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MÚSICA
Filmes de Walter Salles e Conspiração resistem ao tempo e revivem os primeiros dez anos da carreira da cantora
Marisa brilha em imagens "aos montes"
MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
EDITOR DE OPINIÃO
Numa espécie de grande documentário em película sobre seus
primeiros dez anos de carreira,
Marisa Monte lança uma caixa
com três DVDs que reúnem sons
e imagens "aos montes". São 69
faixas com shows, videoclipes,
viagens, depoimentos e registros
inéditos da trajetória que vai do
especial de TV "MM ao Vivo", base do CD de estréia, a "Barulhinho
Bom", passando por "Mais" e
"Cor de Rosa e Carvão".
Para alguns talvez ainda possa
parecer que foi ontem, mas basta
apertar o play e começar a assistir
a "MM ao Vivo" para lembrar que
o tempo passou: já se vão mais de
15 anos desde o show produzido
por Nelson Motta e Lula Buarque,
que se transformou no especial da
Manchete filmado em 16mm por
Walter Salles Jr., diretor que àquela altura tinha sua filmografia resumida a um documentário sobre
o artista plástico polonês Franz
Krajcberg.
"MM ao Vivo" é o retrato cantado dos primeiros firmes passos de
um jovem e exuberante talento.
Com 21 anos, Marisa já havia estudado canto lírico na Itália, onde
conheceu, por indicação de sua
mãe, o jornalista, produtor e letrista Nelson Motta. Depois de vê-la num "pocket show" de bar em
Veneza, Nelsinho ajudou a dar o
impulso inicial da carreira, mas a
verdade é que Marisa tinha e tem
qualidades que inevitavelmente a
acabariam levando aonde chegou. É a principal cantora brasileira depois da geração de Elis, Gal e
Bethânia -e nos DVDs dá para
sentir uma pitada das três no tempero do canto e da atitude cênica.
O primeiro especial já anunciava o território a ser explorado. Ali
está o pop-rock dos anos 80, representado por "Comida", dos
Titãs, e vestígios essenciais de seu
passado, como "Ando Meio Desligado", dos Mutantes, e "Negro
Gato", de Getúlio Cortes, hit do
Roberto da Jovem Guarda. Ali
também corre o sangue do samba, de Carmen Miranda ("South
American Way") a Chico Buarque ("Samba e Amor"), em meio
a um repertório recortado por um
gosto versátil, mas preciso: Tim
Maia, Kurt Weill, Ira e George
Gershwin. As participações especiais são todas boas, com destaque para a aparição de Ed Motta,
então um garoto de 17 anos.
Em "Mais", dirigido por Arthur
Fontes e Lula Buarque (Conspiração Filmes) entra em cena o compositor e produtor americano-brasileiro Arto Lindsay, que produziu o segundo CD de Marisa e
co-produziu os dois seguintes.
Com ele, a cantora aparece em
Nova York cantando no ilustre
palquinho do Knitting Factory.
Ryuichi Sakamoto, que assinou o
arranjo de "Rosa" (Pixinguinha),
surge em cenas de estúdios. Nos
extras, o destaque são os ensaios
de Marisa com os Titãs.
Por fim, "Barulhinho Bom",
também dirigido por Lula Buarque (desta vez com Claudio Torres), passeia pelo período do CD
com o mesmo nome e do anterior, "Cor de Rosa e Carvão".
Além do show, há uma farta documentação dos encontros, no
hotel das Paineiras, no Rio, com
os Novos Baianos, as Pastoras da
Velha Guarda da Portela e a dupla
Carlinhos Brown e Arnaldo Antunes, já formatando os Tribalistas.
Ao contrário de alguns clipes e
especiais que pioram (ou se tornam constrangedores) com o
tempo, as imagens realizadas por
Walter Salles e os rapazes da
Conspiração funcionam muito
bem no gênero e continuam segurando a onda. E o som, remasterizado, também.
MARISA MONTE. Artista: Marisa Monte.
Lançamento: EMI. Quanto: R$ 200, em
média (a caixa); R$ 55 (cada um).
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