São Paulo, domingo, 05 de março de 2006

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JACK NÃO MORREU

À Folha, o ator conta como o 11/9 quase impediu a produção da série e diz que pretende fazer um filme em "tempo real"

Sutherland quer levar "24 Horas" ao cinema

DO ENVIADO A LOS ANGELES

Kiefer Sutherland primeiro bota seu personagem para salvar o mundo, depois corre atrás de dinheiro para bancar bandas de rock e sua coleção de guitarras Gibson.
Em uma sessão de entrevista para a imprensa mundial, da qual a Folha participou em Los Angeles, o ator conta de seu hobby "agora profissão", de como "24 Horas" mudou sua vida e do longa-metragem que vai fazer a partir da série.
Numa compilação das perguntas da entrevista, as feitas pela reportagem da Folha, Sutherland disse o seguinte:
(LÚCIO RIBEIRO)
 

Folha - Como "24 Horas" mudou sua vida como ator? Você, que faz muito cinema, não tem medo de ficar estigmatizado como o durão Jack Bauer mesmo fazendo o papel de um professor de jardim de infância?
Kiefer Sutherland -
De modo algum. Estou muito satisfeito com a projeção que me deu e com o resultado que a série está alcançando. Sempre apostei muito nessa série, e fizemos um esforço sobre-humano para que ela pelo menos fosse ao ar do jeito que imaginávamos, numa época difícil para falar em terrorismo.
Se ficarei marcado em qualquer trabalho que eu vá fazer no futuro, esse é um bom preço a pagar para um papel que me deu dinheiro e prestígio. Mas não acho que vou ficar tão marcado assim como agente secreto. Já fiz papel de terrorista e, em "The Sentinel", no qual trabalho com o Michael Douglas, se você olhar bem ele é o Jack Bauer da história.

Folha - A série quase não foi ao ar por causa dos atentados de 11 de Setembro. Como você convenceu os diretores da Fox a exibi-la mesmo com aquele clima de terror que se abateu no país?
Sutherland -
A história foi assim: tínhamos cinco episódios prontos, e a série estava marcada para estrear em outubro, quando aqueles eventos aconteceram. Nos primeiros episódios de "24 Horas", também ocorria um acidente de avião provocado por terroristas.
Era tudo complicado, porque a série era projetada para durar longos 24 episódios obrigatoriamente, com um tema daqueles, com um formato daqueles. Não sabíamos o que ia acontecer. Mas fizemos algumas reuniões e decidimos apostar no projeto porque acreditávamos nele, já tínhamos botado muito de nossas vidas nele e não podíamos ficar amarrados tanto a acontecimentos cotidianos. Filmes de guerra continuam sendo filmados quando existe guerra acontecendo.

Folha - O formato da série, de acontecimentos em tempo real, não exclui o telespectador que perde um episódio e já não consegue mais acompanhar a série depois?
Sutherland -
Entendo o que você fala, mas tenho uma posição contrária quanto a isso. Quando você perde um episódio de "Law & Order", ou de outra série com história seqüencial, você não deixa necessariamente de assisti-la. E com "24 Horas", pelo o que sabemos, acontece o fenômeno inverso.
Quando uma pessoa perde um episódio, ela se programa para ver uma reprise, assiste pela internet, espera o DVD. Pessoas com uma energia assim a gente não perde. Ela contagia os que não vêem o seriado e nos faz ganhar novos admiradores.

Folha - "24 Horas", o filme, vai mesmo acontecer? Já tem nome?
Sutherland -
Estamos bastante empenhados em que ele seja realizado. O projeto, no momento, se chama exatamente "24 - The Movie", mas não sei afirmar se o título realmente vai ser esse.
E, pessoalmente, acredito que séries como "E.R" e "Law & Order", com enredos belíssimos e vivos, dariam excelentes filmes.
Não acho que tenhamos que fazer um filme de "24 Horas" com 100% dos elementos do seriado. Podemos fazer com uma estrutura bastante distinta, personagens diferentes, mais problemas mundanos do que cruciais para a nação. E ainda assim fazer um bom filme. Assim, o filme não seria uma coisa definitiva, que matasse a série da TV.
Também não acho impossível construir um "tempo real" dentro de uma história de duas horas. Temos roteiristas capazes de fazer isso. Mais alguns meses e, acredito, teremos o projeto do filme mais claro nas nossas mãos.

Folha - Você tem uma coleção de 20 guitarras Gibson e agora fundou um selo de rock. A música tem uma importância tão grande para você quanto atuar?
Sutherland -
Sempre tive paixão por música. Gosto de vários estilos e sei tocar guitarra um pouco, até hoje tomo lições, mas não me arrisco em público. Como eu nunca desejei tocar em uma banda e ainda assim queria ficar ligado à música de algum modo, eu e um parceiro [Jude Cole] montamos um estúdio, o Ironworks, para ajudarmos jovens artistas de Los Angeles, que têm poucas oportunidades de aparecer num mercado tão exclusivista como o da indústria musical.
Vamos lançar um álbum de uma banda chamada Rocco DeLuca and the Burden já em março, e eu considero sensacional, mas sou suspeito para dizer. No final do ano eles fizeram uns poucos shows na Europa, em países como a Inglaterra, e eu os acompanhei, dando uma de "tour manager". Foi uma experiência eletrizante e acho que, para eles, o futuro vai ser muito bom.


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