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Álbum é manifesto dos "bébés rockers"
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O grande indicador de que a
França já não era só o país dos
vinhos e da música eletrônica
saiu em disco em 2006. O CD
"Paris Calling", uma coletânea
com um monte de bandas francesas novas que nunca tinham
entrado em um estúdio, chegava às lojas como um manifesto
do novo rock, um basta à dominante cena de R&B americana e
da dance music européia farofa
que dominava as paradas, as rádios e o quadro dos mais vendidos das lojas Fnac.
Apoiada por revistas como
"Rock&Folk" e "Les Inrockuptibles" e por estações radiofônicas como "Oui FM" e "Le
Mouv", uma trupe enorme de
meninos e meninas, "les bébés
rockers", saiu aos bares de guitarra em punho para limpar
(sujar?) o som de Paris e adjacências e fazer os ingleses engolirem as piadas de que o rock
francês sempre foi ruim (e foi).
O nome do CD, que se refere
a um grito de Paris, é inspirado
em hino do The Clash, que, nos
anos 70, chamou a atenção para
a cena londrina com "London
Calling". O título da capa da
Ilustrada ("Paris em Chamas") também é inspirado na
banda ("London Burning").
"Paris Calling" chegou à Inglaterra neste ano, com o difícil
(para a França e, mais ainda,
para o rock gaulês) aval da imprensa especializada britânica.
O "chamado" saiu nas vozes
de bandas como Second Sex e
Plastiscines, e o rock francês
passou a ser "exportável".
A biografia dessas duas bandas e de dezenas de outras da
França inteira é a mesma: "moleques saindo de shows da chamada "santa trindade" do novo
rock (Strokes, Libertines, White Stripes) resolvem montar
banda, buscar influências no
som de garagem americano dos
anos 70 (Stooges, MC5, Ramones) e fazer da internet seu veículo principal da propagação de
suas músicas e shows".
O novo rock francês caminha
paralelo à explosão da música
indie no Brasil, com semelhante surgimento de um colossal
número de bandas boas, médias e ruins, mas com a diferença de que, na França, há mais
revistas de música para apoiar a
causa, mais emissoras de rádios
para tocar suas músicas, mais
festivais independentes viáveis, além da vantagem de estar
a três horas de trem de um intercâmbio londrino.
Depois do CD, o grupo de
meninas Plastiscines ganhou
página na "Vogue" italiana e foi
tocar em Nova York. O grupo
The Teenagers se inseriu no
pop inglês tal qual o brasileiro
Cansei de Ser Sexy e tem marcada uma turnê americana para
janeiro. Mas o importante é notar que o rock francês está
bombando na própria França.
Uma capa com a banda indie
Naast foi uma das mais vendidas da "Rock&Folk" no ano.
Meninos de escola bem-vestidos durante o dia, roqueiros
sujinhos quando a noite cai: o
novo rock francês tem uma idade média de 16/17 anos de seus
artífices. Até o jornal "Liberation" já promoveu debates para
entender o que acontece com
os "enfants de la patrie".
Entrevistas com qualquer
uma das garotas-bonecas dos
Plastiscines são reveladoras do
que está acontecendo.
"Eu aprendi sobre rock por
meio dos meus pais e, principalmente, lendo e ouvindo na
internet. A geração francesa
anterior à nossa não teve isso.
Quando muitos dos meus amigos sem dinheiro para gastar
em discos e revistas importadas começaram a ter acesso fácil a Libertines, Strokes e White Stripes, pensamos: "Nós adoramos isso. E podemos fazer
igual.'"
(LR)
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