São Paulo, segunda-feira, 05 de janeiro de 2004

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DANÇA

O francês Philippe Jamet e a brasileira Estelamare trabalham juntos em espetáculo que explora o ritual no cotidiano

Projeto desvenda intimidades nacionais

INÊS BOGÉA
CRÍTICA DA FOLHA

Identidade, intimidade e memória: "Interrogar a arte e as pessoas". O coreógrafo francês Philippe Jamet estará de volta a São Paulo para dar continuidade a seu trabalho em parceria com a bailarina brasileira Estelamare.
Os dois se conheceram quando Jamet esteve no Brasil em 2000 para realizar "Portraits Dansés" (apresentado em 2003; leia ao lado). Estelamare foi uma das retratadas. Recentemente deram início a um novo trabalho, "Intimidades", que já começou em Rio Preto e agora inicia nova etapa em São Paulo.
"A forma será diferente, até pelo encontro com novos intérpretes e suas experiências. Vou gostar muito de criar em São Paulo um projeto sobre o tema do ritual e sua influência na cultura e no cotidiano", diz Jamet, por e-mail. Estelamare esclarece que o método é o mesmo de Rio Preto: um trabalho com pessoas de diferente formação (bailarinos e leigos, cantores, atores), pesquisando ao mesmo tempo a intimidade e a diversidade cultural. Mas o propósito agora é diferente.
O processo terá continuidade em outra vinda do coreógrafo ao Brasil, quando ficará por volta de três meses, e resultará num espetáculo com estréia prevista para a França em 2005. Além do trabalho direto com os bailarinos, Jamet e Estelamare vão visitar terreiros de candomblé e umbanda e filmarão pessoas na rua. "Todo trabalho do Jamet envolve vídeo-instalação e performance", explica Estelamare.
Os resultados desse primeiro encontro, um trabalho ainda "in progress", serão vistos em solos e também numa performance coletiva. No mesmo espaço, serão exibidos os vídeos de "Portraits Dansés". O projeto terá lugar na Oficina Cultural Oswald de Andrade. Serão selecionadas até 12 pessoas, entre profissionais e amadores.
Para Jamet é interessante trabalhar com amadores e profissionais: "O amador está mais próximo do cotidiano do que o profissional, mais próximo do real, talvez porque não tenha a técnica e também porque a variedade de idade é maior (os bailarinos são jovens na dança contemporânea). O amador se cansa de repetir muitas vezes os movimentos, enquanto o profissional evolui".
Estelamare ressalta uma grande diferença entre "Portraits" e "Intimidades": neste último, durante a performance amadores e profissionais estarão presentes, enquanto em "Portraits" eram só os profissionais. Para Jamet, "um espetáculo nos permite viver os sentimentos e as emoções por procuração; é ainda um espaço de encontro com os outros e consigo mesmo. Não deveria ter forma pré-definida".
Também em 2004, outro módulo de "Intimidades" será desenvolvido na Alemanha. A idéia é a mesma; mas os propósitos específicos variam em cada lugar. "É um trabalho de filosofia a partir da dança e na dança", diz Estelamare. Ela explica: "Jamet pede para você escrever alguma coisa, antes de se mover. Por exemplo: "Qual o maior medo que você já sentiu? Escreva os sentimentos desse momento". Depois pede que você trabalhe sozinho os movimentos. Só então ele volta e vai dirigindo, vai investigando as coisas".
Segundo Jamet, seu trabalho é voltado para "o encontro dos seres, para descobrir o que amam, o que sentem, o que são. O que é importante fazer e dizer hoje. Dar conta das intimidades é falar de você e dos outros, da cultura, dos sonhos, da utopia".


INTIMIDADES. Quando: de hoje a dia 20. Onde: Oficina Cultural Oswald de Andrade (r. Três Rios, 363, SP; tels. 0/xx/11/221-4704 ou 222-2662). Os interessados devem comparecer (com currículo) até quarta na Oficina.


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