São Paulo, sexta-feira, 04 de novembro de 2005

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POPLOAD

Eu amo MP3

LÚCIO RIBEIRO
COLUNISTA DA FOLHA

Toda semana tem um assunto novo sobre a revolução musical na era digital. Aí, na semana seguinte, o tal assunto novo fica velho porque um outro mais novo apareceu.
Embarca aí, que eu vou contar a última, porque, até meu e-mail aparecer lá embaixo, já deve ser notícia com validade vencida.
"MP3? Eu amo MP3! É com ele que eu posso encher meu iPod de músicas legais", é o que acha o baterista do Arctic Monkeys, a banda-sensação da Inglaterra.
MP3 é a música comprimida em arquivo, inventada por cientistas alemães em 1997. O Arctic Monkeys é grupo de quatro moleques amigos de escola de Sheffield, Inglaterra, que vem provocando programas de rádio e artigos de jornais na Europa, por causa desse negócio de MP3, internet e essas coisas que devem dar um nó na cabeça dos caras do Metallica, que mandaram prender o inventor do Napster sem saber que estavam dando um tiro no pé.
Há dois anos, o Arctic Monkeys, já destaque aqui, gravou suas demos no quarto de um integrante. Postaram as músicas na internet, que era o que dava para fazer. Criaram fórum de discussão, entraram no My Space, espécie de Orkut para quem curte música.
Viraram o show mais disputado do Reino Unido, com gente cantando todas as músicas. Nenhuma canção do Arctic Monkeys tinha sido oficialmente lançada. Banda de internet, enfim. Aí, no começo de outubro, o primeiro single oficial deles foi lançado. E virou o disco físico mais vendido da semana, o número 1 da parada.
Aí, as grandes gravadoras se perguntam: o supergrupo Coldplay gravou seu protegido (em vão) terceiro álbum pagando semanalmente R$ 200 mil de aluguel de estúdio e não conseguiu atingir a performance de uma bandeca desconhecida que trouxe o disco pronto de casa e se fez à custa da cultura de MP3 e de conversas com fãs na internet?
Enquanto isso, no Brasil, uma gravadora virtual, a Peligro, importa o tal single-bomba do Arctic Monkeys e passa a vender HOJE por aqui, a preço camarada estimado de R$ 12. Isso no mesmo período em que o Cansei de Ser Sexy, banda que se fez na internet, lança seu primeiro disco dando de bônus um CD virgem, para ser "queimado" com suas músicas e distribuído a amigos.
E ainda, enquanto isso, no site da Trama Virtual, virou hit uma música chamada "Entrei no Seu Site Ontem", de uma cantora baiana independente que até outro dia botava voz no Olodum e que vem com uma música romântica, cuja letra fala de iPod, o aparelho que virou instrumento oficial da revolução do MP3.
De novo na Inglaterra, outra banda pequena que em show arregimenta uma multidão entusiasmada de fãs lançou nesta semana um single que deve vender bem. É o Rakes. O single é o "22 Grand Job". No lado B, eles "dão" a música "iProblem", excelente rock de garagem com levada dance, que conta a historinha de um cara ligando para o serviço de atendimento da loja onde ele comprou o iPod dele. Para reclamar de um problema com a bateria do aparelho, que não segura a carga prometida na caixa.
Coisas que dá para saber: em 2004, cerca de 6 milhões de músicas "sofreram" download no mundo. Em 2005, até setembro, o número chegava a 7 milhões.
Coisas que não dá para saber: onde isso vai parar e quais serão as dimensões do impacto desta revolução musical, que ainda está em pleno curso.


@ - lucio@uol.com.br

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