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Crítica/"O Planeta Branco"
Documentário alerta sobre aquecimento
CLAUDIO ANGELO
EDITOR DE CIÊNCIA
Um urso polar solitário
chapinha sobre uma
placa de gelo marinho
derretido. Ele desliza pateticamente, tentando se manter de
pé. O gelo se esfarela sob seus
pés. Ele cai na água e tenta subir novamente na banquisa. O
gelo se rompe. Ele olha para os
lados, indeciso e surpreso, e arrisca novamente. Novamente o
gelo se rompe. Os dois minutos
de agonia do animal são a seqüência de imagens mais poderosa de "O Planeta Branco", documentário dos franceses
Thierry Piantanida e Thierry
Ragobert que estréia hoje em
São Paulo, abrindo o Ano Polar
Internacional.
Ao retratar a impotência do
maior predador terrestre diante do derretimento do gelo que
outrora lhe fornecera comida e
abrigo, os diretores resumem a
tragédia que se abate sobre toda uma região do planeta, o Ártico, que desaparece sob nossos
olhos devido ao aquecimento
acelerado da atmosfera.
O filme é uma espécie de
"carnaval dos animais" polar,
que acompanha a fauna ártica
-do zooplâncton às baleias,
dos lobos às renas- durante
um ano. Mas não espere encontrar aqui aves fazendo declarações de amor umas às outras.
Apesar de também ser francês,
"O Planeta Branco" está, em
mais de um sentido, em pólos
opostos a seu congênere mais
famoso (e piegas), "A Marcha
dos Pingüins". Quem domina é
a natureza, "manchada de sangue em dentes e garras", nos dizeres de Tennyson. A narração,
onde ela existe, é seca, quase
descritiva. As imagens falam
pelo filme, auxiliadas pela primorosa trilha musical de Bruno Coulais ("Microcosmos")
-com direito a harpas à Saint-Saëns e a um coral inuit.
A interferência humana relatada pelo filme é mais sutil e
também mais sinistra. Ela rasteja pelos bastidores, como se
estivesse pronta para fazer todo aquele mundo se dissolver
como uma placa de gelo, a qualquer momento. O recado dos
documentaristas é claro: o Ártico está acabando e vai acabar.
Tentamos salvá-lo, ao menos
por imagens. Aproveite e veja-o
enquanto pode.
O PLANETA BRANCO
Direção: Thierry Piantanida, Thierry Ragobert
Produção: França/Canadá, 2006
Quando: em cartaz no Espaço Unibanco, Reserva Cultural e circuito
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