São Paulo, sexta-feira, 05 de janeiro de 2001

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CRÍTICA


Um Schwarzenegger incomoda muita gente

SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK



No começo do ano passado, o principal temor entre os jornalistas que cobriam o anúncio do mapeamento do genoma humano não era o desdobramento ético da conquista, mas a enxurrada de filmes de Hollywood.
O primeiro é "O Sexto Dia". Dirigido pelo irregular Roger Spottiswoode, baseia-se numa hipótese improvável no mercado cinematográfico atual: um Arnold Schwarzenegger clonado.
Explico: Hollywood não sabe o que fazer nem com um deles, o que dirá dois. O musculoso austríaco é parte de uma geração de heróis desempregados à qual pertencem Sylvester Stallone e Chuck Norris. Floresceram na Idade do R, no começo dos anos 80, quando "Rocky", "Rambo" e Ronald Reagan dominavam a Terra. Hoje, são como a TV em preto-e-branco e o vinil: existem, mas ninguém sabe por quanto tempo.
Pois bem. Por ser o primeiro, e apesar de Arnie, "O Sexto Dia" não é ruim. Há detalhes curiosos, como a central de vendas de animais domésticos clonados, chamada RePet, um trocadilho com repetição e bicho de estimação.
Ou o título, uma referência bíblica: Deus criou o homem à sua imagem e semelhança no sexto dia. No sétimo, teoricamente, começamos a nos clonar... Mais: o personagem principal se chama Adam (Adão, em inglês) Gibson.
O filme se passa num "futuro próximo", em que a clonagem, tanto animal quanto humana, já pode ser feita em larga escala, embora a última tenha sido proibida por motivos éticos.
Nesse contexto, Adam é um veterano da "Guerra da Floresta Tropical" (provavelmente dos EUA contra o Brasil pelo controle internacional da Amazônia, mas a passagem não é desenvolvida).
Numa noite, ao voltar de uma viagem, ele vive um pesadelo. Uma réplica idêntica a ele roubou sua vida. O tal clone está agora em sua casa, abraçando sua filha, soprando seu bolo de aniversário e transando com sua mulher.
Não só seus familiares acham que o Adam 2 é o Adam verdadeiro quanto o próprio clone. E assim vai continuar se depender do megaempresário genético Michael Drucker (Tony Goldwyn) e seu plano de dominação mundial.
O roteiro interessante, amparado por bons atores em personagens secundários, faz o que pode para resistir ao trator austríaco em dose dupla. Mas perde.



O Sexto Dia
The 6th Day

  
Direção: Roger Spottiswoode
Produção: EUA, 2000
Com: Arnold Schwarzenegger, Robert Duvall, Michael Rapaport
Quando: a partir de hoje nos cines Butantã, Ibirapuera e circuito




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