São Paulo, quinta-feira, 05 de janeiro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

LITERATURA

"Coyote" aporta visões distintas da nova poesia

JULIÁN FUKS
DA REPORTAGEM LOCAL

Como a poesia brasileira lutou e luta para se distanciar da encruzilhada em que foi colocada pelo movimento concretista, que lhe polvilhou os alicerces do verso, da palavra e da página impressa? Essa é a questão central de um interessante diálogo que transcende décadas e agora se estampa no 13º número da revista literária "Coyote" (R$ 10), que chega às livrarias, por ora só Cultura e Fnac.
De um lado, o poeta-mito Paulo Leminski -em entrevista inédita concedida em 1982 a Rodrigo Garcia Lopes, editor da revista- afirmando a impossibilidade do artista, nestes ou naqueles tempos "em que tudo está parado", de "inventar uma revolução a qualquer hora" ou "ter seu nome associado a um "ismo" qualquer".
De outro, o mais contemporâneo Cláudio Daniel, "Pensando a Poesia Brasileira em Cinco Atos" e fazendo um sucinto porém minucioso escrutínio das criações pós-concretismo, tomadas desde o próprio Leminski até Carlito Azevedo e Glauco Mattoso. Para Daniel, ainda mais pessimista, "não sendo possível dar o passo adiante, a crise se traduziu no retorno às formas tradicionais, aceitas e canonizadas pela academia".
Entre as coincidências de avaliação, a curiosa menção do compositor Torquato Neto como figura central da poesia nestas décadas, "o Nosferatu que soube unir construtivismo e informalidade pop", segundo Daniel.
Mas nem só de crise e superação vive a literatura, ou mesmo a revista "Coyote". Dividindo as páginas da edição, vale também destaque o possível início de uma nova empreitada para o paranaense Caetano Waldrigues Galindo. Tendo terminado sua tradução completa do "Ulisses", de James Joyce, agora ele se dedica ao igualmente polpudo "Infinite Jest", do norte-americano David Foster Wallace, que Galindo considera "o romance mais interessante dos anos 90". Na revista, um trecho inicial define o tom da obra e da tradução.
Por fim, valem menção os poemas da obra "De Glasgow a Saturno", do escocês Edwin Morgan -traduzidos por Virna Teixeira-, e os de escritoras beduínas árabes, adaptados a partir do original por Alberto Mussa. De resto, um e outro punhado de poesia e prosa que, com tempo e sorte, quem sabe não desmentem o pessimismo de Leminski e Daniel.


Texto Anterior: Quadrinhos: Editora se une a especialistas e cria selo só para HQs
Próximo Texto: Artes Cênicas: Três revistas analisam caminhos do teatro atual
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.