São Paulo, sábado, 04 de novembro de 2006

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Ela é carioca

Mais jovem autora a vencer o Booker Prize, a indiana Kiran Desai conta como escreveu no Rio seu livro premiado

Liz O. Baylenog - 25.out.2006/"The New York Times"
A indiana Kiran Desai, autora de "The Inheritance of Loss', em seu apartamento no Brooklyn


MARCOS STRECKER
DA REPORTAGEM LOCAL

Kiran Desai nasceu em Nova Déli, estudou na Inglaterra e mora no Brooklyn, em Nova York. Mas pode chamar de carioca que ela vai gostar. A escritora indiana, que ganhou em 10 de outubro o Booker Prize, um dos maiores prêmios literários do mundo, só conseguiu escrever "The Inheritance of Loss" (o legado da perda) depois que se mudou para Ipanema, onde morou por seis meses. Aos 35, Desai é a mais jovem autora a ganhar a honraria.
Este seu segundo livro, que será lançado no Brasil em 2007 pelo selo Alfaguara, narra a rotina de um juiz aposentado, que vive numa comunidade pobre, e sua relação com a neta, tendo a Índia e Nova York como cenário. Em entrevista à Folha, ela comenta a superexposição da literatura indiana -tema da moda em vários eventos literários, incluindo a recente Feira de Frankfurt. Desai derrama elogios ao Rio, dizendo que sua rotina de trabalho incluía caldinho de feijão, água de coco e praia todos os dias.
 

FOLHA - Seu livro "The Inheritance of Loss" (o legado da perda) foi escrito no Rio de Janeiro? KIRAN DESAI - Não conseguia escrever em Nova York, onde moro atualmente. Era muito requisitada pelos compromissos de escritora, compelida a um estilo americano de ficção que era oposto ao que queria fazer. Não conseguia pagar os aluguéis caros daqui. América Latina significava liberdade. Tentei primeiro ir para o México, já que Gabriel García Márquez escreve lá e é muito respeitado na Índia. Acabei me mudando para Ipanema, em uma rua perto do Cantagalo, num apartamento que tinha vista para as montanhas. Dava para ouvir os galos cantando. Vivi seis meses no Rio e adorei. Foi uma vida maravilhosa. Trabalhava de manhã. Ia para a praia, bebia suco de manga e água de coco. Tomava caldinho de feijão nos quiosques da praia, que me lembravam os que existem nas ruas indianas. Gostei tanto da comida que não conseguia mais usar os biquínis da moda. Voltava para casa e trabalhava até tarde, com as janelas abertas.

FOLHA - O Rio influenciou este seu segundo livro?
DESAI -
Com certeza. Permitiu que eu ampliasse minha visão, que meu trabalho se afastasse de ser uma mera referência da Índia em relação ao Ocidente. Sempre admirei a habilidade de V.S. Naipaul de traçar paralelos entre as experiências pós-coloniais na América Latina, África e Ásia. É importante que isso continue a ser feito. As experiências comuns de globalização, a imigração, o poder desigual... Nossos países têm tanto em comum. Ouço as mesmas conversas no Rio e em Mumbai [Bombaim], outra cidade com mar, cheia de glamour, criminalidade e pobreza.


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