São Paulo, Sexta-feira, 05 de Fevereiro de 1999
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A melhor opção é usar a adega de casa

JORGE CARRARA
Colunista da Folha

Em meio à turbulência econômica que fez o dólar disparar e conseguiu o fato inédito de, num intervalo de pouquíssimos dias, guindar para o cargo e botar na rua uma figura importante como o presidente do Banco Central, nem todas as notícias são más para o mundo do vinho.
O pior aspecto para os súditos de Baco está na repentina dor no bolso. Infelizmente, por causa da queda do real, os vinhos subiram (bastante) de preço. A parte positiva é que, provavelmente, dada a visão da situação atual e o posicionamento de alguns importadores, as garrafas não ficaram tão caras como se imaginava.
Na opinião do empresário Ciro Lilla, proprietário da Mistral Importadora, após a liberação do câmbio "se esperava que o dólar ficasse em torno de R$ 1,50, fazendo apenas com que o público optasse por vinhos mais baratos". Mas, segundo Lilla, se a moeda americana se mantiver próxima dos R$ 2, o consumo deve cair drasticamente.
Para evitar isso de maneira inteligente (já que o mar globalizado, definitivamente, não está para peixe), a Mistral e outras importadoras, como a Maison du Vin e a Expand, decidiram utilizar uma taxa própria de R$ 1,49 por dólar, evitando repassar por completo aos seus clientes a pancada cambial.
"É preciso manter o mercado ativo apesar das dificuldades, evitando que o consumidor desista do produto", explica Elidio Lopes, diretor comercial da Expand. Lopes prevê que o mercado deve se tranquilizar dentro de 90 dias e, para manter as vendas ativas no período, planeja ainda uma promoção em que uma partida de vinhos da importadora será vendida com o preço do dólar de dezembro.
As alterações no câmbio devem talvez mudar este ano o perfil dos importadores. Para Amauri de Faria, proprietário da Cellar, 99 não deve ser um ano de muitas novidade-dado o clima de incerteza, a introdução de novos produtos não deve ficar em primeiro plano.
De acordo com Jaques Trefois, da Vinum, a tendência deve ser aumentar a oferta de vinhos com boa relação entre preço e qualidade, na tentativa de atender um mercado que procura cada vez mais um melhor retorno para o dinheiro.
Para quem está do outro lado do balcão, apenas um conselho: muita calma. Mais do que nunca, antes de comprar é preciso pesquisar bastante. Procure em lojas e supermercados (o Pão de Açúcar, por exemplo, deixou inalterados os seus preços) garrafas que não foram remarcadas (veja quadro nesta página). Evite, até a situação se estabilizar, as importadoras que usam a taxa de dólar do mercado.
Se você tiver adega, está no melhor dos mundos. Este é o momento para guardar seus reais e aproveitar calmamente o estoque de garrafas, bebendo bons goles enquanto aguarda a poeira abaixar.


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