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EXPOSIÇÃO/CRÍTICA
Arte bizantina é mensagem para Bush
GERALD THOMAS
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE NOVA YORK
Esse espaço é curto para explicar a complexidade étnica e
estética do Império Bizantino.
Então, vamos ao que interessa: a
exposição de arte bizantina do
Metropolitan Museum.
Como a época era das conquistas sangüinárias, há algo de muito
comum entre esse período e o que
o mundo de hoje vive, a era Bush.
E não posso mencionar todos os
intelectuais citando Harold
Bloom em sua introdução à nova
tradução de "Dom Quixote":
"Qual é o objeto verdadeiro na
questão de Dom Quixote? Essa
pergunta não tem resposta. Assim
como não temos resposta para os
motivos autênticos de Hamlet.
O(s) autor(es) não nos permite
saber". Bloom defende que ambos, Quixote e Hamlet, têm questões que reverberam muito além
do plausível. E assim é com a nossa era. Quem a entende? A coisa
mais engraçada na passeata no último dia 20 foi alguém vestido de
brócolis com a seguinte placa: "Se
o Iraque plantasse brócolis, a invasão não teria acontecido". Tão
simplista? Pode ser. Mas imagino
que os habitantes da era elizabetana também não agüentavam mais
a ilha britânica até Shakespeare
escrever sua mais autobiográfica
peça, "A Tempestade", quando
absolveu seus detratores e apontou para o futuro, para a Renascença, que aflorava como um sinal de que Deus existia acima de
tanta opressão.
Nessa exposição, a estética é sufocante. Tive que sair duas vezes
para respirar. Não porque a beleza era demais para mim; eram os
comentários dos convidados. Explico: "Byzantium, Faith and Power" é algo "demasiado" e é preciso ter estômago e preparo histórico. O que está exposto aqui sem
precedentes veio de países como
Montenegro, Croácia, Macedônia, enfim, o que chamávamos de
Iugoslávia e de Grécia.
Mas cair aqui pode ser uma armadilha para o desavisado, como
o colega de cigarro nas escadas no
Met. Eu provocava: "Por que está
aqui?". Afrouxando a gravata e
sem querer dizer com palavras, eu
entedia tudo. Ele não queria.
E o que tem a América para absorver do mundo bizantino? Nada ou pouco, infelizmente. Já Nova York é outra coisa, quem vive
aqui não é a América. Ainda sufocado pela exposição, procurei outra pessoa e perguntei sobre o Império Otomano. "What?". "Otomano" para eles deve ser uma
avenida no bairro de Queens como Utopia Avenue. "Veio ver a
exposição?", perguntei. "Sim, mas
vim pegar um pouco de ar... Tudo
me parece muito islâmico. O Met
quer promover a arte islâmica?
Eles não são nossos inimigos?"
Mas é importante notar que
nem sempre foi assim aqui, terra
de Jackson Pollock e Barnett
Newman; para onde veio Rothko,
De Kooning, Max Ernst e, o maior
de todos, Marcel Duchamp. Foi
aqui que Warhol acabou de vez
com os ícones. E foi aqui que houve tudo de bom e de mal porque
nem tudo é branco e nem tudo é
negro nesse espectro de cores que
nem sequer sabemos enxergar,
sabendo ver somente o momento.
E o momento é horrível: Bush
de um lado e Michael Jackson do
outro. Jackson é o espelho do que
vivemos aqui nessa pré-bizantina
sociedade, que nos vende algo
que ainda não somos e que nos
quer fazer pensar no que seremos:
o império mais potente do mundo. Talvez, por isso, a exposição
seja tão relevante para os poucos
que a entendem. Queda de império, sangue jorrando, mas a mensagem para Bush é uma só: "Tudo
aquilo que coube tão bem dentro
da lata de sopa Campbell, de Warhol, ícones e antiícones não podem morrer".
Gerald Thomas é diretor de teatro
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