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CINEMA/"TUDO ACONTECE EM ELIZABETHTOWN"
Novo filme de Cameron Crowe ("Quase Famosos") só ganha ritmo no final
Quase nada acontece em Elizabethtown
PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA
Um pouco como M. Night
Shyamalan, Cameron Crowe construiu sua reputação como
um roteirista habilidoso que filma
suas próprias histórias -fama
que lhe valeu até um Oscar, pelo
roteiro de "Quase Famosos".
Mas, ao contrário de Shyamalan,
que, após "O Sexto Sentido", se
confirmou cineasta de fato, Crowe, desde sua simpática estréia
com "Vida de Solteiro" (1992),
nunca deixou de ser um filmador
de diálogos. Sua própria reputação como bom roteirista vem sendo posta em xeque filme a filme,
algo que se confirma em "Tudo
Acontece em Elizabethtown".
Para obra de um bom roteirista,
"Elizabethtown" não traz lá muita
coerência, personagens sólidos
ou diálogos inspirados. Talvez
Crowe esteja tentado se afastar
desses cânones, uma vez que parece se aproximar mais de uma
viagem interior do que da típica
jornada de um herói. O resultado
final, no entanto, é uma inconsistente mistura de dois formatos
que jamais formam uma unidade.
De um lado, Crowe obedece à
estrutura clássica e organiza a história para que o espectador se
identifique com o personagem
central, o "designer" de tênis
Drew Baylor (Orlando Bloom).
Por outro lado, também joga
"impressões de viagem" de um
jovem em crise, vivendo um luto
não só pela morte do pai mas
também pela morte de um pedaço de sua vida, que se espatifou
com o retumbante fracasso profissional que dá partida à trama.
Talvez isso explique o ar etéreo
-e mal resolvido- da aeromoça
vivida por Kirsten Dunst, que, antes de ser uma personagem de
carne e osso, é uma aparição angelical que surge nas horas certas.
Esse dilema entre a narrativa
clássica e o filme impressionista
não chega a ser resolvido por Crowe. Por quase dois terços de sua
projeção, "Tudo Acontece em Elizabethtown" é absolutamente enfadonho em sua falta de rumo e
na ausência quase total de ação.
As coisas começam a tomar
contornos mais interessantes a
partir do momento em que algo
acontece de fato -a cerimônia de
despedida do pai de Drew. Talvez
não seja coincidência que o filme
cresça quando ganha destaque a
personagem de Susan Sarandon.
A entrada de uma atriz de verdade só faz esmaecer mais os protagonistas, que em vários momentos parecem estar numa versão do
desenho da Barbie e do Kent.
Após a cerimônia, acompanhado das cinzas do pai, Drew empreenderá uma viagem redentora
por Kentucky, inspirado no mapa
em formato de diário adolescente
que a aeromoça-anjo lhe prepara.
Nesse momento, Crowe exercita o
que de fato gosta, que é arrumar
um jeito de encaixar suas músicas
preferidas. Drew pisa no acelerador, o volume da música sobe, e a
câmera se volta para a paisagem.
E o filme arranca alguns suspiros,
sem que tenha se justificado.
Tudo Acontece em Elizabethtown
Elizabethtown
Direção: Cameron Crowe
Produção: EUA, 2005
Com: Orlando Bloom, Kirsten Dunst
Quando: a partir de hoje nos cines Interlagos, Shopping D e circuito
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