São Paulo, quarta-feira, 05 de janeiro de 2011

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Nova ministra evita pontos nevrálgicos

Ana de Hollanda assume MinC com discurso poético sem citar as reformas da Lei Rouanet e do Direito Autoral

Discurso em cerimônia enfatizou promessas simples como pontos de cultura e aliança com Ministério da Educação

Sergio Lima/Folhapress
O ex-ministro Juca Ferreira cumprimenta a recém-empossada Ana de Hollanda na cerimônia de transmissão de cargo

ANA PAULA SOUSA
ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA

O convescote destinado a celebrar a posse de Ana de Hollanda, 62, anteontem em Brasília, deixou claro que, a despeito de se tratar de um governo de continuidade, há uma troca de guarda no Mistério da Cultura.
O "jantar de adesão" -expressão que pode ser traduzida como algo no estilo "cada um paga o seu"- realizado anteontem no restaurante nordestino Mangai, marcou a saída de cena de quase todos os nomes não petistas da pasta.
Quem mais recebia apertos de mão, depois da ministra, eram os nomes ligados ao partido, como o do ator Antonio Grassi e o do presidente da Funai (Fundação Nacional do Índio), Márcio Meira.
Se, algumas horas antes, na cerimônia de transmissão de cargo, no Museu da República, o legado de Gilberto Gil e Juca Ferreira ainda era protagonista, no Mangai ele já havia se transformado em coadjuvante.
Os nomes dos novos secretários de Estado e diretores das instituições vinculadas à pasta eram cochichados de mesa em mesa.
Já o destino da nova Lei Rouanet, em trâmite no Congresso, se transformou em motivo de saia justa entre os petistas que apoiaram a reforma e, agora, farejam um recuo.

BUMBA
Nada disso, porém, esteve na fala da nova ministra.
No Museu da República, bumba meu boi e bateria de escola de samba repetiram aquilo que fizera Gil ao empossar seu secretariado, em 2003, e homenagearam o legado cultural dos anos do presidente Lula.
A estratégia mostrou-se certeira no momento em que o mestre de cerimônias disse obrigado a Ferreira. O auditório explodiu em palmas.
Ana de Hollanda abriu um sorriso e respirou fundo. Ao tomar o microfone, a nova ministra disse estar sentindo "uma alegria densa".
"Este é um momento de emoção, felicidade e compromisso", afirmou, com a voz aveludada que, durante a leitura do discurso, viria a cometer alguns tropeços e pediria água para aliviar a garganta seca.
Hollanda havia se emocionado antes mesmo de começar a discursar ao ver o ex-ministro com a voz embargada e ao ouvir as palavras que Antonio Candido, amigo de seus pais, escrevera em um bilhete afetivo.

FUGINDO DA POLÊMICA
Marcado por frases de torneado poético, seu discurso fugiu dos pontos polêmicos. Assuntos como as reformas da Lei Rouanet e da Lei do Direito Autoral não foram sequer mencionadas.
Suas promessas, por ora, se concentraram nos assuntos pacíficos. Ela garantiu a continuidade dos pontos de cultura e pediu que o Congresso aprove logo o vale-cultura.
"A presidente Dilma tem o compromisso de erradicar a miséria e melhorar a qualidade de vida", afirmou. "Mas a realização plena dessas pessoas significa acesso à cultura e à arte."
O que Hollanda trouxe de novo foi a ênfase na aliança com o Ministério da Educação e a aproximação estratégica com outras áreas do governo: "O ministério não será uma senhora excêntrica".

ARTISTAS X POPULAÇÃO
Apesar da cautela, Hollanda desagradou alguns dos presentes por acariciar os criadores.
Os riscos de uma gestão voltada aos artistas, e não à população, não passaram desapercebidos pelos líderes de entidades culturais que vieram ao Planalto com suas bandeiras políticas.


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