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Eu amo MP3
LÚCIO RIBEIRO
COLUNISTA DA FOLHA
Toda semana tem um assunto
novo sobre a revolução musical na era digital. Aí, na semana
seguinte, o tal assunto novo fica
velho porque um outro mais novo apareceu.
Embarca aí, que eu vou contar a
última, porque, até meu e-mail
aparecer lá embaixo, já deve ser
notícia com validade vencida.
"MP3? Eu amo MP3! É com ele
que eu posso encher meu iPod de
músicas legais", é o que acha o baterista do Arctic Monkeys, a banda-sensação da Inglaterra.
MP3 é a música comprimida em
arquivo, inventada por cientistas
alemães em 1997. O Arctic Monkeys é grupo de quatro moleques
amigos de escola de Sheffield, Inglaterra, que vem provocando
programas de rádio e artigos de
jornais na Europa, por causa desse negócio de MP3, internet e essas coisas que devem dar um nó
na cabeça dos caras do Metallica,
que mandaram prender o inventor do Napster sem saber que estavam dando um tiro no pé.
Há dois anos, o Arctic Monkeys,
já destaque aqui, gravou suas demos no quarto de um integrante.
Postaram as músicas na internet,
que era o que dava para fazer.
Criaram fórum de discussão, entraram no My Space, espécie de
Orkut para quem curte música.
Viraram o show mais disputado
do Reino Unido, com gente cantando todas as músicas. Nenhuma canção do Arctic Monkeys tinha sido oficialmente lançada.
Banda de internet, enfim. Aí, no
começo de outubro, o primeiro
single oficial deles foi lançado. E
virou o disco físico mais vendido
da semana, o número 1 da parada.
Aí, as grandes gravadoras se
perguntam: o supergrupo Coldplay gravou seu protegido (em
vão) terceiro álbum pagando semanalmente R$ 200 mil de aluguel de estúdio e não conseguiu
atingir a performance de uma
bandeca desconhecida que trouxe
o disco pronto de casa e se fez à
custa da cultura de MP3 e de conversas com fãs na internet?
Enquanto isso, no Brasil, uma
gravadora virtual, a Peligro, importa o tal single-bomba do Arctic Monkeys e passa a vender HOJE por aqui, a preço camarada estimado de R$ 12. Isso no mesmo
período em que o Cansei de Ser
Sexy, banda que se fez na internet,
lança seu primeiro disco dando
de bônus um CD virgem, para ser
"queimado" com suas músicas e
distribuído a amigos.
E ainda, enquanto isso, no site
da Trama Virtual, virou hit uma
música chamada "Entrei no Seu
Site Ontem", de uma cantora
baiana independente que até outro dia botava voz no Olodum e
que vem com uma música romântica, cuja letra fala de iPod, o
aparelho que virou instrumento
oficial da revolução do MP3.
De novo na Inglaterra, outra
banda pequena que em show arregimenta uma multidão entusiasmada de fãs lançou nesta semana um single que deve vender
bem. É o Rakes. O single é o "22
Grand Job". No lado B, eles "dão"
a música "iProblem", excelente
rock de garagem com levada dance, que conta a historinha de um
cara ligando para o serviço de
atendimento da loja onde ele
comprou o iPod dele. Para reclamar de um problema com a bateria do aparelho, que não segura a
carga prometida na caixa.
Coisas que dá para saber: em
2004, cerca de 6 milhões de músicas "sofreram" download no
mundo. Em 2005, até setembro, o
número chegava a 7 milhões.
Coisas que não dá para saber:
onde isso vai parar e quais serão
as dimensões do impacto desta
revolução musical, que ainda está
em pleno curso.
@ - lucio@uol.com.br
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