São Paulo, quinta-feira, 04 de novembro de 2004

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MÚSICA

Filmes de Walter Salles e Conspiração resistem ao tempo e revivem os primeiros dez anos da carreira da cantora

Marisa brilha em imagens "aos montes"

MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
EDITOR DE OPINIÃO

Numa espécie de grande documentário em película sobre seus primeiros dez anos de carreira, Marisa Monte lança uma caixa com três DVDs que reúnem sons e imagens "aos montes". São 69 faixas com shows, videoclipes, viagens, depoimentos e registros inéditos da trajetória que vai do especial de TV "MM ao Vivo", base do CD de estréia, a "Barulhinho Bom", passando por "Mais" e "Cor de Rosa e Carvão".
Para alguns talvez ainda possa parecer que foi ontem, mas basta apertar o play e começar a assistir a "MM ao Vivo" para lembrar que o tempo passou: já se vão mais de 15 anos desde o show produzido por Nelson Motta e Lula Buarque, que se transformou no especial da Manchete filmado em 16mm por Walter Salles Jr., diretor que àquela altura tinha sua filmografia resumida a um documentário sobre o artista plástico polonês Franz Krajcberg.
"MM ao Vivo" é o retrato cantado dos primeiros firmes passos de um jovem e exuberante talento. Com 21 anos, Marisa já havia estudado canto lírico na Itália, onde conheceu, por indicação de sua mãe, o jornalista, produtor e letrista Nelson Motta. Depois de vê-la num "pocket show" de bar em Veneza, Nelsinho ajudou a dar o impulso inicial da carreira, mas a verdade é que Marisa tinha e tem qualidades que inevitavelmente a acabariam levando aonde chegou. É a principal cantora brasileira depois da geração de Elis, Gal e Bethânia -e nos DVDs dá para sentir uma pitada das três no tempero do canto e da atitude cênica.
O primeiro especial já anunciava o território a ser explorado. Ali está o pop-rock dos anos 80, representado por "Comida", dos Titãs, e vestígios essenciais de seu passado, como "Ando Meio Desligado", dos Mutantes, e "Negro Gato", de Getúlio Cortes, hit do Roberto da Jovem Guarda. Ali também corre o sangue do samba, de Carmen Miranda ("South American Way") a Chico Buarque ("Samba e Amor"), em meio a um repertório recortado por um gosto versátil, mas preciso: Tim Maia, Kurt Weill, Ira e George Gershwin. As participações especiais são todas boas, com destaque para a aparição de Ed Motta, então um garoto de 17 anos.
Em "Mais", dirigido por Arthur Fontes e Lula Buarque (Conspiração Filmes) entra em cena o compositor e produtor americano-brasileiro Arto Lindsay, que produziu o segundo CD de Marisa e co-produziu os dois seguintes. Com ele, a cantora aparece em Nova York cantando no ilustre palquinho do Knitting Factory. Ryuichi Sakamoto, que assinou o arranjo de "Rosa" (Pixinguinha), surge em cenas de estúdios. Nos extras, o destaque são os ensaios de Marisa com os Titãs.
Por fim, "Barulhinho Bom", também dirigido por Lula Buarque (desta vez com Claudio Torres), passeia pelo período do CD com o mesmo nome e do anterior, "Cor de Rosa e Carvão". Além do show, há uma farta documentação dos encontros, no hotel das Paineiras, no Rio, com os Novos Baianos, as Pastoras da Velha Guarda da Portela e a dupla Carlinhos Brown e Arnaldo Antunes, já formatando os Tribalistas.
Ao contrário de alguns clipes e especiais que pioram (ou se tornam constrangedores) com o tempo, as imagens realizadas por Walter Salles e os rapazes da Conspiração funcionam muito bem no gênero e continuam segurando a onda. E o som, remasterizado, também.


MARISA MONTE. Artista: Marisa Monte. Lançamento: EMI. Quanto: R$ 200, em média (a caixa); R$ 55 (cada um).


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