São Paulo, sábado, 05 de março de 2005

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MÚSICA

Artistas se apresentam no Itaú Cultural até o dia 13

Projeto congrega em São Paulo a diversidade de ritmos do país

JANAINA FIDALGO
DA REDAÇÃO

Ser um país musical não livra o Brasil da pecha de desconhecer o que é produzido em seu território. Ser figura conhecida no Piauí não garante reconhecimento no Rio. O mesmo vale para os músicos paulistas conhecidos em seu Estado que passam batido no Acre.
Ou passavam. Ao mapear a produção musical brasileira, o Rumos Música, do Itaú Cultural, traz à luz 50 artistas que representam um pouco do que tem sido feito no país afora. Sem impor restrições quanto à idade ou estilo musical, o programa mapeia desde a produção regional até a urbana -dá espaço ao coco, ao samba, à eletrônica e ao instrumental.
"Não interessa se o disco já saiu. O que consideramos é a necessidade de fazer com que o que já existe possa circular e ser conhecido no Brasil", diz o coordenador do Rumos Música, Edson Natale.
Dos 1.410 inscritos com duas músicas no programa, os 50 escolhidos passaram por um processo iniciado em maio de 2004, com três fases: mapeamento, formação e difusão. Esta última fase começa hoje com a apresentação da primeira bateria -16 artistas tocam até o dia 13 no Itaú Cultural.
"Se é feita com Fusca ou pelos indígenas, é uma questão irrelevante. O que importa é que é a música feita no Brasil hoje", diz Natale.
Quando fala do som do fusca, o coordenador se refere ao percussionista carioca Ricardo Siri, que tira sonoridades, digamos, inusuais, de objetos urbanos como o motor de um carro. O regional está representado por nomes como o da compositora piauiense Maria da Inglaterra, 66, que desembarca amanhã pela primeira vez em São Paulo, onde mostra nove das 1.252 canções que já compôs.
"Faz tempo que eu luto pela música, mas aqui na minha terra artista para se levantar é difícil."
Analfabeta, é com o auxílio de um gravador que a piauiense compõe as músicas arranhadas no violão. "Na marra", gravou o CD "Canta Maria" (2002).
Maria da Inglaterra sobe amanhã, às 19h30, ao mesmo palco do Barbatuques, grupo paulistano que "canta" com o corpo, já bem conhecido por estas bandas.
O eletrônico marca presença pelas mãos do paulistano Loop B, 50. Na quarta, às 19h30, ele mostra algumas canções do disco "A Música Toca" (2003). Convidado para fazer um "pocket show" em Brasília, Loop B comemora os louros do Rumos.
"Uma coisa legal é a repercussão que isso está dando. Dá um aval ao nosso trabalho", diz, citando a divulgação no site da instituição do currículo de todos os artistas -em quatro línguas.
Outro meio de divulgação é o lançamento, previsto para maio, de uma caixa de CDs com distribuição gratuita em centros culturais, emissoras de rádio e TV educativas e rádios dedicadas à música brasileira no exterior. Uma parceria com as gravadoras permitirá a comercialização dos CDs.
"Queremos que o Rumos seja um espaço de reflexão sobre as condições necessárias para a cultura acontecer", diz Eduardo Saron, superintendente de atividades do Itaú Cultural.

Artes visuais
A partir de segunda, o Rumos recebe as inscrições de profissionais de arte contemporânea (até 1º/6), com carreira iniciada a partir dos anos 90 e que tenham projetos inéditos, e de educação não-formal (até 22/6), que trabalhem com cultura e arte. Os formulários estarão disponíveis no site (www.itaucultural.org.br).
A intenção, diz Saron, é entender o que o país está fazendo e dar luz às experiências positivas.
"Hoje, há centros culturais e de arte fervilhando de iniciativas locais", diz a coordenadora curatorial desta edição, Aracy Amaral.
"Daí por que sou otimista em relação ao futuro cultural do Brasil. É salutar estimular as iniciativas regionais, pois elas assinalam a inquietação, o desejo de se reconhecer através de seus artistas."


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