|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
PERSONALIDADE
Artista pintou suposto amante duas vezes
Cartas publicadas em livro levam a crer que Goya tenha sido gay
ELIZABETH NASH
DO "INDEPENDENT", EM MADRI
Marido dedicado, pai de 20 filhos (dos quais um sobreviveu),
amante da duquesa de Alba. Terá
Francisco de Goya, além de tudo
isso, sido gay? Um livro publicado
em Madri afirma que o mestre espanhol teve "uma relação homoerótica com seu amigo Martín Zapater", a quem pintou duas vezes.
Os círculos artísticos espanhóis
estão agitados com as especulações sobre a sexualidade de Goya.
A historiadora de arte Natacha
Sesena cita cartas nas quais ele declara sua paixão e desenha órgãos
sexuais masculinos e femininos.
"Meu Martín ... Estou desesperado para ir com você, porque gosto
tanto de você, nós nos damos tão
bem, é impossível encontrar alguém comparável. Imagino como
seria minha vida se pudéssemos
estar juntos, caçar, beber chocolate e gastar os 23 reales que tenho
em sua companhia... seria a maior
felicidade do mundo."
As cartas foram escritas entre
1775 e 1800, quando Goya viveu
seu auge artístico e era patrocinado pela corte espanhola. Após a
morte dele, em 1828, elas foram
censuradas durante anos pelo sobrinho de Zapater, Francisco.
Sesena descreve os sentimentos
de Goya como "rendição instintiva ou existencial". Fica claro que
seus sentimentos encontravam
reciprocidade em Zapater, embora as cartas deste não tenham permanecido até hoje. Em outras cartas, Goya assina "seu e seu outra
vez, seu Paco Goya", ou "aquele
que te ama mais do que pensas".
Uma das cartas conclui com:
"Oh! Tome, tome mil abraços" e
acrescenta: "Tome o que não posso lhe dar", acompanhado por
dois desenhos de genitálias.
As cartas não censuradas só vieram a público na década de 80,
quando receberam pouca atenção
porque seu estilo franco e rude
não condizia com a tendência dos
historiadores em retratar Goya
como cavalheiro refinado do iluminismo. Mas Goya era de origem humilde e tornou-se amigo
de Zapater enquanto estudava em
Zaragoza, antes de se casar e se fixar em Madri. Sesena descreve
Zapater como "solteiro, ordeiro e
meticuloso, que durante toda a vida teve o cuidado de conservar as
cartas de seu grande amigo".
As revelações contradizem a
imagem de Goya como pai de família cuja esposa, Josefa Bayeu,
que sempre manteve distância do
mundo de intrigas sexuais em que
seu marido se movimentava, sofreu gravidezes e abortos espontâneos múltiplos.
Ao mesmo tempo em que se
correspondia com Zapater, Goya
viveu uma paixão com a beldade
aristocrática Cayetana, duquesa
de Alba. Após a morte do marido
dela, em 1797, Goya viveu com a
duquesa durante nove meses na
propriedade dos Alba em Sanlucar de Barrameda, perto de Cadiz.
Reza a lenda que foi durante essa estadia que Cayetana teria feito
as vezes de modelo para o provocante quadro ""Maya Desnuda",
de Goya, o primeiro na história da
pintura a mostrar pêlos púbicos
femininos.
Tradução de Clara Allain
Texto Anterior: Gastronomia: Vinexpand expõe velho e novo mundo do vinho Próximo Texto: Morre a jornalista Maria Helena Castilho Índice
|