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DANÇA
O francês Philippe Jamet e a brasileira Estelamare trabalham juntos em espetáculo que explora o ritual no cotidiano
Projeto desvenda intimidades nacionais
INÊS BOGÉA
CRÍTICA DA FOLHA
Identidade, intimidade e memória: "Interrogar a arte e as pessoas". O coreógrafo francês Philippe Jamet estará de volta a São
Paulo para dar continuidade a seu
trabalho em parceria com a bailarina brasileira Estelamare.
Os dois se conheceram quando
Jamet esteve no Brasil em 2000
para realizar "Portraits Dansés"
(apresentado em 2003; leia ao lado). Estelamare foi uma das retratadas. Recentemente deram início
a um novo trabalho, "Intimidades", que já começou em Rio Preto e agora inicia nova etapa em
São Paulo.
"A forma será diferente, até pelo
encontro com novos intérpretes e
suas experiências. Vou gostar
muito de criar em São Paulo um
projeto sobre o tema do ritual e
sua influência na cultura e no cotidiano", diz Jamet, por e-mail.
Estelamare esclarece que o método é o mesmo de Rio Preto: um
trabalho com pessoas de diferente
formação (bailarinos e leigos,
cantores, atores), pesquisando ao
mesmo tempo a intimidade e a diversidade cultural. Mas o propósito agora é diferente.
O processo terá continuidade
em outra vinda do coreógrafo ao
Brasil, quando ficará por volta de
três meses, e resultará num espetáculo com estréia prevista para a
França em 2005. Além do trabalho direto com os bailarinos, Jamet e Estelamare vão visitar terreiros de candomblé e umbanda e
filmarão pessoas na rua. "Todo
trabalho do Jamet envolve vídeo-instalação e performance", explica Estelamare.
Os resultados desse primeiro
encontro, um trabalho ainda "in
progress", serão vistos em solos e
também numa performance coletiva. No mesmo espaço, serão exibidos os vídeos de "Portraits Dansés". O projeto terá lugar na Oficina Cultural Oswald de Andrade.
Serão selecionadas até 12 pessoas,
entre profissionais e amadores.
Para Jamet é interessante trabalhar com amadores e profissionais: "O amador está mais próximo do cotidiano do que o profissional, mais próximo do real, talvez porque não tenha a técnica e
também porque a variedade de
idade é maior (os bailarinos são
jovens na dança contemporânea).
O amador se cansa de repetir
muitas vezes os movimentos, enquanto o profissional evolui".
Estelamare ressalta uma grande
diferença entre "Portraits" e "Intimidades": neste último, durante a
performance amadores e profissionais estarão presentes, enquanto em "Portraits" eram só os
profissionais. Para Jamet, "um espetáculo nos permite viver os sentimentos e as emoções por procuração; é ainda um espaço de encontro com os outros e consigo
mesmo. Não deveria ter forma
pré-definida".
Também em 2004, outro módulo de "Intimidades" será desenvolvido na Alemanha. A idéia é a
mesma; mas os propósitos específicos variam em cada lugar. "É um
trabalho de filosofia a partir da
dança e na dança", diz Estelamare. Ela explica: "Jamet pede para
você escrever alguma coisa, antes
de se mover. Por exemplo: "Qual o
maior medo que você já sentiu?
Escreva os sentimentos desse momento". Depois pede que você trabalhe sozinho os movimentos. Só
então ele volta e vai dirigindo, vai
investigando as coisas".
Segundo Jamet, seu trabalho é
voltado para "o encontro dos seres, para descobrir o que amam, o
que sentem, o que são. O que é
importante fazer e dizer hoje. Dar
conta das intimidades é falar de
você e dos outros, da cultura, dos
sonhos, da utopia".
INTIMIDADES. Quando: de hoje a dia 20.
Onde: Oficina Cultural Oswald de
Andrade (r. Três Rios, 363, SP; tels. 0/xx/11/221-4704 ou 222-2662). Os
interessados devem comparecer (com
currículo) até quarta na Oficina.
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