São Paulo, terça-feira, 04 de dezembro de 2007

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Álbum é manifesto dos "bébés rockers"

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O grande indicador de que a França já não era só o país dos vinhos e da música eletrônica saiu em disco em 2006. O CD "Paris Calling", uma coletânea com um monte de bandas francesas novas que nunca tinham entrado em um estúdio, chegava às lojas como um manifesto do novo rock, um basta à dominante cena de R&B americana e da dance music européia farofa que dominava as paradas, as rádios e o quadro dos mais vendidos das lojas Fnac.
Apoiada por revistas como "Rock&Folk" e "Les Inrockuptibles" e por estações radiofônicas como "Oui FM" e "Le Mouv", uma trupe enorme de meninos e meninas, "les bébés rockers", saiu aos bares de guitarra em punho para limpar (sujar?) o som de Paris e adjacências e fazer os ingleses engolirem as piadas de que o rock francês sempre foi ruim (e foi).
O nome do CD, que se refere a um grito de Paris, é inspirado em hino do The Clash, que, nos anos 70, chamou a atenção para a cena londrina com "London Calling". O título da capa da Ilustrada ("Paris em Chamas") também é inspirado na banda ("London Burning").
"Paris Calling" chegou à Inglaterra neste ano, com o difícil (para a França e, mais ainda, para o rock gaulês) aval da imprensa especializada britânica.
O "chamado" saiu nas vozes de bandas como Second Sex e Plastiscines, e o rock francês passou a ser "exportável".
A biografia dessas duas bandas e de dezenas de outras da França inteira é a mesma: "moleques saindo de shows da chamada "santa trindade" do novo rock (Strokes, Libertines, White Stripes) resolvem montar banda, buscar influências no som de garagem americano dos anos 70 (Stooges, MC5, Ramones) e fazer da internet seu veículo principal da propagação de suas músicas e shows".
O novo rock francês caminha paralelo à explosão da música indie no Brasil, com semelhante surgimento de um colossal número de bandas boas, médias e ruins, mas com a diferença de que, na França, há mais revistas de música para apoiar a causa, mais emissoras de rádios para tocar suas músicas, mais festivais independentes viáveis, além da vantagem de estar a três horas de trem de um intercâmbio londrino.
Depois do CD, o grupo de meninas Plastiscines ganhou página na "Vogue" italiana e foi tocar em Nova York. O grupo The Teenagers se inseriu no pop inglês tal qual o brasileiro Cansei de Ser Sexy e tem marcada uma turnê americana para janeiro. Mas o importante é notar que o rock francês está bombando na própria França. Uma capa com a banda indie Naast foi uma das mais vendidas da "Rock&Folk" no ano.
Meninos de escola bem-vestidos durante o dia, roqueiros sujinhos quando a noite cai: o novo rock francês tem uma idade média de 16/17 anos de seus artífices. Até o jornal "Liberation" já promoveu debates para entender o que acontece com os "enfants de la patrie".
Entrevistas com qualquer uma das garotas-bonecas dos Plastiscines são reveladoras do que está acontecendo.
"Eu aprendi sobre rock por meio dos meus pais e, principalmente, lendo e ouvindo na internet. A geração francesa anterior à nossa não teve isso. Quando muitos dos meus amigos sem dinheiro para gastar em discos e revistas importadas começaram a ter acesso fácil a Libertines, Strokes e White Stripes, pensamos: "Nós adoramos isso. E podemos fazer igual.'" (LR)


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