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Última Moda
Alcino Leite Neto - ultima.moda@folha.com.br
O avô dos jeans visita Buenos Aires
Levi's mostra modelos históricos na Argentina; curadora diz que a marca passou por reformulação total para enfrentar as novas grifes de jeans premium
DENISE MOTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Pela primeira vez, o combalido Nevada, de 1880 -o par de calças jeans
mais antigo de que se tem notícia-,
desce as ladeiras de San Francisco
(EUA) para visitar o sul do Equador. Até 16 de fevereiro, Buenos
Aires sedia uma exposição de peças históricas da Levi's que a
companhia organiza a fim de
apresentar seus arquivos ao redor do mundo. A mostra não
tem exibição prevista no Brasil.
A Levi's investe também na
divulgação de sua história no
quartel-general californiano.
A marca está construindo
um "museu" nos EUA para
que o público possa ver
suas peças mais famosas.
Na Argentina, além de
roupas também estão à
mostra pôsteres, fotos e
documentos do período
entre 1873 e 1940, quando a loja de tecidos do
imigrante alemão Levi
Strauss passou a oferecer peças resistentes,
pensadas para agüentar a jornada dos mineiros.
Sobre o pioneirismo mas também sobre as turbulências
sofridas pela marca
nos últimos anos,
Stacia Fink, historiadora e curadora
da mostra, conversou com a Folha,
de seu escritório
em San Francisco.
FOLHA - Por que
realizar exposições
históricas e por que
as peças e documentos vão somente até 1940?
STACIA FINK - Uma coisa é dizer
"somos o original", outra é ver peças verdadeiramente confeccionadas no século 19. Os visitantes
ficam surpresos com a beleza e as
características das roupas. O desgaste que elas mostram é do mineiro ou do caubói que as usou de
fato em sua vida diária, não é produto de um processo de lavagem.
A mostra foi planejada para
apresentar modelos de nossos
anos iniciais, incluindo o primeiro
"blue jeans". Decidimos nos concentrar, então, entre 1873 e os
anos 30, mais ou menos, que marcaram o início da confecção dos
"waist overalls" (macacões), como
os jeans eram chamados.
Antes disso, a Levi Strauss & Co.
era uma companhia atacadista de
tecidos e aviamentos. Tinha catálogos com roupas para homens,
mulheres e crianças, artigos domésticos, materiais de costura,
calças e centenas de outros itens.
A exposição foi para a Argentina
porque o país nos convidou.
FOLHA - Na sua opinião, que características fizeram das calças jeans a peça
mais popular do planeta?
FINK - Os jeans são icônicos. É
uma roupa para todos. De presidentes a trabalhadores, homens e
mulheres incorporaram os jeans e
os transformaram em peças pessoais. Os jeans passaram na prova
do tempo e são usados por pessoas
com os mais diversos modos de
vida, em todos os lugares. Nota-se isso hoje mais do que nunca.
FOLHA - Nos últimos anos, a Levi's
viu sua fatia de mercado ser invadida
por um conjunto de marcas premium, e a imagem da empresa envelheceu bastante junto aos jovens.
O que aconteceu?
FINK - O mercado do denim
mudou muito na última década, devido principalmente a
transformações fundamentais nos meios de produção
do jeans, antes de domínio
das principais companhias
do setor. Hoje a maioria dos
jeans está sendo produzida
por confecções independentes globalmente. Essa
mudança diminuiu a barreira para novas marcas,
que não necessitam ter
uma fábrica para entrar
no negócio. Disso resultou uma imensa proliferação de concorrentes.
Enquanto a enxurrada de novos concorrentes acontecia no final
dos anos 90, a marca
Levi's estava satisfeita
depois de vivenciar
dez anos de recordes
de vendas. Não atualizou sua linha de
produtos e começou
a perder passo nas
transformações cruciais das tendências
em denim que se
verificaram nos últimos anos da década passada. O
resultado foi que
novas marcas começaram a liderar
as inovações de estilo, a Levi's foi lenta para responder e perdeu mercado para esses concorrentes mais ágeis.
FOLHA - De que forma a Levi's está
reagindo a essas e outras mudanças,
como a customização?
FINK - A Levi's passou por uma reviravolta que durou muitos anos e
exigiu a revisão de todo o seu modelo empresarial, incluindo o modo como criava, desenhava, produzia e levava os jeans ao mercado. A quantidade de tempo requerida para desenvolver um novo
modelo e levá-lo às lojas foi reduzida de 12 a 15 meses para cerca de
seis meses ou menos.
Todo o processo foi revisto, e
também foram atualizados e melhorados os caimentos, tecidos e
acabamentos. Diversas consultas
junto a milhares de consumidores
foram feitas para criar o melhor
jeans possível. Mais energia e recursos foram investidos no desenvolvimento de conceitos inovadores para novos produtos. O resultado desse trabalho de atualização
na Levi's nos últimos anos é que a
marca está crescendo novamente.
A exposição: na Icon Store Circle, da Levi's (r. El Salvador 4.714, Palermo, em Buenos Aires). Até 16/2.
Livros >> Lançamentos
Um item obrigatório na estante fashionista
Formado em medicina, Marco Sabino dedicou-se
pouco à profissão. Preferiu embrenhar-se na criação de bijoux e estudar
moda, uma de suas paixões. Nos últimos três
anos, enfrentou uma tarefa titânica: escrever um
"Dicionário da Moda" de
668 páginas, com 1.485
verbetes e mais de 800 fotos e ilustrações (ed. Campus/Elsevier, R$ 159).
O principal mérito do livro é a exaustiva apuração
que o autor fez sobre as
personalidades, as instituições, as indústrias, os
estilos e as publicações de
moda no Brasil. Não é à
toa que o dicionário abre
com o verbete "A Cigarra",
sobre a revista que circulou até os anos 70, e termina com "Zuzu Angel".
É o conjunto dos "verbetes brasileiros" que torna este livro imprescindível aos que se interessam
por moda, mesmo àqueles
que já têm os melhores dicionários fashion lançados nos EUA e na França.
A redação dos verbetes é
discreta, imparcial e objetiva -embora algumas vezes omita informações essenciais, como datas de
nascimento (a de Hedi Slimane, por exemplo). Alguns verbetes mereceriam mais espaço, como
"prêt-à-porter", apresentado em sete linhas, enquanto "pretinho básico"
ganhou 21.
São problemas menores
num livro relevante para a
bibliografia brasileira de
moda, editado com esmero e elegância, e que traz
ainda simpáticas colagens
feitas pelo autor para ilustrar looks e coleções.
(ALN)
Um panorama da moda atual
"Pelo Mundo da Moda"
reúne reportagens realizadas por Lilian Pacce,
uma das principais jornalistas fashion do país, em
quase 20 anos de trabalho
na imprensa escrita e na
televisão.
O livro
(ed. Senac,
R$ 75) tem
prefácio da
estilista Vivienne
Westwood
e está dividido em
três partes.
A primeira
-e mais rica- traz
perfis e entrevistas
com vários designers, de
Pierre Cardin a Marc Jacobs. A segunda aborda algumas poderosas grifes
internacionais na perspectiva de seus negócios e
de coleções específicas. A
terceira parte é dedicada
às modelos e constitui um
dos mais completos apanhados já feitos em livro
no Brasil sobre estas estrelas da moda.
Graças à
edição cuidadosa e ao
texto claro,
o leitor
atravessa
as 520 páginas com
agilidade e
interesse.
Alguns
artigos
mais datados, de ocasião, pontuam o livro, mas não chegam a incomodar a leitura. No
conjunto, as reportagens
traçam um panorama rico
e informativo a respeito
da moda atual.
(ALN)
FIOS E TRAMAS
O livro "Fio a Fio - Tecidos, Moda e Linguagem"
(ed. Estação das Letras,
160 págs., R$ 32), da pesquisadora de moda Gilda
Chataignier, é uma importante -e rara, no Brasil- pesquisa sobre as especificidades de centenas
de têxteis disponíveis
atualmente no mercado,
dos tradicionais aos tecnológicos. A autora apresenta os tecidos de maneira didática, clara e com
informações completas,
situando-os também na
história da moda.
(VW)
AS FACES DA MODA
Ao traçar um panorama
das relações sociais e simbólicas da moda nos últimos 150 anos, a socióloga
Diane Crane conseguiu
reunir em seu livro "A
Moda e Seu Papel Social"
(ed. Senac, 449 págs., R$
65) um número respeitável de informações históricas, sempre arrematadas por comentários, pesquisas e reflexões bastante conectados às discussões contemporâneas sobre estilo, mercado consumidor e status. Imperdível.
(VW)
com VIVIAN WHITEMAN
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