São Paulo, sexta-feira, 05 de janeiro de 2007

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Crítica/"O Planeta Branco"

Documentário alerta sobre aquecimento

CLAUDIO ANGELO
EDITOR DE CIÊNCIA

Um urso polar solitário chapinha sobre uma placa de gelo marinho derretido. Ele desliza pateticamente, tentando se manter de pé. O gelo se esfarela sob seus pés. Ele cai na água e tenta subir novamente na banquisa. O gelo se rompe. Ele olha para os lados, indeciso e surpreso, e arrisca novamente. Novamente o gelo se rompe. Os dois minutos de agonia do animal são a seqüência de imagens mais poderosa de "O Planeta Branco", documentário dos franceses Thierry Piantanida e Thierry Ragobert que estréia hoje em São Paulo, abrindo o Ano Polar Internacional.
Ao retratar a impotência do maior predador terrestre diante do derretimento do gelo que outrora lhe fornecera comida e abrigo, os diretores resumem a tragédia que se abate sobre toda uma região do planeta, o Ártico, que desaparece sob nossos olhos devido ao aquecimento acelerado da atmosfera. O filme é uma espécie de "carnaval dos animais" polar, que acompanha a fauna ártica -do zooplâncton às baleias, dos lobos às renas- durante um ano. Mas não espere encontrar aqui aves fazendo declarações de amor umas às outras.
Apesar de também ser francês, "O Planeta Branco" está, em mais de um sentido, em pólos opostos a seu congênere mais famoso (e piegas), "A Marcha dos Pingüins". Quem domina é a natureza, "manchada de sangue em dentes e garras", nos dizeres de Tennyson. A narração, onde ela existe, é seca, quase descritiva. As imagens falam pelo filme, auxiliadas pela primorosa trilha musical de Bruno Coulais ("Microcosmos") -com direito a harpas à Saint-Saëns e a um coral inuit.
A interferência humana relatada pelo filme é mais sutil e também mais sinistra. Ela rasteja pelos bastidores, como se estivesse pronta para fazer todo aquele mundo se dissolver como uma placa de gelo, a qualquer momento. O recado dos documentaristas é claro: o Ártico está acabando e vai acabar. Tentamos salvá-lo, ao menos por imagens. Aproveite e veja-o enquanto pode.

O PLANETA BRANCO
   
Direção: Thierry Piantanida, Thierry Ragobert
Produção: França/Canadá, 2006
Quando: em cartaz no Espaço Unibanco, Reserva Cultural e circuito


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