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"NEM TRENS NEM AVIÕES"
Fracasso é tema e resultado de filme de Stelling
ESPECIAL PARA A FOLHA
Depois do retumbante fracasso da superprodução "O
Holandês Voador", o cineasta Jos
Stelling tenta retomar, em "Nem
Trens nem Aviões", o patetismo
melancólico dos pequenos filmes
que fizeram sua fama, "O Ilusionista" (1984) e "O Homem da Linha" (1986).
No entanto, desde que se separou do ator Jim van der Woude
-que estava no filme de 84 e vivia
o papel-título da película de 86-,
Stelling parece ter perdido mesmo o fio de Ariadne.
Não por acaso, o novo filme de
Stelling aborda justamente o fracasso.
Como "Trinta Anos Esta Noite", que Louis Malle realizou em
1963, "Nem Trens nem aviões" é a
história do último dia de vida de
um homem fracassado que resolve se suicidar.
Trata-se de mais um desses tantos enjeitados que fizeram do balcão de um bar o refúgio último de
uma vida malfadada, personagem
clássico que tantas vezes inspirou
a literatura e o cinema.
O fracasso do filme de Stelling
faz jus ao seu tema, mas não da
forma como o fizeram "Barfly"
(Barbet Schroeder, 1987) e "Ironweed" (Hector Babenco, no mesmo ano), dois filmes sorumbáticos sobre o mesmo assunto.
Jos Stelling pretende encarar tudo com uma certa leveza, enfatizando sempre, no sorriso apalermado de seu deprimente personagem, o lado patético da vida.
Mas o diretor simplesmente não
se revela espirituoso o suficiente
para tal.
Como em "Desencanto", o clássico de David Lean, o protagonista, Gérard, despede-se de sua
amada num café à beira de uma
ferrovia. Mas não há nenhum romantismo por aqui: sua amada é
uma desgrenhada e irascível prostituta, uma das carentes personagens que desfilam, à moda de Ettore Scola, no cenário único do filme, o tal Café Central.
Lá, Gérard ensaia uma derradeira cena de amor com a prostituta
e presenteia seus desavisados e
igualmente enjeitados companheiros de balcão com seus últimos pertences.
Só lhe resta agora despedir-se
do irmão famoso, um (falso) cantor italiano, de quem ele se separou desde o dia em que a mãe deles comprou um vestido cor-de-rosa para enforcar-se com a devida elegância. É o mesmo que faz,
diga-se, Jos Stelling neste filme.
(TIAGO MATA MACHADO)
Nem Trens nem Aviões
No Trains No Planes
Direção: Jos Stelling
Produção: Holanda, 1999
Com: Dirk van Dijck, Kees Prins, Peer
Mascini
Quando: a partir de hoje no Cinearte e
na Sala UOL de Cinema
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