São Paulo, segunda-feira, 04 de dezembro de 2006

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"A exclusão nunca deixou de existir"

DA REPORTAGEM LOCAL

Leia entrevista com a diretora de "Ó, Paí, Ó", Monique Gardenberg. (SA)  

FOLHA - Em 1994, "Ó, Paí, Ó" discutia a questão imediata do destino do Pelourinho. Que questões ainda pertinentes esse texto pode apontar?
MONIQUE GARDENBERG
- A peça que deu origem ao filme usava como ponto de partida a expulsão dos moradores indesejáveis do bairro, em decorrência da reforma promovida em 1992 pelo governo ACM. Estamos falando, portanto, de uma materialização circunstancial, de uma encenação da exclusão. A exclusão, porém, nunca deixou de existir.
O Pelourinho, o Brasil, é formado por incluídos e excluídos. Os "posseiros urbanos", que buscam formas criativas na luta pela sobrevivência, são os nossos personagens.

FOLHA - "Ó, Paí, Ó" é baiano até no título. Como lidar com essa marca, sem estereotipar?
GARDENBERG
- Sendo baiana. Lá estão minhas raízes, toda a simbologia da minha vida. Além disso, esse grupo de atores é senhor desse discurso. Não há nada de artificial ali.

FOLHA - "Ó, Paí, Ó" fala de uma "triste Bahia" e de um triste Brasil, usando, contudo, uma veia cômica, insolente, extrovertida. Por que a opção?
GARDENBERG
- Não é assim o povo brasileiro? Aquela frase: "A alegria de ser brasileiro" devia ser "A alegria do ser brasileiro". E a Bahia eleva essa vocação através do deboche. O deboche é a marca da peça e do filme. O brasileiro é um povo forte, que mantém o vigor, a sensualidade, a exuberância, a fé infinita, apesar das mazelas.

FOLHA - O ano em que o público torceu o nariz para quase todas as produções nacionais e em que as adaptações teatrais fracassaram ("Irma Vap", "A Máquina", "Trair e Coçar...", "Fica Comigo...") chega ao fim com grande expectativa em torno de "Ó, Paí, Ó". O que isso quer dizer sobre seu filme especificamente e sobre o mercado de cinema em geral?
GARDENBERG
- A adaptação de uma obra teatral para o cinema é sempre perigosa. Quando rompi com o material original, comecei a inventar personagens, criar situações novas que permitissem dar ao filme uma linguagem mais cinematográfica. Então, tomei coragem para enfrentar o desafio. Talvez esta seja a chave -desrespeitar a forma, reinventar a obra, mantendo a sua essência.


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