São Paulo, sábado, 05 de março de 2005

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Autor de "Sobre Meninos e Lobos" diz que policiais estão no auge

DA REPORTAGEM LOCAL

Qualquer mapa da melhor nova ficção inclui um alfinete espetado num subúrbio de Boston (EUA). É de lá, da pequena e barra-pesada Dorchester, que vem um dos textos mais afiados do romance detetivesco contemporâneo.
Dennis Lehane tem 40 anos incompletos, sete livros publicados, 108 mil menções no site Google e um contrato de US$ 3 milhões com sua editora americana.
Não seria preciso convocar a dupla de detetives Patrick Kenzie e Angela Gennaro, estrelas de cinco dos livros do escritor, para entender o sucesso de Lehane.
Ele pode ser dividido em a.C e d.C: antes de Clint e depois de Clint. Eastwood, o mais recente oscarizado, foi o grande amplificador das histórias muitos bem talhadas do escritor. Sua adaptação de "Sobre Meninos e Lobos" fez com que a já bem-sucedida ficção de Lehane estourasse.
No Brasil não foi diferente. Luiz Schwarcz, editor da Companhia das Letras, diz que dos quase 30 escritores da sua série policial só a veterana britânica P.D. James e a revelação brasileira Luiz Alfredo Garcia-Roza rivalizam em vendas com Lehane. A editora publicou quatro títulos do autor de Boston, o mais recente deles "Gone, Baby, Gone" (assim, em inglês mesmo).
Lehane diz que não comenta as qualidades ou defeitos de sua ficção. Mas em entrevista à Folha falou com generosidade sobre seus colegas e definiu a literatura policial de hoje como a de "maior qualidade de todos os tempos".
"Muitos escritores adotaram o gênero policial porque eles estavam cansados do pós-modernismo e do pós-estruturalismo que guiavam muito da ficção americana", opina Lehane por e-mail.
Mas na visão dele esses autores mais sofisticados não se contentaram também com os modelões antigos. "Eles aplicaram diversos princípios estéticos de fora e acabaram tirando o gênero do gueto dos tiroteios banais e das filosofias à "heroísmo é igual a justiça'".
Os autores que protagonizaram esse movimento são muitos, para Lehane. Dos mais rodados, sublinha seus dois "mestres". Richard Price e seu romance "Clockers" (também em inglês na edição da Rocco) e James Crumley.
O favorito do escritor, no entanto, é o rapaz aqui ao lado. "George Pelecanos é provavelmente o maior escritor policial vivo atualmente", crava à Folha. Cita ainda Michael Connelly, SJ Rozan, Nicola Griffith, Laura Lippman, Rob Rueland e GM Ford.
Mas Lehane confessa. "Hoje raramente leio policiais. Meu autor predileto atual é Gabriel García Márquez." Graham Greene, Don DeLillo e J.M. Coetzee também saem com gosto da estante.
Nenhum deles, porém, cumpre uma função que ele atribui aos policiais. "A literatura de crime substituiu o romance social como o lugar por excelência das doenças de nossa sociedade." Em "Gone, Baby, Gone" ele discute uma dessas "doenças", já abordada em "Sobre Meninos e Lobos", a violência contra crianças.
"Os abusos, com a pobreza extrema, são os principais responsáveis por comportamentos criminais. No meu bairro, apenas eu e três de meus amigos escapamos desse universo. Tenho o mais profundo ódio por qualquer um que abuse dos que não podem se proteger. Eu tendo à esquerda na maior parte das questões sociais, mas, quando a coisa vai para abuso sexual de crianças ou mulheres, eu defendo a prisão perpétua." (CASSIANO ELEK MACHADO)


Gone, Baby, Gone
Autor:
Dennis Lehane
Tradução: Luciano Vieira Machado
Editora: Companhia das Letras
Quanto: R$ 44,50 (472 págs.)


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