São Paulo, segunda-feira, 05 de abril de 2004

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CRÍTICA

Tchau, MPB individualista

DO ENVIADO AO RIO

Não chega a ser novidade um encontro entre o compenetrado Ney Matogrosso e os festivos Pedro Luís e A Parede. Os rapazes sempre tiveram o apoio do roqueiro tropicalista rebelde andrógino dos anos 70 -Ney participou do disco de estréia da Plap, gravou canções de Pedro Luís, falou bem dos pupilos por aí.
Para a banda, que demorou para conseguir se inserir no pop nacional e tem três álbuns incisivos em seu breve histórico, o encontro chega até a ser um perigo.
Em compensação, a soma de talentos díspares vem sendo um dos poucos sopros de ar num ambiente musical abafado. Iniciativas como a de "Vagabundo" determinam concessões a seus participantes, mas derrubam paredes de uma MPB que ficou seca, apática, individualista demais.
Os autores "malditos" selecionados para "Vagabundo" são seu maior trunfo. Poesia pop transborda da voz acalmada de Ney, especialmente quando canta mansidões tensas como "Tempo Afora" e "Finalmente". Pop combativo exala da batucada da Plap, particularmente às marteladas ácidas de "Jesus" e "Interesse".
A Parede se faz ponte entre a audácia dos anos 70 e a pertinácia dos 2000. E o disco flutua ao redor da releitura mais ou menos brilhante de "Assim Assado" (73). Ney vê nela um libelo disfarçado contra a ditadura -"fala da relação entre a polícia e as pessoas, tinha conteúdo político na época".
Nega um subtexto sexual, aquele que tem feito "Assim Assado" divertir pistas de dança atuais -de um embate entre o cidadão e o guarda no parque, uma coisa assim meio George Michael.
Cruzam-se na linha do tempo a transgressão solta (mas negada) do antes de Ney e o hedonismo contido (mas afirmado) do agora da Parede. Experimental, "Vagabundo" ainda é o meio-termo.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)


Vagabundo
   
Artistas: Ney Matogrosso & Pedro Luís e A Parede
Lançamento: Universal/Som Livre
Quanto: R$ 30, em média



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