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Festival sul-africano reflete jazz global
CARLOS CALADO
ENVIADO ESPECIAL À CIDADE DO CABO
Num auditório, sentado, o público escutava sofisticadas versões
de clássicos do jazz interpretados
pelo Quartet West, o grupo que o
contrabaixista norte-americano
Charlie Haden lidera há duas décadas. Lá fora, ao ar livre, uma
platéia bem maior dançava e cantava ao som de ritmos africanos
recriados pelo veterano cantor e
compositor Caiphus Semenya.
Assim terminou, na madrugada
do último domingo, a sétima edição do Cape Town International
Jazz Festival -evento que reuniu
durante três noites, na Cidade do
Cabo, 40 atrações de diversos gêneros musicais, com ênfase naqueles mais influenciados pelo
jazz ou pela rítmica africana.
A imagem proporcionada pelas
apresentações simultâneas de Haden e Semenya é reveladora da
nova ordem mundial que se instalou no jazz a partir da década de
80: hoje já não são mais os norte-americanos que comandam as
inovações e transformações nesse
globalizado gênero musical.
"Parece que a cultura dos Estados Unidos está paralisada", admitiu Haden. "Isso é muito triste
porque a juventude mundial é
muito influenciada pelo que se faz
nos EUA. E os jovens não pensam
mais, não são mais receptivos à
musica clássica, por exemplo."
Protagonista de outro concerto
bastante aplaudido no sábado,
que incluiu uma bela versão abolerada da clássica "You Don't
Know What Love Is", o pianista
cubano Chucho Valdés, também
falou sobre a globalização do jazz.
"O jazz já se internacionalizou e
deixou de ser um patrimônio norte-americano. Os polacos fazem
coisas tremendas, assim como os
húngaros e os russos. E, da mesma forma que Cuba, o Brasil é
uma das fontes mais importantes
da música atual", comentou.
Conhecida no Brasil apenas pelo hit "Phatha Phatha", a cantora
sul-africana Miriam Makeba é um
ídolo nacional em seu país. Não à
toa, sua apresentação no último
sábado foi assistida por quase 10
mil pessoas -a mais disputada.
"Estou cansada. Tenho 74 anos
e trabalho há muito tempo. Quero
parar porque meu corpo já não
agüenta mais", disse ela, em entrevista coletiva, horas antes do
show anunciado como o último
da turnê de encerramento oficial
de sua carreira.
Criado a partir do formato do
holandês North Sea Jazz Festival,
o festival da Cidade do Cabo utiliza cinco palcos simultâneos. E
provou neste ano que não deve
nada em estrutura e qualidade artística a eventos similares, como o
suíço Montreux Jazz ou o extinto
brasileiro Free Jazz. Bem organizado, o evento sul-africano não
deixa de incluir em sua programação nomes de expressão na cena internacional do jazz, como o
trompetista americano Terence
Blanchard. Mas o que diferencia o
Cape South Jazz Festival de seus
similares é justamente o elenco
com 50% de artistas africanos e
50% de outros países. Assim,
além de exibir artistas de talento
que não freqüentam o circuito
principal, como a cantora sueca
Viktoria Tolstoy, o evento ofereceu uma panorâmica musical do
que se faz nesse país.
Além de Caiphus Semenya,
também chamou a atenção o saxofonista moçambicano Moreira
Chonguiça, que funde ritmos locais com grooves do jazz contemporâneo. Ou ainda duas estrelas
sul-africanas: Tina Schouw, que
combina em seu repertório composições próprias com standards
do jazz, e Thandiswa, que mistura
ritmos afros com o gospel e o soul.
O crítico musical Carlos Calado viajou a convite da South Africa Airlines
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