São Paulo, sábado, 05 de fevereiro de 2011

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CRÍTICA CRÔNICA

"A Beleza e o Inferno" soma lirismo ao comprometimento social de Saviano

JOCA REINERS TERRON
ESPECIAL PARA A FOLHA

Os livros anteriores de Roberto Saviano, "Gomorra" e "O Contrário da Morte", já haviam demonstrado que seu autor era um jornalista comprometido com a denúncia social, uma espécie de ativista movido por profundas convicções humanistas e muito colhão.
Como tal, "A Beleza e o Inferno" comprova esse comprometimento ético e insinua suas origens em certo lirismo à italiana por meio de relações que surgem a partir de citações/lições dos mestres Primo Levi (1919-1987), Benedetto Croce (1866-1952), Danilo Dolci (1924-1997) e de outros estrangeiros, tais como Albert Camus (1913-1960), Truman Capote (1924-1984) e, surpreendentemente, Lionel Messi.
Lionel Messi? Sim: Saviano é calabrês, portanto ama Maradona e, por extensão, argentinos em geral.
O livro reúne textos curtos publicados na imprensa, em sua maioria nos jornais "La Repubblica" e "L'Espresso" entre 2004 e 2009.
Organizados em cinco partes intituladas "Sul", "Homens", "Business", "Guerra" e "Norte" (títulos bastante autoexplicativos, diga-se), os artigos dividem-se entre a artilharia leve disparada contra a camorra napolitana que fez a glória e a miséria de Saviano ("Carta à Minha Terra", por exemplo, narra a sequência de 16 assassinatos cometidos por seis mafiosos na periferia de Lago Patria, sul da Itália), e se estendem a discursos, resenhas e perfis.
A diversidade poderia enfraquecer o conjunto (que poderia ser confundido com uma recolha de textos desimportantes para suprir a ânsia do mercado editorial), mas isso não ocorre. Saviano concilia fatura ágil, informação privilegiada e certo tom dramático que terminam por validar o livro, além de valorizar o leitor.

CRUELDADE Sob tal variedade, o tema comum da crueldade da pobreza, do crime e do combate do mal através da arte. Ao mesmo tempo que relata como construtoras aliadas a políticos corruptos e mafiosos faturaram indiscriminadamente em cima da fatalidade alheia após o terremoto de 2006 na região de Abruzzo, Saviano revela homens que forjaram seu caráter e seu talento na adversidade, como Michel Petrucciani e seus ossos de cristal, ou então o craque Messi e sua luta contra o nanismo causado pela deficiência hormonal.
Ambos os perfis são inspiradores, característica que Saviano indisfarçadamente busca imprimir aos textos.
Por meio deles, parece ilustrar o verso do educador Danilo Dolci (1924-1997) que funciona como mote de seu pensamento: "Cada um só cresce se for sonhado".
Os textos de Saviano funcionam como despertadores para seus contemporâneos, acreditando que, como um dia nasce atrás de outro dia, a vida pode recomeçar.

JOCA REINERS TERRON é autor de "Do Fundo do Poço se Vê a Lua" (Companhia das Letras)

A BELEZA E O INFERNO
AUTOR Roberto Saviano
EDITORA Bertrand Brasil
TRADUÇÃO Karina Jannini
QUANTO R$ 39 ( 294 págs.)
AVALIAÇÃO ótimo



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