São Paulo, sexta-feira, 05 de janeiro de 2007

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Última Moda

Alcino Leite Neto - ultima.moda@folha.com.br

O avô dos jeans visita Buenos Aires

Levi's mostra modelos históricos na Argentina; curadora diz que a marca passou por reformulação total para enfrentar as novas grifes de jeans premium

DENISE MOTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Pela primeira vez, o combalido Nevada, de 1880 -o par de calças jeans mais antigo de que se tem notícia-, desce as ladeiras de San Francisco (EUA) para visitar o sul do Equador. Até 16 de fevereiro, Buenos Aires sedia uma exposição de peças históricas da Levi's que a companhia organiza a fim de apresentar seus arquivos ao redor do mundo. A mostra não tem exibição prevista no Brasil.
A Levi's investe também na divulgação de sua história no quartel-general californiano.
A marca está construindo um "museu" nos EUA para que o público possa ver suas peças mais famosas.
Na Argentina, além de roupas também estão à mostra pôsteres, fotos e documentos do período entre 1873 e 1940, quando a loja de tecidos do imigrante alemão Levi Strauss passou a oferecer peças resistentes, pensadas para agüentar a jornada dos mineiros.
Sobre o pioneirismo mas também sobre as turbulências sofridas pela marca nos últimos anos, Stacia Fink, historiadora e curadora da mostra, conversou com a Folha, de seu escritório em San Francisco.

 

FOLHA - Por que realizar exposições históricas e por que as peças e documentos vão somente até 1940?
STACIA FINK -
Uma coisa é dizer "somos o original", outra é ver peças verdadeiramente confeccionadas no século 19. Os visitantes ficam surpresos com a beleza e as características das roupas. O desgaste que elas mostram é do mineiro ou do caubói que as usou de fato em sua vida diária, não é produto de um processo de lavagem.
A mostra foi planejada para apresentar modelos de nossos anos iniciais, incluindo o primeiro "blue jeans". Decidimos nos concentrar, então, entre 1873 e os anos 30, mais ou menos, que marcaram o início da confecção dos "waist overalls" (macacões), como os jeans eram chamados.
Antes disso, a Levi Strauss & Co. era uma companhia atacadista de tecidos e aviamentos. Tinha catálogos com roupas para homens, mulheres e crianças, artigos domésticos, materiais de costura, calças e centenas de outros itens. A exposição foi para a Argentina porque o país nos convidou.

FOLHA - Na sua opinião, que características fizeram das calças jeans a peça mais popular do planeta?
FINK -
Os jeans são icônicos. É uma roupa para todos. De presidentes a trabalhadores, homens e mulheres incorporaram os jeans e os transformaram em peças pessoais. Os jeans passaram na prova do tempo e são usados por pessoas com os mais diversos modos de vida, em todos os lugares. Nota-se isso hoje mais do que nunca.

FOLHA - Nos últimos anos, a Levi's viu sua fatia de mercado ser invadida por um conjunto de marcas premium, e a imagem da empresa envelheceu bastante junto aos jovens. O que aconteceu?
FINK -
O mercado do denim mudou muito na última década, devido principalmente a transformações fundamentais nos meios de produção do jeans, antes de domínio das principais companhias do setor. Hoje a maioria dos jeans está sendo produzida por confecções independentes globalmente. Essa mudança diminuiu a barreira para novas marcas, que não necessitam ter uma fábrica para entrar no negócio. Disso resultou uma imensa proliferação de concorrentes. Enquanto a enxurrada de novos concorrentes acontecia no final dos anos 90, a marca Levi's estava satisfeita depois de vivenciar dez anos de recordes de vendas. Não atualizou sua linha de produtos e começou a perder passo nas transformações cruciais das tendências em denim que se verificaram nos últimos anos da década passada. O resultado foi que novas marcas começaram a liderar as inovações de estilo, a Levi's foi lenta para responder e perdeu mercado para esses concorrentes mais ágeis.

FOLHA - De que forma a Levi's está reagindo a essas e outras mudanças, como a customização?
FINK -
A Levi's passou por uma reviravolta que durou muitos anos e exigiu a revisão de todo o seu modelo empresarial, incluindo o modo como criava, desenhava, produzia e levava os jeans ao mercado. A quantidade de tempo requerida para desenvolver um novo modelo e levá-lo às lojas foi reduzida de 12 a 15 meses para cerca de seis meses ou menos.
Todo o processo foi revisto, e também foram atualizados e melhorados os caimentos, tecidos e acabamentos. Diversas consultas junto a milhares de consumidores foram feitas para criar o melhor jeans possível. Mais energia e recursos foram investidos no desenvolvimento de conceitos inovadores para novos produtos. O resultado desse trabalho de atualização na Levi's nos últimos anos é que a marca está crescendo novamente.


A exposição: na Icon Store Circle, da Levi's (r. El Salvador 4.714, Palermo, em Buenos Aires). Até 16/2.

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Um item obrigatório na estante fashionista

Formado em medicina, Marco Sabino dedicou-se pouco à profissão. Preferiu embrenhar-se na criação de bijoux e estudar moda, uma de suas paixões. Nos últimos três anos, enfrentou uma tarefa titânica: escrever um "Dicionário da Moda" de 668 páginas, com 1.485 verbetes e mais de 800 fotos e ilustrações (ed. Campus/Elsevier, R$ 159).
O principal mérito do livro é a exaustiva apuração que o autor fez sobre as personalidades, as instituições, as indústrias, os estilos e as publicações de moda no Brasil. Não é à toa que o dicionário abre com o verbete "A Cigarra", sobre a revista que circulou até os anos 70, e termina com "Zuzu Angel".
É o conjunto dos "verbetes brasileiros" que torna este livro imprescindível aos que se interessam por moda, mesmo àqueles que já têm os melhores dicionários fashion lançados nos EUA e na França.
A redação dos verbetes é discreta, imparcial e objetiva -embora algumas vezes omita informações essenciais, como datas de nascimento (a de Hedi Slimane, por exemplo). Alguns verbetes mereceriam mais espaço, como "prêt-à-porter", apresentado em sete linhas, enquanto "pretinho básico" ganhou 21.
São problemas menores num livro relevante para a bibliografia brasileira de moda, editado com esmero e elegância, e que traz ainda simpáticas colagens feitas pelo autor para ilustrar looks e coleções. (ALN)

Um panorama da moda atual

"Pelo Mundo da Moda" reúne reportagens realizadas por Lilian Pacce, uma das principais jornalistas fashion do país, em quase 20 anos de trabalho na imprensa escrita e na televisão.
O livro (ed. Senac, R$ 75) tem prefácio da estilista Vivienne Westwood e está dividido em três partes. A primeira -e mais rica- traz perfis e entrevistas com vários designers, de Pierre Cardin a Marc Jacobs. A segunda aborda algumas poderosas grifes internacionais na perspectiva de seus negócios e de coleções específicas. A terceira parte é dedicada às modelos e constitui um dos mais completos apanhados já feitos em livro no Brasil sobre estas estrelas da moda.
Graças à edição cuidadosa e ao texto claro, o leitor atravessa as 520 páginas com agilidade e interesse.
Alguns artigos mais datados, de ocasião, pontuam o livro, mas não chegam a incomodar a leitura. No conjunto, as reportagens traçam um panorama rico e informativo a respeito da moda atual. (ALN)

FIOS E TRAMAS
O livro "Fio a Fio - Tecidos, Moda e Linguagem" (ed. Estação das Letras, 160 págs., R$ 32), da pesquisadora de moda Gilda Chataignier, é uma importante -e rara, no Brasil- pesquisa sobre as especificidades de centenas de têxteis disponíveis atualmente no mercado, dos tradicionais aos tecnológicos. A autora apresenta os tecidos de maneira didática, clara e com informações completas, situando-os também na história da moda. (VW)

AS FACES DA MODA
Ao traçar um panorama das relações sociais e simbólicas da moda nos últimos 150 anos, a socióloga Diane Crane conseguiu reunir em seu livro "A Moda e Seu Papel Social" (ed. Senac, 449 págs., R$ 65) um número respeitável de informações históricas, sempre arrematadas por comentários, pesquisas e reflexões bastante conectados às discussões contemporâneas sobre estilo, mercado consumidor e status. Imperdível. (VW)

com VIVIAN WHITEMAN


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