São Paulo, quinta-feira, 05 de janeiro de 2006

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Série de 20 CDs chega às lojas com os primeiros discos de artistas que faziam "música jovem" nos anos 60, alguns anteriores e outros que vieram na esteira da jovem guarda; do total da coleção, 13 discos ainda não haviam sido lançados em formato digital

JG

RONALDO EVANGELISTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Eram 16h30 do dia 22 de agosto de 1965. Na rua da Consolação, em São Paulo, o auditório da TV Record estava completamente lotado de garotas beirando a histeria. No palco, e ao vivo nos televisores Brasil afora, Roberto Carlos, Erasmo Carlos, Wanderléa e vários convidados: era a estréia do programa semanal "Jovem Guarda", coroação definitiva de toda uma geração produzindo e consumindo cultura jovem, música e comportamento.
Foi há 40 anos, mas a memória ainda é recente, e os frutos ainda estão sendo colhidos. No recém-terminado 2005, aproveitando o gancho dos 40 anos do programa e do "movimento" jovem guarda, tivemos reencontros, tributos, revisões de carreira e, é claro, relançamentos. Os três principais artistas, Roberto, Erasmo e Wanderléa, tiveram discos relançados em boxes, e agora uma série de 20 CDs (pela EMI, a R$ 20, em média, cada um) chega às lojas, revelando paralelos, subprodutos, derivados e personagens.
Detalhe curioso é que, além dos esperados discos do estilo, a série traz na bagagem artistas pré e pós-jovem guarda, revelando origens e destinos do "movimento". Temos Tony e Celly Campello, primeiras estrelas do rock no Brasil, quando rock ainda era sinônimo de twist ingênuo e romântico. E temos os discos-solo da cantora Evinha, ex-vocalista do Trio Esperança (leia ao lado). O Trio Esperança, que também tem dois discos relançados, nunca foi exatamente jovem guarda, mas se encaixa em certo conceito de "música jovem" da época.
Marcelo Fróes, autor do livro "Jovem Guarda - Em Ritmo de Aventura" e idealizador do site www.jovemguarda.com.br, que coordena a coleção, explica: "O distanciamento permite verificar que todos fazem parte da história de nosso pop-rock e isso é mais importante que o rótulo limitador de jovem guarda, se formos considerar apenas o programa de TV que rolou entre 1965 e 1968. Aproveito sempre para resgatar discos da chamada "música jovem'".
Dos 20 discos relançados, 13 eram inéditos no formato digital. Via de regra, a série relança discos de estréia (ou os dois primeiros discos) de artistas quase todos do segundo escalão da jovem guarda -mas nem por isso desprovidos de qualidade ou diversão. De Eduardo Araújo, por exemplo, é um dos discos mais divertidos da coleção, produzido e quase todo composto por Carlos Imperial, passando longe da seriedade, com hits como "O Bom".
Outros discos incluem o futuramente caipira Sergio Reis, o conjunto instrumental The Jordans, o romantismo dramático de Wanderley Cardoso, o conjunto Golden Boys e a cantora Silvinha, da divertida "Professor Particular".
Em uma época em que lotam os bailes descolados de grupos como Del Rey e Lafayette e os Tremendões -formados por membros de bandas jovens como Mombojó e Autoramas-, é interessante rever a jovem guarda além de sua ingenuidade e rebeldia light.
O pesquisador Fróes é da opinião de que não se deve comparar a importância cultural da jovem guarda com movimentos como bossa nova e tropicália, porque estes não foram fenômenos de massa. Ele comenta: "Mercadologicamente, a jovem guarda foi o maior movimento musical, porque foi a primeira vez que o público jovem teve o ímpeto de ir à loja de discos para comprar. Até hoje ela sobrevive ano a ano, independentemente de aniversários, como a bossa nova -embora esta não venda tanto disco. A jovem guarda continua ativa, independentemente dos 41 anos".


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