São Paulo, quinta-feira, 04 de novembro de 2004

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PERSONALIDADE

Artista pintou suposto amante duas vezes

Cartas publicadas em livro levam a crer que Goya tenha sido gay

ELIZABETH NASH
DO "INDEPENDENT", EM MADRI

Marido dedicado, pai de 20 filhos (dos quais um sobreviveu), amante da duquesa de Alba. Terá Francisco de Goya, além de tudo isso, sido gay? Um livro publicado em Madri afirma que o mestre espanhol teve "uma relação homoerótica com seu amigo Martín Zapater", a quem pintou duas vezes.
Os círculos artísticos espanhóis estão agitados com as especulações sobre a sexualidade de Goya. A historiadora de arte Natacha Sesena cita cartas nas quais ele declara sua paixão e desenha órgãos sexuais masculinos e femininos. "Meu Martín ... Estou desesperado para ir com você, porque gosto tanto de você, nós nos damos tão bem, é impossível encontrar alguém comparável. Imagino como seria minha vida se pudéssemos estar juntos, caçar, beber chocolate e gastar os 23 reales que tenho em sua companhia... seria a maior felicidade do mundo."
As cartas foram escritas entre 1775 e 1800, quando Goya viveu seu auge artístico e era patrocinado pela corte espanhola. Após a morte dele, em 1828, elas foram censuradas durante anos pelo sobrinho de Zapater, Francisco.
Sesena descreve os sentimentos de Goya como "rendição instintiva ou existencial". Fica claro que seus sentimentos encontravam reciprocidade em Zapater, embora as cartas deste não tenham permanecido até hoje. Em outras cartas, Goya assina "seu e seu outra vez, seu Paco Goya", ou "aquele que te ama mais do que pensas".
Uma das cartas conclui com: "Oh! Tome, tome mil abraços" e acrescenta: "Tome o que não posso lhe dar", acompanhado por dois desenhos de genitálias.
As cartas não censuradas só vieram a público na década de 80, quando receberam pouca atenção porque seu estilo franco e rude não condizia com a tendência dos historiadores em retratar Goya como cavalheiro refinado do iluminismo. Mas Goya era de origem humilde e tornou-se amigo de Zapater enquanto estudava em Zaragoza, antes de se casar e se fixar em Madri. Sesena descreve Zapater como "solteiro, ordeiro e meticuloso, que durante toda a vida teve o cuidado de conservar as cartas de seu grande amigo".
As revelações contradizem a imagem de Goya como pai de família cuja esposa, Josefa Bayeu, que sempre manteve distância do mundo de intrigas sexuais em que seu marido se movimentava, sofreu gravidezes e abortos espontâneos múltiplos.
Ao mesmo tempo em que se correspondia com Zapater, Goya viveu uma paixão com a beldade aristocrática Cayetana, duquesa de Alba. Após a morte do marido dela, em 1797, Goya viveu com a duquesa durante nove meses na propriedade dos Alba em Sanlucar de Barrameda, perto de Cadiz.
Reza a lenda que foi durante essa estadia que Cayetana teria feito as vezes de modelo para o provocante quadro ""Maya Desnuda", de Goya, o primeiro na história da pintura a mostrar pêlos púbicos femininos.


Tradução de Clara Allain


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