ANDRÉ BARCINSKI
CRÍTICO DA FOLHA

A corrida pelo título de pior filme de 2010, que tinha o italiano "Ah... o Amor!" disparado na frente, ganha um candidato de peso: "Ninja Assassino". Produzido pelos irmãos Wachowski ("Matrix") e dirigido por James McTeigue ("V de Vingança"), é um videoclipe sanguinolento com algumas das cenas mais sádicas e brutais dos últimos tempos. Uma orgia de membros decepados e cachoeiras de sangue que fazem Van Damme parecer Jane Austen.
Os problemas já começam no título: por que "assassino"? Seria para diferenciar esse ninja dos ninjas que se dedicam a outras atividades, como botânica ou design de interiores?
O título não deixa dúvida: esse ninja mata. Interpretado pelo astro pop coreano Rain, uma espécie de Backstreet Boy de Seul, Raizo é um ninja em crise de consciência. Depois de matar umas 500 pessoas durante seu treinamento de "ninja assassino", ele subitamente decide que aquilo tudo é errado e ataca seu mestre, um sádico que gosta de chicotear crianças nas solas dos pés.
Raizo foge do clã e é jurado de morte. Acaba em Berlim, onde uma linda detetive (Naomie Harris, a Tia Dalma de "Piratas do Caribe") investiga a contratação de ninjas assassinos para matar chefes de Estado. Juro.
Esse fiapo de história é só um pretexto para intermináveis cenas de lutas, na maioria copiadas de "Matrix" (McTeigue foi assistente dos irmãos Wachowski) e apimentadas por uma violência de desenho animado. Raizo corta ao meio literalmente seus inimigos, usando espadas, adagas, correntes, estrelas de metal e qualquer apetrecho mortal que caia em suas mãos. Como ator, Rain é um minimalista. Ele tem duas expressões: angustiado e muito angustiado.
"Ninja Assassino" parece um video game, com edição epiléptica e uma trilha sonora ribombante que não dá trégua ao cérebro. Numa das cenas mais aflitivas, mostra duas crianças de oito anos se esmurrando numa briga sangrenta. Enfim, um filme que consegue transformar uma noite no cinema numa experiência desagradável.