São Paulo, sexta-feira, 05 de janeiro de 2001

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"NEM TRENS NEM AVIÕES"


Fracasso é tema e resultado de filme de Stelling



ESPECIAL PARA A FOLHA



Depois do retumbante fracasso da superprodução "O Holandês Voador", o cineasta Jos Stelling tenta retomar, em "Nem Trens nem Aviões", o patetismo melancólico dos pequenos filmes que fizeram sua fama, "O Ilusionista" (1984) e "O Homem da Linha" (1986).
No entanto, desde que se separou do ator Jim van der Woude -que estava no filme de 84 e vivia o papel-título da película de 86-, Stelling parece ter perdido mesmo o fio de Ariadne.
Não por acaso, o novo filme de Stelling aborda justamente o fracasso.
Como "Trinta Anos Esta Noite", que Louis Malle realizou em 1963, "Nem Trens nem aviões" é a história do último dia de vida de um homem fracassado que resolve se suicidar.
Trata-se de mais um desses tantos enjeitados que fizeram do balcão de um bar o refúgio último de uma vida malfadada, personagem clássico que tantas vezes inspirou a literatura e o cinema.
O fracasso do filme de Stelling faz jus ao seu tema, mas não da forma como o fizeram "Barfly" (Barbet Schroeder, 1987) e "Ironweed" (Hector Babenco, no mesmo ano), dois filmes sorumbáticos sobre o mesmo assunto.
Jos Stelling pretende encarar tudo com uma certa leveza, enfatizando sempre, no sorriso apalermado de seu deprimente personagem, o lado patético da vida. Mas o diretor simplesmente não se revela espirituoso o suficiente para tal.
Como em "Desencanto", o clássico de David Lean, o protagonista, Gérard, despede-se de sua amada num café à beira de uma ferrovia. Mas não há nenhum romantismo por aqui: sua amada é uma desgrenhada e irascível prostituta, uma das carentes personagens que desfilam, à moda de Ettore Scola, no cenário único do filme, o tal Café Central.
Lá, Gérard ensaia uma derradeira cena de amor com a prostituta e presenteia seus desavisados e igualmente enjeitados companheiros de balcão com seus últimos pertences.
Só lhe resta agora despedir-se do irmão famoso, um (falso) cantor italiano, de quem ele se separou desde o dia em que a mãe deles comprou um vestido cor-de-rosa para enforcar-se com a devida elegância. É o mesmo que faz, diga-se, Jos Stelling neste filme. (TIAGO MATA MACHADO)



Nem Trens nem Aviões
No Trains No Planes
  
Direção: Jos Stelling
Produção: Holanda, 1999
Com: Dirk van Dijck, Kees Prins, Peer Mascini
Quando: a partir de hoje no Cinearte e na Sala UOL de Cinema




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