São Paulo, sexta-feira, 05 de janeiro de 2007

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Crítica/"Você É Tão Bonito"

Comédia francesa se perde entre crítica social e romance

CRÍTICO DA FOLHA

Equívocos e inadequações são o ponto de partida da maior parte das comédias. O riso, mesmo quando amargo, provém de assistirmos a personagens enfrentarem com ar de seriedade situações em que estão postos fora de lugar. Fiel a esse princípio, "Você É Tão Bonito" mistura, à francesa, a fórmula a uma vaga idéia de denúncia social.
O filme narra os qüiproquós de um fazendeiro recém-viúvo em busca de uma nova esposa capaz de tolerar a vida no campo. Estimulado por uma agência de casamento, vai à Romênia, onde as mulheres aceitam tudo para imigrar à França.
Desse modo, o filme articula duas situações de personagens "fora do lugar" para extrair delas os efeitos cômicos.
De um lado, o homem rural e sem nenhum charme (interpretado com o habitual brilho opaco por Michel Blanc), mesmo atônito diante da perda de valores (um esboço de crítica aos efeitos da globalização e aos desequilíbrios acentuados pela União Européia), decide procurar uma mulher na Romênia.
De outro, a imigrante jovem e urbana que parte para o país dos seus sonhos e que encontra pessoas simplórias e competições de coelho mais gordo, distantes do luxo parisiense.
De um modo leve, a atriz e roteirista Isabelle Mergault na estréia como diretora filma o roteiro previsível, mas não dá conta nem do potencial cômico nem das ironias políticas da situação que narra.
Sua escolha por dar um arremate romântico às situações equivocadas que movem o humor joga o significado do filme na mesma armadilha que pretende denunciar. Enquanto na primeira parte vigora uma moral de que "amor não se compra", na segunda, esse lema vira "ao dinheiro todos se vendem".
Simpático, mas ineficiente, "Você É Tão Bonito" passa bem longe das comédias de absurdos com que o recente cinema romeno tem mostrado de modo cáustico a história e o quadro social do país. (CSC)

VOCÊ É TÃO BONITO   
Direção: Isabelle Mergault
Produção: França, 2006
Com: Michel Blanc, Medeea Marinescu
Quando: em cartaz no Espaço Unibanco, HSBC Belas Artes e Reserva Cultural


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