortura, morte e exílio, principalmente durante os anos da ditadura de Salazar, num processo
que durou até a independência da
ilha, em 1975.
"Em Cabo Verde, a história dos
Rabelados é desconhecida pela
maior parte da população e até
hoje circulam propagandas negativas sobre a comunidade. Queríamos saber quem são os Rabelados e por que esse grupo, a maior
parte dele de camponeses, foi tão
perseguido durante a época colonial", diz Fernandes, cineasta caboverdiana que co-dirigiu o filme
com o alemão Truscheit.
"A luta dos Rabelados nunca foi
armada, mas sim mental. Eles
achavam que a única forma possível de conseguir se livrar do subjugo colonial seria treinar viver
com o mínimo indispensável, que
deveriam ser produtos que eles
mesmos produzissem."
O achado do filme está em não
impor uma resposta para questões que levanta. É o próprio contato com os Rabelados, que ainda
hoje vivem em comunidades isoladas, que mostra quem eles são.
Mas como romper o isolamento
de uma comunidade tão fechada e
ao mesmo tempo respeitá-la? "O
filme só foi possível porque tivemos muito tempo de preparação.
A fase de pesquisa durou dois
anos, e a filmagem, quatro meses.
O tempo foi importante para estabelecer uma relação de confiança", diz Truscheit.
Segundo o cineasta, que apresentou o filme como tese para a
Academia de Cinema de Ludwigsburg, foi uma preocupação
máxima que, durante as filmagens, o ritmo da vida dos Rabelados influenciasse o trabalho da
equipe, e não o contrário.
"Os Rabelados acharam engraçado que nós esperássemos a melhor luz para filmar. Era algo idêntico à forma de eles trabalharem,
pois também esperam fases da lua
para determinados tipos de trabalho", diz Truscheit. Ao que Fernandes lembra: "Há um provérbio caboverdiano que diz: "É na
manso, manso ki mininu bonitu
ta fasedo", que significa: é no devagar que se faz filhos bonitos...".
ARTE DA ÁFRICA - UM CINEMA PARA O
SÉCULO 21. Onde: Centro Cultural
Banco do Brasil (r. Primeiro de Março, 66,
Rio de Janeiro, tel. 0/xx/21/3808-2020).
Quando: abertura hoje, às 19h. Até 16/
11. Quanto: R$ 8.
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