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"Brokeback Mountain"
é favorito convencional
AMIR LABAKI
ARTICULISTA DA FOLHA
"O Segredo de Brokeback
Mountain" é favoritíssimo a
levar hoje o Oscar principal. Conquistou o maior número de indicações (oito), acumulou uma dupla vitória nas associações de produtores e de diretores, venceu o
Globo de Ouro, conquistou o
Leão de Ouro em Veneza-2005.
Mas, se confirmado, será um
Oscar conservador, ao menos do
ponto de vista cinematográfico.
"Brokeback Mountain" deverá
triunfar não por suas qualidades,
e elas existem, mas devido à sua
maior fragilidade. Ang Lee limitou-se ao melodrama convencional. Um casal contra o mundo,
amplas paisagens, música enobrecedora, largo arco temporal,
narrativa lenta -em resumo, um
épico do amor impossível.
A Academia adora a fórmula e
suas variações. Exemplos recentes? "Laços de Ternura" (1983),
"Entre Dois Amores" (1985), "Titanic" (1997). OK, mas se trata de
um par romântico homossexual,
em pleno território mítico da
identidade americana -o universo dos caubóis. Boa sacada:
ponto para Ang Lee e para o conto
original de E. Annie Proulx. Mas o
filme explora de forma tímida o
arrojado ponto de partida.
Estabelecido o silencioso pacto
amoroso entre Ennis (Heath
Ledger) e Jack (Jake Gyllenhaal), nada se desenvolve com
a complexidade dramática potencial. Ambos poderiam ser
enigmáticos não fossem sobretudo rasos, apesar de seus intérpretes defenderem-nos com brio.
As famílias que formam são esboços, transformado em mero clichê
no caso da de Jack.
A breve e tocante seqüência final é a exceção, indicando a força
emocional desperdiçada no conjunto do filme. A grandiosidade
pisca para "Brokeback Mountain" naquele curto encontro.
A consagração do filme, mais
que romper, parece inverter o
preconceito. Um drama "gay" finalmente alcançou o "mainstream" cinematográfico. Só nos
caberia aplaudi-lo. Ou não. Seria
ceder à condescendência e ao
oportunismo. Até para com Ang
Lee. Ele já abordara, com maior
equilíbrio, terreno similar em
"Banquete de Casamento" (1993).
Mais: no mesmo universo dos
indicados ao Oscar deste ano, há
outro filme a lidar com a homossexualidade com muito maior
maturidade e sutileza. "Capote"
apresenta meios-tons e subentendidos nas duas relações centrais
do escritor, com seu parceiro Jack
Dunphy (Bruce Greenwood) e
com um dos assassinos, Perry
Smith (Clifton Collins Jr.), que
"Brokeback" jamais chega a arranhar. A batalha pelos direitos dos
homossexuais é uma nobre luta
pelo respeito à liberdade e à diferença. "Capote" a serve muito
melhor do que "Brokeback".
Premiar o desempenho quase
mediúnico de Philip Seymour
Hoffman como o autor de "A
Sangue Frio" é fácil. Preferir os
desajustados de Miller aos de Lee
seria muito mais incômodo.
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