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LIVROS
NOVO JORNALISMO
Coletânea lembra textos de Hunter Thompson e Capote
Estilo de Wolfe, "Balzac de NY", dá saudade, mas não tem volta
Reprodução
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Panteras Negras, em Nova York (EUA), militantes que foram retratados em "Radical Chique" |
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
ESPECIAL PARA A FOLHA
O lançamento de "Radical
Chique e o Novo Jornalismo", uma coletânea de textos diversos antes publicados em três livros de Tom Wolfe, e a morte de
Hunter Thompson fizeram com
que muitos jornalistas brasileiros
refletissem sobre um dos movimentos mais importantes da história de sua profissão: o novo jornalismo, do qual Wolfe e Thompson foram expoentes.
Manifestação típica da inquietação cultural das décadas de 1950 e
1960 nos EUA, o novo jornalismo
teve repercussão mundial, como
seus assemelhados contemporâneos de outras áreas de manifestação artística ou intelectual.
A idéia era basicamente que o
repórter tivesse grande (ou total)
liberdade estilística para contar
suas histórias, fugir dos padrões
convencionais do texto jornalístico, enriquecê-lo com recursos antes considerados exclusivos da
ficção. Mas era preciso manter fidelidade (embora não necessariamente absoluta) aos fatos reais
apurados pelo jornalista.
O apelido de "Balzac da Park
Avenue" dado a Wolfe era bastante apropriado. O francês foi
uma espécie de precursor do novo jornalismo, com a descrição
atilada e elegante que fez dos salões de Paris da primeira metade
do século 19, similar à que Wolfe
fez da Nova York da segunda metade do século 20.
O livro é mais um excelente serviço que a coleção Jornalismo Literário presta à profissão no Brasil. É fundamental para os que a
praticam conhecer os grandes
textos que a tornaram, mais do
que socialmente relevantes, culturalmente aprazíveis.
A admiração por Wolfe,
Thompson, Truman Capote e outros, no entanto, não deve levar a
conclusões irreais e saudosistas
do tipo "é de reportagens do tipo
"A Garota do Ano" ou "A Sangue
Frio" que o jornalismo precisa para superar sua crise".
Em primeiro lugar, o novo jornalismo foi um fenômeno que
-apesar de ter provocado efeitos
em diversos países, inclusive o
Brasil- dificilmente poderia se
reproduzir com intensidade similar à que teve nos EUA fora daquele país e daquela época.
Tratava-se de uma produção
dispendiosa, só sustentável por
uma indústria abastada. Esse foi
um dos motivos pelos quais ele jamais se aproximou no Brasil da
envergadura que teve nos EUA.
Apesar de alguns jornalistas e veículos terem produzido reportagens memoráveis que nada deviam em talento às dos mestres.
Para citar apenas uma pessoa, sob
o risco de cometer injustiças,
Marcos Faerman.
Mas o sucedâneo do movimento no Brasil foi, sem dúvida, constituído de peças muito mais isoladas do que as que formaram o original americano, as quais já eram
ostensivamente exceções à regra.
Além da dificuldade material de
sustentar reportagens desse gênero -que se agravou a níveis muito mais intensos-, houve alterações profundas no mercado e nos
hábitos dos consumidores de informação, que tornam complicada a aceitação de produtos como
essas grandes reportagens na mídia impressa. Por isso, vale ler
Wolfe em livro. Mas não se deve
alimentar ilusões sobre o retorno
de seu estilo aos jornais e revistas.
Carlos Eduardo Lins da Silva é jornalista e diretor da Patri Relações Governamentais e Políticas Públicas
Radical Chique e o Novo Jornalismo
Autor: Tom Wolfe
Editora: Companhia das Letras
Quanto: R$ 39 (248 págs.)
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