|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LITERATURA
"Coyote" aporta visões distintas da nova poesia
JULIÁN FUKS
DA REPORTAGEM LOCAL
Como a poesia brasileira lutou e
luta para se distanciar da encruzilhada em que foi colocada pelo
movimento concretista, que lhe
polvilhou os alicerces do verso, da
palavra e da página impressa? Essa é a questão central de um interessante diálogo que transcende
décadas e agora se estampa no 13º
número da revista literária "Coyote" (R$ 10), que chega às livrarias, por ora só Cultura e Fnac.
De um lado, o poeta-mito Paulo
Leminski -em entrevista inédita
concedida em 1982 a Rodrigo
Garcia Lopes, editor da revista-
afirmando a impossibilidade do
artista, nestes ou naqueles tempos
"em que tudo está parado", de
"inventar uma revolução a qualquer hora" ou "ter seu nome associado a um "ismo" qualquer".
De outro, o mais contemporâneo Cláudio Daniel, "Pensando a
Poesia Brasileira em Cinco Atos"
e fazendo um sucinto porém minucioso escrutínio das criações
pós-concretismo, tomadas desde
o próprio Leminski até Carlito
Azevedo e Glauco Mattoso. Para
Daniel, ainda mais pessimista,
"não sendo possível dar o passo
adiante, a crise se traduziu no retorno às formas tradicionais, aceitas e canonizadas pela academia".
Entre as coincidências de avaliação, a curiosa menção do compositor Torquato Neto como figura central da poesia nestas décadas, "o Nosferatu que soube
unir construtivismo e informalidade pop", segundo Daniel.
Mas nem só de crise e superação
vive a literatura, ou mesmo a revista "Coyote". Dividindo as páginas da edição, vale também destaque o possível início de uma nova
empreitada para o paranaense
Caetano Waldrigues Galindo.
Tendo terminado sua tradução
completa do "Ulisses", de James
Joyce, agora ele se dedica ao igualmente polpudo "Infinite Jest", do
norte-americano David Foster
Wallace, que Galindo considera
"o romance mais interessante dos
anos 90". Na revista, um trecho
inicial define o tom da obra e da
tradução.
Por fim, valem menção os poemas da obra "De Glasgow a Saturno", do escocês Edwin Morgan
-traduzidos por Virna Teixeira-, e os de escritoras beduínas
árabes, adaptados a partir do original por Alberto Mussa. De resto,
um e outro punhado de poesia e
prosa que, com tempo e sorte,
quem sabe não desmentem o pessimismo de Leminski e Daniel.
Texto Anterior: Quadrinhos: Editora se une a especialistas e cria selo só para HQs Próximo Texto: Artes Cênicas: Três revistas analisam caminhos do teatro atual Índice
|