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NELSON ASCHER
Attila József entre parênteses
Ninguém é expulso por texto medíocre. Fosse assim, o ensino superior não teria corpo docente
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A POESIA madura do húngaro
Attila József (1905-37) se
inaugura com um poema que,
escrito quando tinha 20 anos de idade, motivou sua saída do curso de
Letras da Universidade de Szeged
(pronuncia-se "Ségued": segunda
maior cidade do país). O que irritou
o superior hierárquico deve ter sido,
numa época de nacionalismo clericalista, a clareza alegremente assumida de seu anarquismo juvenil.
Censura e afastamento no lugar
das láureas ou aplausos libertaram-no dos compromissos a que os precocemente reconhecidos freqüentemente cedem. O poeta deu um passo
na direção certa, mas foi o decano da
faculdade que lhe assegurou a irreversibilidade.
Antal Horger, um lingüista competente, foi o primeiro a reconhecer,
embora com sinal negativo, a grandeza do poema e do autor. Afinal,
ninguém expulsa alguém por um
texto medíocre. Fosse assim, o ensino superior não teria mais corpo docente nem discente.
O poema com que, 12 anos depois,
József encerra sua carreira é uma
balada escrita no dia de seu último
aniversário (ele se suicidou no mesmo ano) com o intuito de rememorar o acontecido. Este nada tem de
rancoroso e seu bom humor se expressa no virtuosismo jubiloso de
suas rimas e jogos de palavras. A essa
altura, o poeta já sabia que sua melhor vingança teria sido se esquecer
do "algoz", mas, como bom Mozart
moderno, ele não resistiu à tentação
de nomear seu Salieri.
O poema, que coroa 12 anos durante os quais ele triunfara em seus
termos, é a maneira pela qual o autor se reapropria conscientemente
não só do anterior que, com sucesso
de escândalo, o lançara na sua trajetória meteórica, mas também de todos os acidentes de percurso que este acarretara.
Entre ambos os parênteses poéticos e cronologicamente demarcados inclusive dentro de cada um dos
textos ("Meus vinte anos pujantes"
e "Hoje cheguei aos trinta e dois")
ardeu, brilhou e finalmente se autodestruiu um talento que só não é o
maior da Hungria porque, por um
lado, aquela nação do tamanho de
Portugal abrigou, no século 20, mais
de meia dúzia de poetas do nível de
Fernando Pessoa e, por outro, porque essas hipérboles não fazem sentido, uma vez que os grandes criadores deixam, acima de certo nível,
de ser comparáveis.
Faz mais de três décadas que
traduzo e retraduzo os poemas
que seguem e, se os resultados que
apresento não forem capazes de
convencer o leitor da qualidade do
poeta, talvez valha a pena levar em
consideração que não considero
nem sequer um segundo dos que
lhe dediquei perda de tempo. Pelo
contrário.
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