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Autor de "Sobre Meninos e Lobos" diz que policiais estão no auge
DA REPORTAGEM LOCAL
Qualquer mapa da melhor nova
ficção inclui um alfinete espetado
num subúrbio de Boston (EUA).
É de lá, da pequena e barra-pesada Dorchester, que vem um dos
textos mais afiados do romance
detetivesco contemporâneo.
Dennis Lehane tem 40 anos incompletos, sete livros publicados,
108 mil menções no site Google e
um contrato de US$ 3 milhões
com sua editora americana.
Não seria preciso convocar a
dupla de detetives Patrick Kenzie
e Angela Gennaro, estrelas de cinco dos livros do escritor, para entender o sucesso de Lehane.
Ele pode ser dividido em a.C e
d.C: antes de Clint e depois de
Clint. Eastwood, o mais recente
oscarizado, foi o grande amplificador das histórias muitos bem
talhadas do escritor. Sua adaptação de "Sobre Meninos e Lobos"
fez com que a já bem-sucedida
ficção de Lehane estourasse.
No Brasil não foi diferente. Luiz
Schwarcz, editor da Companhia
das Letras, diz que dos quase 30
escritores da sua série policial só a
veterana britânica P.D. James e a
revelação brasileira Luiz Alfredo
Garcia-Roza rivalizam em vendas
com Lehane. A editora publicou
quatro títulos do autor de Boston,
o mais recente deles "Gone, Baby,
Gone" (assim, em inglês mesmo).
Lehane diz que não comenta as
qualidades ou defeitos de sua ficção. Mas em entrevista à Folha falou com generosidade sobre seus
colegas e definiu a literatura policial de hoje como a de "maior
qualidade de todos os tempos".
"Muitos escritores adotaram o
gênero policial porque eles estavam cansados do pós-modernismo e do pós-estruturalismo que
guiavam muito da ficção americana", opina Lehane por e-mail.
Mas na visão dele esses autores
mais sofisticados não se contentaram também com os modelões
antigos. "Eles aplicaram diversos
princípios estéticos de fora e acabaram tirando o gênero do gueto
dos tiroteios banais e das filosofias à "heroísmo é igual a justiça'".
Os autores que protagonizaram
esse movimento são muitos, para
Lehane. Dos mais rodados, sublinha seus dois "mestres". Richard
Price e seu romance "Clockers"
(também em inglês na edição da
Rocco) e James Crumley.
O favorito do escritor, no entanto, é o rapaz aqui ao lado. "George
Pelecanos é provavelmente o
maior escritor policial vivo atualmente", crava à Folha. Cita ainda
Michael Connelly, SJ Rozan, Nicola Griffith, Laura Lippman, Rob
Rueland e GM Ford.
Mas Lehane confessa. "Hoje raramente leio policiais. Meu autor
predileto atual é Gabriel García
Márquez." Graham Greene, Don
DeLillo e J.M. Coetzee também
saem com gosto da estante.
Nenhum deles, porém, cumpre
uma função que ele atribui aos
policiais. "A literatura de crime
substituiu o romance social como
o lugar por excelência das doenças de nossa sociedade." Em "Gone, Baby, Gone" ele discute uma
dessas "doenças", já abordada em
"Sobre Meninos e Lobos", a violência contra crianças.
"Os abusos, com a pobreza extrema, são os principais responsáveis por comportamentos criminais. No meu bairro, apenas eu e
três de meus amigos escapamos
desse universo. Tenho o mais
profundo ódio por qualquer um
que abuse dos que não podem se
proteger. Eu tendo à esquerda na
maior parte das questões sociais,
mas, quando a coisa vai para abuso sexual de crianças ou mulheres, eu defendo a prisão perpétua."
(CASSIANO ELEK MACHADO)
Gone, Baby, Gone
Autor: Dennis Lehane
Tradução: Luciano Vieira Machado
Editora: Companhia das Letras
Quanto: R$ 44,50 (472 págs.)
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