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Convidado para dar cara nova à festa, o humorista Jon Stewart leva piada a sério e não poupa Bush
A política do Oscar
LUCIANA COELHO
DA REPORTAGEM LOCAL
De apresentador novo e com
uma lista atípica de filmes indicados, não é só uma injeção de ânimo que a cerimônia do Oscar recebe nesta noite. É de política. Hoje Hollywood enterra de vez o fantasma do 11 de Setembro, que nos
últimos quatro anos tomou a indústria cinematográfica americana e a levou a apelar para fantasias
escapistas, evitando focar assuntos "delicados".
Mais que caubóis gays, conflito
israelo-palestino e libelos contra
tentativas do governo de controlar a mídia, é a escolha do humorista Jon Stewart como apresentador que faz do Oscar deste ano o
mais político dos últimos tempos.
E George W. Bush que se cuide.
Diariamente à frente de um
misto de "talk show" com sátira
de noticiário, Stewart se viu catapultado ao sucesso depois da
mordaz cobertura que fez da eleição presidencial de 2004 -quando pesquisas chegaram a apontar
seu programa como principal
fonte de informação política dos
americanos de até 29 anos.
No ano passado, o humorista
foi apontado como uma das "100
pessoas mais influentes" pela revista "Time". Isso tudo bem longe
de uma grande rede de TV -seu
"Daily Show" é exibido por um
pequeno canal a cabo, a Comedy
Central. (No Brasil, vai ao ar pela
CNN nas noites de sexta-feira).
"Como espectador de carteirinha do Oscar, fiquei meio decepcionado com a escolha", disse o
comediante ao ser indagado sobre sua reação ao saber que seria o
principal anfitrião no palco do
Kodak Theatre, em Los Angeles.
A grande pergunta é se Stewart
conseguirá agradar aos telespectadores estrangeiros, já que o Oscar é uma cerimônia, segundo
seus organizadores, vista por 1 bilhão de pessoas no mundo todo.
Sem se conformar com a alienação política do americano médio,
fez de seu alvo preferido a Casa
Branca. A começar pela expressão
aparvalhada de Bush durante entrevistas coletivas e debates, nada
passa incólume pela língua afiada
de Stewart. Para esta noite, pode-se esperar menções ao caos instaurado no Iraque e aos protestos
que receberam Bush em sua visita
à Índia. Os tiros de chumbo que o
vice-presidente Dick Cheney andou disparando por engano em
um colega de caça há algumas semanas e o primeiro Carnaval pós-furacão em Nova Orleans também são material tentador.
Rejuvenescimento
A chegada de Stewart é uma cartada mais alta para atrair espectadores jovens. O apresentador do
"Daily Show" é popular na faixa
dos "até 30 anos" -o que não
ocorre com seus predecessores
Billy Cristal e David Letterman,
cujo auge foi nos anos 80.
A tentativa de rejuvenescimento já foi feita em 2005 com Chris
Rock, ex-membro do humorístico "Saturday Night Live" e a voz
da zebra da animação "Madagascar". Mas a performance de Rock,
centrada em piadas anti-racistas,
não agradou. Tampouco ajudou a
brincadeira que ele fez sobre faltar
fama ao ator Jude Law, um dos indicados, que acabou em bate-boca com o colega Sean Penn.
Embora o despudor de Stewart
seja tão grande quanto o de Rock,
ele vem respaldado por uma sagacidade consideravelmente maior.
Nascido em Nova Jersey, o comediante se formou em psicologia e tentou a sorte com shows de
humor em teatros nova-iorquinos até chegar à MTV em 1993,
onde apresentou por pouco tempo um "talk show". Após algumas
incursões medíocres pelo cinema
em filmes como "O Paizão"
(1999), foi parar no "Daily Show",
um programa elogiado pela crítica, mas então pouco conhecido.
Agora, com três Emmy (o "Oscar" da TV) de melhor programa
de variedades na estante, é cotado
para substituir David Letterman
na CBS, um dos três grandes canais abertos dos EUA. Em entrevistas a respeito, diz temer que o
trabalho em uma grande TV comercial lhe tire a liberdade.
Que o Oscar não faça o mesmo.
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